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O livro “Pedagogia das Travestilidades”, da pesquisadora, pedagoga e ativista Maria Clara Araújo, ganhou uma nova versão traduzida para o inglês e o alemão. O projeto, financiado pela instituição cultural alemã Haus der Kulturen der Welt (HKW), teve seu lançamento no último sábado (18), em Berlim, capital da Alemanha.
Na obra, a autora analisa as intersecções entre educação, identidade e libertação dentro da comunidade travesti brasileira. A autora também critica as estruturas pedagógicas tradicionais que marginalizam narrativas de gênero e discute os impactos da discriminação sistêmica no bem-estar psicossocial das travestis.
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Mestre em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Maria Clara desenvolveu o livro a partir de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O projeto, iniciado ainda na graduação em Pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi publicado pela editora Civilização Brasileira em 2022.
Em entrevista à Alma Preta, a autora destacou o reconhecimento internacional da obra e o impacto de sua circulação fora do Brasil.
“A publicação e a tradução desse livro fortalecem a solidariedade entre movimentos trans em diferentes partes do mundo. A tradução de um livro escrito por uma travesti negra, que conta a história das travestis negras que construíram o movimento social no Brasil, é uma forma de contribuir para a luta de todas as pessoas, não apenas a nossa”, afirmou.
Nascida no Recife, Maria Clara se tornou uma das principais vozes intelectuais do movimento de mulheres travestis e transexuais no Brasil.
“Não apenas o meu trabalho, mas toda a produção intelectual de pessoas trans negras, travestis, mulheres e homens trans, tensiona as representações dessa figura idealizada do intelectual e questiona como os campos do conhecimento distribuem legitimidade e cientificidade, ainda marcadas por raça e identidade de gênero”, defendeu.
Em 2015, quando cursava a graduação na UFPE, Maria Clara foi a primeira travesti da história do curso, o que desencadeou uma discussão, já que a universidade ainda não possuía uma política de nome social para pessoas trans.
Tradução do livro para outros idiomas estabelece pontes
A tradução, realizada do português para o inglês por Natália Afonso, também se tornou um processo político e afetivo. Assim, a versão do livro em outros idiomas amplia o alcance do pensamento travesti e o reconhecimento para além do ambiente acadêmico brasileiro.
“O livro não apenas reconhece o trabalho histórico feito pelo movimento de travestis, mulheres e homens trans no Brasil, um trabalho que permitiu que uma nova geração, da qual faço parte, chegasse a espaços antes inimagináveis, como também afirma que pessoas trans e travestis produzem um conhecimento que contribui para a pluralização da universidade”, destaca Maria Clara.
Além de aproximar lutas políticas globalmente, a obra enfrenta o desafio de traduzir termos e conceitos como “travesti” em contextos linguísticos e políticos distintos.
“Esse projeto possibilita estabelecer pontes transnacionais de modo que os ativismos trans possam se comunicar e se manter em solidariedade uns com os outros, sem que a língua seja uma barreira. A tradução fortalece essa possibilidade de estabelecer e reforçar esses laços”, conclui a autora.



