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Durante a manhã, foram ouvidas três testemunhas de defesa: um policial que participou das investigações e dois familiares de Madalena. O júri é composto por sete pessoas, sendo quatro mulheres e três homens.
A produção da EPTV, afiliada da TV Globo, apurou que familiares se emocionaram quando o advogado de defesa dos acusados mostrou foto do crime. O julgamento estava em adamento até a última atualização desta reportagem.
Madalena, ex-vereadora de Piracicaba — Foto: Fernanda Zanetti/G1/Arquivo
Os detalhes sobre o motivo do crime estão na denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público (MP-SP), à qual o g1 teve acesso. Segundo o documento, Madalena era líder de um centro comunitário no bairro Boa Esperança, e um dos acusados pelo crime era seu "braço direito" nessa função.
No entanto, em determinada ocasião, houve um desentendimento entre os dois, e ele foi expulso da comunidade por Madalena, também conforme as apurações.
Familiares de Madalena em frente ao Fórum de Piracicaba durrante júri em 19 de novembro de 2025 — Foto: Edijan Del Santo/EPTV
Após isso, com a intenção de se vingar da ex-vereadora e tomar a liderança da comunidade, o acusado decidiu matá-la, diz a acusação. Para colocar o plano em prática, contatou os outros dois réus, que concordaram em participar do crime.
A denúncia aponta que, no dia do homicídio, os três foram até a casa de Madalena, e o ex-parceiro a chamou. Como ela o conhecia, abriu o portão. Então, outro acusado pegou a vítima pelo pescoço. Ela conseguiu se desvencilhar, mas o terceiro réu passou a golpeá-la na cabeça com uma arma branca, detalham as investigações.
Após isso, os três fugiram. Madalena não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Ela tinha 64 anos.

ARQUIVO: Polícia Civil de Piracicaba prendeu três homens suspeitos de matar ex-vereadora, em abril de 2021
Responsável pela acusação, o promotor Aluisio Antonio Maciel Neto considerou que há duas qualificadoras, que são fatores que podem levar ao aumento das penas pelo crime.
Motivo torpe - A Promotoria aponta que o crime foi cometido por motivo torpe porque um dos acusados pretendia se vingar da vítima por ter sido expulso da comunidade e porque desejava ser o líder do centro comunitário;
Recurso que dificultou a defesa - O promotor também aponta que o crime foi cometido mediante emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, pois foi atraída para abrir a porta após ser chamada pelo ex-parceiro, mas foi surpreendida e atacada pelos outros dois réus, que diminuíram a possibilidade de oferecer uma reação eficaz.
O MP ainda aponta como agravante o fato do crime ter sido cometido contra pessoa com mais de 60 anos.
Trio apontado como autores do homicídio contra Madalena já havia sido preso pelo assassinato de outro homem, no mesmo bairro — Foto: Polícia Civil
Relação de dupla com outro homicídio
Nove dias após o crime, policiais da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba divulgaram o esclarecimento do assassinato.
De acordo com a Deic, os dois crimes ocorreram no bairro Boa Esperança. No dia 10 de abril, o trio foi preso com 92 porções de cocaína e R$ 430 em espécie. No mesmo dia, segundo a polícia, dois deles confessaram que são os autores do homicídio de Marquinhos, e alegaram que agiram em legítima defesa.
Durante a prisão, as equipes também localizaram com dois suspeitos um paletó, uma gravata, um molho de chaves e um lenço, todos pertencentes a Madalena, que foram reconhecidos por seus familiares, informou a Deic.
Na época, a Deic investigava uma denúncia informal de que Marquinhos teria sido executado porque estava comentando pelo bairro que dois dos presos seriam os autores do assassinato de Madalena. Não foram divulgadas atualizações sobre essa apuração.
Sala da casa onde a ex-vereadora Madalena foi encontrada assassinada em Piracicaba — Foto: Felipe Boldrini/EPTV
Familiares de Madalena encomendaram camisetas com a foto dela e com uma mensagem para cobrar justiça no caso. A intenção é usar essas camisetas no dia do júri popular.
Quadro com foto da ex-vereadora Madalena encontrado quebrado na casa dela, em Piracicaba, após assassinato — Foto: Felipe Boldrini/EPTV
Primeira vereadora travesti
Madalena foi eleita vereadora nas eleições de 2012, quando recebeu 3.035 votos e teve o segundo melhor desempenho do PSDB nas eleições. À época, ela já somava 25 anos como líder comunitária e era considerada um ícone na cidade.
Madalena trabalhou desde a adolescência como cozinheira e faxineira em casas de família e repartições públicas. Como líder social, foi presidente do centro comunitário do bairro Boa Esperança e foi candidata a vereadora quatro vezes (1988, 2004 e 2008 e 2012), obtendo os votos suficientes para se eleger no último.
"Quando me olho no espelho eu vejo um homem corajoso", disse Madalena ao experimentar o terno para posse na Câmara em Piracicaba — Foto: Thomaz Fernandes/G1/Arquivo
Madalena ficou famosa em Piracicaba pela irreverência e pelo visual: negra, com quase 1,80 metro de altura, nasceu em um corpo masculino, mas já usava roupas femininas desde adolescente. Quando questionada sobre ser chamada de travesti, gay, homossexual, ele ou ela, disse que sempre quis ser conhecida por seu trabalho comunitário, e resolveu usar terno na posse de vereadora.
Ela passou a ser chamada por Madalena quando tinha 15 anos, já assumida como homossexual. "Eu trabalhava de faxineira com a minha mãe em uma república chamada 'Canecão' e os moradores fizeram um concurso para escolher um nome de mulher para mim. Aí ganhou Madalena. Eu gostei e ficou o nome", contou.
ARQUIVO: Madalena experimenta terno antes da posse como vereadora de Piracicaba — Foto: Thomaz Fernandes/G1
Nas eleições seguintes, ainda em 2016, ela desistiu da candidatura à reeleição. A decisão foi informada por meio de carta, enviada à presidência do partido tucano. Ao g1, a parlamentar apontou problemas de saúde e agressões racistas e homofóbicas sofridas nas redes sociais durante a gestão no Legislativo como alguns dos motivos para não continuar na carreira política.


