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Considerada a primeira travesti não indígena do Brasil, Xica Manicongo terá sua história contada pela Paraíso do Tuiuti na Marquês de Sapucaí (Sambódromo) nesta terça-feira em um enredo desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Traficada do Congo, na região central da África, para Salvador, na Bahia, Xica foi escravizada e trabalhou como sapateira na capital nordestina no século XVI. A personagem escolhida pela escola de São Cristóvão, muito lembrada por grupos da comunidade LGBTQIA+, não aceitava se vestir com trajes masculinos. Foi julgada e morta por isso.
Segundo o Casa 1, centro de referência no acolhimento de pessoas LGBTQIA+, Xica teve o comportamento reprimido por autoridades daquele período, sendo acusada de sodomia, termo historicamente usado para descrever práticas sexuais não reprodutivas, crime na época. Por conta das acusações, ela foi condenada à morte pelo Tribunal do Santo Ofício e queimada em praça pública.
Embora os registros de sua vida sejam escassos, a história de Xica já foi contada também em documentários como "Pedagogias da navalha" e ficou conhecida também pela apresentação de "Xica", no teatro, pelo Coletivo das Liliths.
Segundo o carnavalesco, o título do enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?" é "uma provocação".
"A quem interessa apagar a história de Xica Manicongo? Ela foi transgressora em sua trajetória, foi fichada pela Santa Inquisição e virou símbolo de luta das pessoas trans”, contou Jack Vasconcelos à coluna de Ancelmo Gois no ano passado, quando foi revelado o enredo da Tuiuti.
Em 2022, dada também à importância do nome da personagem para a comunidade LGBTQIA+, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei (PL) para que uma via da capital paulista passasse a ter o seu nome.
“Xica Manicongo foi a primeira travesti não indígena do Brasil. Trazida sequestrada da região do Congo, pertencente à categoria das quimbandas de seu povo, sua expressão de gênero era lida pelo colonizador como feminina”, dizia a justificativa do PL assinado também pela então vereadora Érika Hilton (PSOL-SP). “Xica Manicongo representa a luta das travestis brasileiras pelo seu direito à memória e ao reconhecimento; e por isso é importante homenagear sua luta e existência.”