
A menos de uma semana do Dia da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro, uma travesti foi morta na cidade de Timon, no Maranho. Conhecida apenas como Paulinha, seu corpo foi encontrado na tarde deste domingo (23/01) prximo Praa Higino Cunha com sinais de espancamento, pedradas e facadas, alm de ter sido despida da cintura para baixo e possuir um pedao de madeira em sua boca colocado pelo assassino.
O caso ainda est sendo investigado pelo Departamento de Homicdios da Polcia Civil da cidade de Timon e, at o momento, ningum foi preso pelo crime. Durante os prximos dias, testemunhas e parentes sero chamados para depor.
Visibilidade Trans
Apesar de a motivao do crime ainda no ter sido divulgada, bastante simblico que a morte de uma travesti tenha ocorrido a poucos dias do Dia da Visibilidade Trans, comemorado no dia 29 de janeiro no Brasil desde 2004.
A data foi escolhida a partir de um ato promovido em Braslia pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministrio da Sade. Naquele dia, foi lanada a campanha “Travesti e Respeito” no Congresso Nacional e, hoje, considerada um marco contra a transfobia no Brasil.
Alm da transfobia, caracterizada pelo conjunto de aes negativas, discriminatrias ou preconceituosas contra pessoas transgnero, o Brasil tambm lida com uma alta de transfeminicdio. Berenice Bento, doutora em Sociologia, professora da UnB e ps-doutora pela CUNY/EUA, define o termo como uma poltica disseminada e sistemtica de eliminao da populao trans motivada pelo dio e pelo nojo.

Um dossi da Associao Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) revelou que o Brasil o pas que mais mata pessoas trans no mundo, tendo alcanado 175 mortes mapeadas apenas em 2020. Apesar de o pas no saber exatamente quantas so e nem como vivem as brasileiras e os brasileiros trans, a ANTRA estima que cerca de 1,9% da populao pertena comunidade.
“Resistir pra existir, existir pra reagir”
O caso de Paulinha ainda faz relembrar outras diversas ocorrncias de transfobia e de transfeminicdio no Brasil que tiveram grande repercusso pela brutalidade dos crimes, como Dandara dos Santos, que foi espancada e executada a tiros em Fortaleza, no Cear, e cujas imagens circularam nas redes sociais em 2017; ou Savana Vougue, que recebeu um tiro no rosto enquanto trabalhava em Teresina (PI) em 2013.
Keila Simpson, presidenta da Antra, fala que “no h o que comemorar [sobre os nmeros expressivos de transfeminicdios]. Repetimos a cada ano e as nossas vozes no ecoam onde deveriam chegar. Estamos merc de ns mesmas. Quem chora por ns?”. Ela tambm comenta que, muitas vezes, as travestis que so mortas so enterradas como indigentes e que a associao costuma fazer arrecadaes para que sejam veladas com dignidade.
O lema da ANTRA, “resistir pra existir, existir pra reagir”, reflete uma das lutas dirias da comunidade trans, que a da visibilidade de suas causas e de suas necessidades. Keila comenta que “essa populao j entendeu que s a luta constante os salvar” e que crucial chamar a ateno para as graves e constantes violaes de direitos humanos.
Nesta segunda-feira (24), internautas esto subindo a hashtag #JustiaPorPaulinha nas redes sociais.
*Estagiria sob a superviso de Mrcia Maria Cruz