Primórdios do transfeminismo - UOL

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Já é tão comum vermos um feminismo pensado por e para pessoas trans que, às vezes, perdemos a noção de que a realidade nem sempre foi essa. Pensando nisso, relembro uma das primeiras tentativas brasileiras de construção de um feminismo que respeitasse as nossas pautas: o artigo "Roberta Close: homem ou mulher?", publicado na 6ª edição do jornal lésbico-feminista ChanaComChana (1984/85) por Míriam Martinho. Por questões de espaço, vou limitar a discussão a três pontos marcantes do texto.


O primeiro é o início, com Martinho afirmando que a mulheridade de Close só está em discussão por ela "ter ficado conhecida como um travesti quase perfeito. [...] Não fosse isso, ela seria apenas uma mulher". Aliás, Roberta encarna tão perfeitamente os ideais femininos da época que a autora se pergunta se ela não seria um "blefe", "uma mulher fingindo ser um homem fingindo ser uma mulher". Quer reconhecimento maior?

O segundo surge quando Close é posta como "a prova mais contundente do que Simone de Beauvoir, autora de ‘O Segundo Sexo’, escreveu há quase três décadas e meia [que] ninguém nasce mulher, mas sim torna-se mulher". Possível que essa seja, ao menos no Brasil, uma das primeiras ocasiões que mobilizaram a famosa frase para pensar a existência de pessoas trans.

Por último, a conclusão, momento em que se diz: "Podemos questionar a imagem de mulher convencional que ela adotou, mas não a ela mesma". Com isso, a autora estaria defendendo que o gênero de Close não deveria estar nem em discussão, mesmo que problematizássemos o ideal sexista em que ela se inspira.
Mas percebam o paradoxo: caso Roberta não encarnasse tão profundamente tais padrões, será que a autora defenderia a sua mulheridade?

O curioso é que, se buscamos as redes sociais de Martinho, será difícil ver ali a autora de um dos marcos fundadores do nosso transfeminismo. Capaz que hoje nem a Close ela reconheça mais como mulher.

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