A cearense Erikah Souza entrou para a história ao se tornar a primeira travesti formada em Matemática pela UFRJ. A defesa do doutorado aconteceu na tarde da última sexta-feira (19), no Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Cidade Universitária, Zona Norte do Rio.
Nascida em Fortaleza e radicada no município de Pacatuba, no Ceará, Erikah apresentou uma pesquisa inédita no campo da Matemática, unindo produção científica, experiência autobiográfica e compromisso com a justiça social. O trabalho tem como título “Você é professora de Ma-te-má-ti-ca? Narrativa autobiográfica de uma travesti que ensina matemática: entre a resistência transfeminista e a docência”.
A tese foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática da UFRJ e propõe uma reflexão inovadora sobre a docência a partir da vivência de uma professora travesti, articulando educação, gênero e resistência em um campo historicamente marcado pela exclusão.
Emocionada, a nova doutora dedicou a conquista à mãe, falecida há 15 anos. “Ela estaria explodindo de felicidade. Eu sinto a presença dela aqui. Ela me protegeu e me deu força nessa trajetória. A coragem que eu tenho para enfrentar o mundo veio da segurança que ela me deu desde pequena, quando me protegia do preconceito”, afirmou.
De acordo com o orientador da pesquisa, o trabalho é pioneiro não apenas no Brasil, mas também no cenário internacional. “A pesquisa dialoga com um campo de pesquisadores da Matemática voltado para a justiça social. Não tenho notícia de outro trabalho com essa reflexão no Brasil ou no mundo”, destacou.
Para o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, a conquista representa um marco institucional. “A presença de pessoas trans e travestis em espaços acadêmicos da UFRJ simboliza uma virada histórica. A universidade pública passa a refletir melhor a sociedade e a reparar exclusões antigas. É um passo concreto de cidadania, democratização do conhecimento e permanência com dignidade e respeito”, afirmou.
A trajetória de Erikah Souza reafirma o papel da população nordestina no Rio de Janeiro que também produz ciência em cadeiras fluminenses com entregas acadêmicas para o Brasil e o mundo.
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