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Aos 38 anos, John Maia foi nomeado o novo superintendente de LGBTQIA+ da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDHPA) de Goiânia. Além do marco histórico ao ocupar o cargo, ele carrega consigo uma história de superação ligada à capital goiana, local onde passou por sua transição, se refugiou após morar na Cracolândia e conseguiu se afastar de vez da dependência química e do tráfico de drogas.
Foi na capital goiana que John conquistou sua retificação de nome e gênero por meio de decisão judicial e que hoje atua em projetos sociais como a operação que acolhe pessoas carentes para o enfrentamento da onda de frio, montada pela Prefeitura de Goiânia.
A história de superação que hoje ele carrega foi iniciada com desafios inimagináveis. John nasceu em 2 de setembro de 1983, em Santo André, cidade da qual pouco se lembra. Passou sua infância em São José dos Campos, interior de São Paulo, e logo depois se mudou para Caraguatatuba, onde chegou a ser estuprado.
Com 17, mudou-se para São Paulo e passou a catar papelão e trabalhar como porteiro em uma boate, local onde teve seu primeiro contato com o crime, por meio do tráfico de drogas. Em pouco tempo ele se tornou gerente de uma “biqueira”, lugar são vendidas as drogas, e três anos depois teve seu primeiro contato com o crack.
Após experimentar, John conta que ficou totalmente dependente da droga e isso o fez a passar dois anos em situação de rua.
Em 2009, John cometeu um assalto com a intenção de manter seu vício nas drogas. Roubou um celular e acabou preso por mais de um ano em regime fechado na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru.
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Primeiro superintendente trans da Prefeitura de Goiânia, em Goiás — Foto: Arquivo pessoal/John Maia
Ao todo, sua sentença foi de 5 anos e 4 meses, mas o restante foi cumprido no regime semi aberto. Com isso, John retornou à Caraguatatuba e à casa de sua mãe.
John terminou seus estudos e começou a trabalhar em uma empresa que prestava serviços terceirizados à prefeitura da cidade.
Goiânia entrou na vida de John Maia quando sua mãe morreu.
Ele chegou na capital de ônibus, tendo todos os seus pertences dentro de onze caixas. Desde o momento que chegou em Goiânia, John iniciou seus trabalhos ligados a população transexual.
No Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG), por exemplo, além de atuar no Serviço Especializado do Processo, ele foi o primeiro homem trans a fazer a mastectomia, para a retirada das mamas. Na época, ele conta que o procedimento foi realizado pelo cirurgião plástico Sergio Augusto da Conceição, que “bateu no peito e abraçou a causa da população transexual”.
Antes de iniciar seus trabalhos na Prefeitura, John trabalhou em um lava rápido, em uma padaria e atuou por cinco anos em uma empresa que prestava serviços terceirizados.
John atua no serviço público municipal goiano há um ano e meio, desde quando passou a ocupar o cargo de gerente de Promoção Social, Cultural e de Saúde da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas.
Superintendente trans da Prefeitura de Goiânia, em Goiás — Foto: Arquivo pessoal/John Maia
Foi em maio deste ano que ele se tornou superintendente de LGBTQIA+ da pasta. Ocupar o cargo foi um marco histórico, uma vez que ele se tornou a primeira pessoa trans a estar à frente de uma superintendência de todo o Brasil.
Além de atender famílias em situação de vulnerabilidade em sua atuação como superintendente, John também busca fazer a diferença na vida de outras pessoas por meio de outras iniciativas. Como exemplo, ele cita o projeto que "Sempre Dá Para Fazer Alguma Diferença", que administra com sua esposa Dafne Fernanda.
Vencer o preconceito que ainda existe, por parte de muitos, em relação à população LGBTQIA+ é um dos seus principais objetivos.
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