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Celebrado em novembro de 2009, o casamento de Paloma e Zé Ricardo movimentou a cidadezinha de Saloá, no agreste de Pernambuco, e acabou tendo repercussão nacional, mas gerou uma onda de ataques ao casal. O motivo de reações de ódio na população local foi o fato de Paloma ser uma mulher trans que sempre sonhou em se casar na igreja.
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A história, que, além de ódio, trata de amor, fé e preconceito despertou a atenção do diretor pernambucano Marcelo Gomes, que ficou conhecido pelo trabalho em “Cinema, aspirinas e urubus” (2005). Desde que leu uma reportagem sobre o caso num jornal de Recife, o cineasta sonhava adaptar a história para as telonas. Assim nasceu “Paloma”, longa que chegou quinta-feira aos s cinemas e após ser o grande vencedor do Festival do Rio.
— Foi muito emocionante descobrir essa história de afeto — diz Marcelo, citando o alto índice de violência contra a população trans no Brasil que fez com que ele achasse muito importante transformar os acontecimentos num filme.
O diretor define “Paloma” como uma mistura de drama romântico com contos de fadas, mas acrescenta à descrição o aspecto que classifica como político.
— Nos faz pensar que este país só vai ser mais humano quando quebrarmos essa cadeia de ódio contra a população trans.
Marcelo escalou atrizes trans para o elenco. Para o diretor, elas poderiam trazer experiências e insights que fariam diferença para as personagens, além de ele ter considerado também o fato de atrizes trans ainda terem poucas oportunidades de papéis no audiovisual nacional.
Para interpretar Paloma, Marcelo escalou Kika Sena, atriz, poeta e performer que até então concentrava seus esforços dramáticos apenas no teatro. O diretor lembra que a atriz não foi bem no primeiro teste, mas diz que ficou impressionado com seu olhar e soube que estava diante da protagonista. Marcelo Gomes queria construir uma Paloma doce e com certa ingenuidade.
— A Paloma é só coração, é só afeto. A rejeição vem da sociedade — aponta o diretor — A Kika tem um tempo dramático incrível, em que o silêncio e o olhar dizem muito.
Em seu primeiro trabalho no cinema, Kika Sena cria uma protagonista envolvente, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio. Primeira atriz trans premiada na categoria, ela destaca que o filme é a história de uma mulher.
— Não tem a pretensão de representar todas as mulheres trans. Inclusive, as temáticas do filme transpassam a transgeneridade. É um filme sobre a luta para realizar um sonho, sobre amor, sobre fé — diz Kika, que exalta a importância de ter pessoas trans nas telas. — Ceder o espaço na tela é importante para romper com a ideia que o local de trabalho destinado para a mulher trans ou travesti é a esquina, na marginalidade, na prostituição.