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No último sábado, dia 28, foi celebrado o DIA Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, com manifestações em vários países. No Brasil, um dos eventos mais tradicionais é realizado na Avenida Paulista (SP), que aconteceu no dia 22 deste mês e teve como tema: “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”.
O tema é relevante para as pessoas da comunidade, pois está intrinsicamente ligado à dignidade de idosos que, muitas vezes, tiveram uma vida de negligência, hostilidades e discriminação.
Na Fundação Leão XIII, instituição criada em 1947 e cuja finalidade é acolher e proteger pessoas, grupos e famílias em situação de vulnerabilidade, risco social e de violação de direitos, encontra-se em acolhimento, a transexual Heloyna que, aos 80 anos, é considerada um exemplo de luta e superação.
Heloyna, que reside em uma das unidades da instituição desde 1977, nasceu José Carneiro, nome que recebeu do avô materno, por quem sempre acalentou grande admiração e profundo afeto, a ponto de não ter modificado o seu nome de batismo na sua documentação civil. Já o nome Heloyna foi inspirado pela vedete que fez fama nas casas noturnas da Lapa nas décadas de 1970 e 1980.
A transexual se reconhece como uma mulher trans. Quando jovem, Heloyna se reconhecia como um homem gay. Por mais de 20 anos foi casada com um homem, com quem viveu durante muitos anos nas ruas.
A Fundação vê na figura de Heloyna, e no mês da Orgulho Gay uma grande oportunidade de romper a invisibilidade social da pessoa idosa, principalmente pela orientação sexual e de gênero, com o objetivo de incentivar a promoção de políticas públicas que garantam o acesso desse público aos seus direitos e à inserção no mercado de trabalho.
“A luta por respeito e espaço a homens e mulheres trans ainda precisa avançar muito. É preciso espaço no mercado de trabalho, saúde e educação, além de políticas públicas que garantam qualidade de vida”, diz Heloyna.
De acordo com um levantamento da organização Gênero e Número, em parceria com a Fundação Ford, 60% da população idosa LGBTQIAPN+ sofreu algum tipo de discriminação ao longo da vida, sendo a exclusão familiar a pior delas. A ela se junta a discriminação institucional e econômica, gerando um ciclo de escassez material e simbólica.
Na maturidade, o contexto de vulnerabilidade é agravado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dessa população vive sozinha ou em condições de isolamento social. O índice é superior ao da população idosa em geral, gerando consequências como alta incidência de casos de depressão, ansiedade e outras fragilidades sociais. O quadro pressiona as vidas já marcadas pela marginalização.
A presidente da Fundação Leão XIII, Luciana Calaça, destaca que, apesar de haver uma legislação voltada para os idosos no Brasil, o atendimento à população idosa LGBTQIAPN+ esbarra em especificidades:
“Mesmo com os direitos assegurados pelo Estatuto da Pessoa Idosa, sancionado em 2003, ainda são escassas as políticas públicas voltadas às especificidades da população idosa LGBTQIAPN+. Áreas como acolhimento humanizado, capacitação de profissionais da saúde e assistência social e inclusão no mercado de trabalho seguem como desafios urgentes”, ressalta Luciana, acrescentando que a “realidade é ainda mais dura para pessoas trans”.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), a expectativa de vida de uma mulher trans no Brasil é de apenas 35 anos. O dado, segundo Luciana Calaça, reforça que o “caso de Heloyna, que chegou aos 80 anos, é uma vitória que transcende o individual — torna-se símbolo de resistência e superação diante de um país ainda marcado pela LGBTfobia”, enfatiza a presidente da Leão XIII.
Histórias como a de Heloyna servem de inspiração e alerta para a ampliação da pauta da diversidade para além da juventude, incluindo as vozes potentes e sábias das pessoas idosas, que ainda carecem de respeito, liberdade e dignidade.
“Na Fundação Leão XIII, reafirmamos nosso compromisso com uma vida plural, acolhedora e cidadã — onde todas as identidades tenham vez, voz e valor em todas as faixas etárias”, reforça Luciana Calaça.