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Fala-se muito sobre "bolhas ideológicas". Sobre como, por vezes, somos incapazes de entender um pensamento alheio ao do nosso convívio. É por isso que o argumento comum para despertar a empatia de um homem sobre a violência contra a mulher é pedir para ele imaginar que a situação ocorreu com a esposa/mãe/irmã/filha do sujeito. É a partir da projeção que o cenário fica menos nebuloso.
Eu sou incapaz de entender a mente de um homofóbico, que, provavelmente, também é incapaz de me compreender. E, bem, não vou dizer que aceito xingamentos mansamente, porque mais que evite lê-los. Vai ver é isso o que incomoda.
Digo isto porque me xingam. Toda semana. A maioria das postagens desta coluna nas redes sociais é atacada. Isso quando não chega por e-mail. E, sim, eu recebo elogios. De gente que olha nos meus olhos, em geral. E queria poder dizer que escrevo para os que gostam dos meus textos. Mas não. Não quero pregar para convertidos.
Porque falar sobre minorias é tentar cavar um buraco e ver a maré encher tudo de areia. Eu sinto isso quando uma travesti é assassinada a pedradas em Fortaleza uma semana depois de eu receber mensagem de leitor reclamando do por que eu não escrever sobre algo útil. Essa coluna sai no Esportes porque quero que gente que não entende gente como eu leia. Se eu conseguir convencer uma pessoa a tratar LGBTs como seres humanos, posso encerrar esse espaço.
Se um homofóbico se deu ao trabalho de ler o texto antes de xingar, conquistei um avanço. Sigamos nos murros em ponta de prego.
O esporte não faz mais parte da minha rotina. Sou editor de Cidades. Ainda amo várias práticas. Futebol, basquete, hóquei, todo tipo de Olimpíada. Não é fácil virar a ficha e escrever essa coluna para ser atacado. Mas a gente não toma as decisões da vida por ser fácil.
A quem questionou a importância desses textos, pense em Sofia. E me diga se a vida dela não é mais importante que a escalação de um time.
O esporte é, talvez, o meio mais democrático de revolução social individual do mundo. Porque, ao contrário de todos os outros, ele é meritocrático. Quem é bom avança. Quem é ruim não tem oportunidade. Claro que esse sistema tem falhas, mas dá chance a quem sabe jogar. É isso que me fascina. É uma sociedade igual, que prometem há tantos séculos e nunca entregam.
Eu queria dizer que elogios pesam mais do que críticas e xingamentos. Seria mentira. Eu poderia ainda mentir, dizendo que não me afeta. Eu sequer tenho estômago para redes sociais. Mas nem por um dia cogitei evitar de ser alvo.
Eu vou insistir. Ninguém é obrigado a ler esse texto. Ninguém é obrigado a olhar a minha cara. Mas toda quarta-feira, o espaço de um time vai ser menor porque existem coisas maiores que a bola na rede. Eu só peço para que todo mundo tente ouvir, entender e projetar a dor dos outros na sua realidade. Nem só o que você sente é importante. Um xingamento em estádio é um passo atrás. Um transfeminicídio é uma marcha para trás.
Parafraseando Belchior. "Eu sei que o amor é uma coisa boa. Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa".

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