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A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu a investigação sobre o ato infracional análogo ao crime de tortura cometido contra uma travesti de 40 anos, em Lagoa da Prata, na região Centro-Oeste do estado. O caso ocorreu em 23 de setembro deste ano, no bairro Chico Miranda, e mobilizou equipes policiais após a vítima ser hospitalizada em estado grave, na Unidade de Terapia Intensiva, em razão das agressões sofridas. A partir do registro inicial, a polícia iniciou uma série de diligências para identificar os responsáveis e esclarecer as circunstâncias do ocorrido, reunindo informações que permitiram avançar na apuração de maneira consistente e documentada.
A investigação começou quando uma pessoa próxima à vítima procurou a polícia para informar sobre o estado de saúde dela e relatar as agressões. A partir desse contato, a Polícia Civil iniciou os levantamentos preliminares e colheu detalhes que ajudaram a reconstruir a dinâmica dos fatos. Os investigadores buscaram imagens, depoimentos, registros médicos e demais elementos que pudessem auxiliar na identificação dos envolvidos e esclarecer como a violência foi praticada e quais motivos teriam levado ao ataque.
No decorrer das diligências, a polícia identificou o possível envolvimento de dois adolescentes, de 16 e 17 anos. Ambos já possuíam registros de outros atos infracionais relacionados a homicídio, roubo e tráfico de drogas, e eram conhecidos da polícia por movimentações frequentes no bairro onde o crime ocorreu. A partir das informações colhidas, os agentes estabeleceram um vínculo entre os adolescentes e o episódio registrado, direcionando a investigação para aprofundar as condutas atribuídas a cada um deles.
De acordo com a Polícia Civil, no dia do crime, os adolescentes foram até o imóvel onde a vítima utilizava drogas com outras pessoas. Chegando ao local, eles teriam determinado que todos saíssem do ambiente, permanecendo apenas a travesti. Essa informação foi confirmada por depoimentos e cruzamento de dados coletados durante a apuração, reforçando a suspeita de que a ação foi premeditada e voltada exclusivamente contra a vítima. A partir desse momento, segundo as investigações, teve início a sequência de agressões.
A Polícia Civil relatou que, após expulsarem os demais presentes, os adolescentes passaram a aplicar choques elétricos no rosto e no corpo da vítima, utilizando um fio ligado à energia para provocar as lesões. O uso desse método foi confirmado por elementos do laudo médico-legal, que identificou marcas compatíveis com descargas elétricas repetidas. O local onde os fatos ocorreram também apresentava indícios de improvisação de dispositivos elétricos, o que reforçou a narrativa apresentada durante a investigação.
Além das descargas elétricas, os adolescentes teriam introduzido um objeto nas partes íntimas da vítima, causando novas lesões graves. A confirmação desse fato se deu por meio de laudos médicos detalhados, que descreveram a extensão das feridas e permitiram à Polícia Civil compreender a gravidade do episódio. O ataque, segundo a apuração, ocorreu em um intervalo de tempo relativamente curto, mas foi suficiente para provocar danos sérios e exigir internação imediata da vítima em estado crítico.
Durante a investigação, a Polícia Civil também buscou identificar possíveis testemunhas que pudessem relatar o que aconteceu antes e depois da agressão. Algumas pessoas que estavam no local antes da chegada dos adolescentes forneceram informações que ajudaram a estabelecer a sequência dos fatos. Outras testemunhas foram localizadas nas imediações do imóvel e apresentaram detalhes sobre comportamentos e movimentações observadas naquele dia. Esses relatos, somados aos demais elementos, permitiram estruturar uma linha investigativa sólida.
A equipe responsável pela apuração também trabalhou na análise de antecedentes dos envolvidos. A constatação de que os adolescentes já respondiam a outros atos infracionais reforçou a necessidade de aprofundamento das diligências, a fim de verificar se havia relações anteriores entre eles e a vítima. A polícia avaliou possíveis motivações e buscou entender se o crime tinha relação com conflitos prévios, consumo de drogas ou outras circunstâncias que pudessem contextualizar o ataque registrado.
Outro ponto avaliado durante a apuração foi o estado do imóvel onde o crime aconteceu. A Polícia Civil realizou vistorias no local para identificar vestígios que apoiassem a versão apresentada nas oitivas. Foram localizados fios, objetos e outros materiais que compatibilizavam com a dinâmica descrita pela investigação. O ambiente, segundo a polícia, encontrava-se em condições que favoreciam a prática das agressões e dificultavam a fuga da vítima, reforçando o entendimento de que ela estava vulnerável no momento do ataque.
A vítima permaneceu internada na UTI por vários dias devido à gravidade das lesões. O boletim médico compartilhado com a Polícia Civil detalhava queimaduras, ferimentos internos e sinais de agressão física direta, elementos fundamentais para comprovar a natureza da violência cometida. O estado de saúde da vítima foi acompanhado pelos investigadores, que aguardavam evolução suficiente para tentar obter o depoimento dela, embora isso não tenha sido possível durante boa parte do processo inicial devido ao quadro clínico delicado.
Após reunir todos os elementos necessários, incluindo laudos, depoimentos e análises técnicas, a Polícia Civil concluiu o procedimento e representou por medidas socioeducativas contra os adolescentes. A representação ocorreu conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece os tipos de responsabilização aplicáveis a menores de idade envolvidos em atos infracionais dessa natureza. Com isso, o caso segue agora para apreciação pelo Poder Judiciário, que definirá as medidas cabíveis.
A conclusão da investigação foi comunicada oficialmente, e o relatório final foi encaminhado à Justiça com a indicação das provas que sustentam a responsabilização dos adolescentes. A Polícia Civil destacou que todos os passos seguiram os protocolos legais e técnicos necessários, garantindo a preservação dos direitos da vítima e a correta condução do processo investigativo. A delegacia responsável reforçou ainda que permanece à disposição para esclarecimentos adicionais junto ao Ministério Público e ao Judiciário.
O caso chamou atenção da população local e de entidades de defesa dos direitos humanos devido à gravidade das agressões e ao perfil da vítima. A investigação buscou manter discrição em relação a detalhes sensíveis, visando preservar a integridade da vítima, que ainda se recupera das lesões. O município acompanhou o desdobramento do caso com preocupação, especialmente pela participação de adolescentes já envolvidos em outras ocorrências.
Com o encerramento das investigações, espera-se agora o andamento das etapas judiciais que definirão o destino dos adolescentes. A Polícia Civil considera o procedimento concluído e ressalta que a coleta de provas foi conduzida de forma minuciosa e amparada em documentação técnica, permitindo que o processo avance com base em elementos sólidos e verificáveis. O caso permanece como um dos mais graves registrados na cidade neste ano, sobretudo pela natureza das lesões e pela vulnerabilidade da vítima no momento das agressões.



