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A manifestação aconteceu neste sábado (9) em frente ao 1° Distrito Policial de Ribeirão Preto, na Rua Duque de Caxias, no Centro.
Segundo o organizador, amigo de Milena e administrador de empresas Amaury Zucolaro, de 40 anos, a intenção é chamar atenção da sociedade para que ela não seja esquecida.
Ao g1, o delegado da 3ª Delegacia de Homicídios da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), Rodolfo Latif Seba, disse que o inquérito permanece em trâmite e que as autoridades aguardam o resultado dos exames periciais relacionados a coleta de material biológico do autor encontrado na cena do crime.
Amigos e familiares pedem agilidade nas investigações de mulher trans morta em Ribeirão Preto, SP — Foto: Chico Escolano/EPTV
Milena foi encontrada morta no dia 10 de abril de 2021 dentro de seu apartamento, na Vila Tibério, zona Oeste da cidade. O corpo dela tinha 28 facadas, segundo a Polícia Civil. Nenhum suspeito foi identificado ou preso desde o crime.
De acordo com o boletim de ocorrência, uma amiga, dona do restaurante onde ela almoçava todos os dias, notou o sumiço de Milena após a mulher não entrar em contato para escolher o cardápio e não responder suas mensagens.
Preocupada com o sumiço, a amiga, Fernanda Oliveira, foi até o dono do apartamento, que tinha um supermercado embaixo do prédio, e pediu a chave da portaria emprestada. “Eu bati no apartamento dela, coloquei o ouvido na porta, ouvi barulho de TV ligada bem baixinho, do ventilador. Eu vi que tinha alguma coisa errada”, disse a amiga na época.
Um dia antes de ser encontrada morta, Milena Massafera recebeu um homem em seu apartamento em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Reprodução/EPTV
Ela acionou a polícia, que a orientou a falar com a família de Milena, porque não podiam arrombar o imóvel sem autorização. Fernanda entrou em contato com a mãe, acionou um chaveiro, e as duas foram até o local por volta das 20h. Foi quando encontraram Milena morta no quarto, com sinais de violência pelo corpo e indícios de que houve luta corporal.
A Polícia Militar (PM) foi acionada juntamente com a perícia e encontrou sinais de que o suspeito teria se lavado antes de sair. Tufos de cabelos arrancados e amostras de sangue foram recolhidas para análise. Também foram encontradas pegadas no chão do quarto e uma toalha ensanguentada.
Câmera de segurança registrou suspeito de crime contra transsexual em Ribeirão Preto, SP
Ainda segundo Fernanda, na sexta-feira, 9 de abril de 2021, Milena disse a ela que ficaria em casa para atender um cliente. Em imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia (veja vídeo acima), é possível ver o momento em que o homem chega ao local de carro, por volta das 22h30, e aguarda na porta.
Três minutos depois, Milena chega também de carro. Ambos sobem para o apartamento da vítima e, após cerca de 30 minutos, o homem sai do prédio sozinho e deixa o local a pé, usando outras roupas.
Segundo as investigações, a perícia feita no imóvel indicou que o suspeito se lavou antes de ir embora. O homem é apontado como principal suspeito. O celular e documentos da vítima não foram encontrados.
“Eles subiram até o local, acreditamos que era onde foi marcado o atendimento, o encontro. Em menos de 30 minutos depois, ele desce, demonstra apreensão e está caracterizado que ele usava roupas diferentes. O último momento que ela acessou o Whatsapp foi quando ela encontrou o indivíduo”, explicou na época o delegado.
Em abril de 2021, amigos protestaram contra morte de mulher transsexual, esfaqueada 28 vezes em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Dias após o crime, um grupo de 20 pessoas se reuniu em frente ao 1º Distrito Policial para protestar contra o crime e cobrar as autoridades sobre a investigação. Quem organizou essa primeira manifestação foi o presidente da ONG Arco Íris, Fábio de Jesus Silva, uma entidade que luta pelo direito dos LGBTs de Ribeirão Preto.
Conhecido de Milena desde 2004, quando ela começou a transição, Silva relembra a dor que foi perder a amiga, que estava junto com ele quando ele decidiu se assumir homossexual. Segundo ele, a vítima era amiga de todos e não tinha briga com ninguém.
Fábio de Jesus Silva, presidente da ONG Arco Íris, era amigo de Milena Massafera há mais de 15 anos — Foto: Arquivo pessoal
“Sempre foi humilde, humana, ajudou os amigos, sempre estava alegre, nunca teve problema com ninguém, sempre foi um doce. Ela trabalhava direitinho, sempre honrou com suas contas, todo mundo gostava dela. O meu sentimento foi de muita dor, de muita tristeza, porque ela sempre foi guerreira, lutou pelos seus ideais, pelos seus direitos”, conta.
Em entrevista ao g1 em 2021, a mãe de Milena, Maria José da Silveira Vieira contou que entre os quatro filhos, Milena era a mais próxima. Apesar de não viverem na mesma casa, estavam em contato diariamente, por telefone, e se encontravam presencialmente aos finais de semana.
"Não tenho mais vontade de nada. Não consigo comer, não sinto gosto da comida, não consigo dormir. Meu marido ficou um dia sem trabalhar, mas já teve que voltar, porque não tem jeito", relatou na época.
Mãe da transexual Milena Massafera, morta em Ribeirão Preto (SP), Maria José, contou que Milena era sua filha mais próxima — Foto: Maria José da Silveira Vieira/Acervo pessoal
Ela ainda disse que Milena era quem lhe ajudava financeiramente, já que, por nunca ter trabalhado com carteira registrada, ela não conseguiu se aposentar, e o salário do marido, que trabalhava como pedreiro, não supria todas as necessidades da casa. Segundo ela, tudo que tinha em casa, sofá, cama, armário, foi Milena quem comprou.
Dias antes do crime, Milena estava realizando o processo para mudança de nome. De acordo com a mãe, ela já tinha passado pelo psicólogo e estava tudo encaminhado. Como na época a advogada foi infectada pelo coronavírus, o procedimento atrasou, mas estava para ser concluído.
Milena Massafera foi achada pela mãe e uma amiga. Segundo a Polícia Civil de Ribeirão Preto (SP) ela levou 28 facadas — Foto: Arquivo pessoal