Nascida e criada em Ouro Branco, cidade da região Central de Minas Gerais, Spencer Jill Hastings, de 28 anos, encara a cirurgia de redesignação sexual como uma janela para a liberdade. Para viver a experiência, a jovem deixou para trás preconceitos, opiniões e até o antigo nome. “Vai ser o marco de uma mudança que eu sempre busquei”, detalha.
Assim como muitas pessoas transsexuais, Spencer relata que desde pequena o sentimento era de que não pertencia ao corpo no qual nasceu. “Eu sempre fui uma criança delicada, com todo o jeito feminino de ser. Eu já sabia que eu era diferente, só que a questão de ser transexual para mim era muito distante”, conta Spencer.
Foi com a chegada da adolescência que o visual feminino foi ganhando espaço. Agora, aos 28 anos, o desejo é se tornar “uma mulher completa”, mesmo que para isso a espera seja grande.
“O SUS oferece o processo completo e eu tenho que passar pelo tratamento psicológico que é fora de Ouro Branco. Depois, vou para o Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, para começar a fazer meu tratamento com endocrinologista. Não sei quanto tempo vai levar, mas estou preparadíssima”, diz.
No SUS, os serviços do processo transexualizador vão além da cirurgia de redesignação sexual e incluem hormonização, implantes de próteses mamárias e a mastectomia e histerectomia no caso dos homens trans.
“Eu me sinto sortudo por ter essa possibilidade. Sei que vou sofrer bastante preconceito, mas ao fazer uma introspecção eu reconheço que o meu propósito é esse. A diferença que você vai fazer do mundo só depende de você”
Spencer Jill
A escolha do nome ‘Spencer Jill Hastings’ é uma homenagem a duas personagens tidas como referência pela mineira: Lady Di, que se chamava Diana Spencer (1961-1997) e a personagem Spencer Hastings, da série Pretty Little Liars.
“Cada transição é singular”, explica psicóloga
A cirurgia de redesignação sexual é um marco para muitas pessoas transexuais, mas a mudança nas características da genitália não são uma obrigação para todas elas. Segundo a psicóloga Dalcira Ferrão, especialista no atendimento de pessoas trans, travestis, público LGBTI+ e famílias, o procedimento é voltado para quem realmente não se enxerga dentro daquele corpo.
“A integridade da saúde mental de sujeitos transexuais pode ficar comprometida devido a incongruência entre sua imagem corporal e a percepção de si mesmos, e as possíveis dificuldades relacionais e sociais que se mostram decorrentes do não-reconhecimento de seu gênero. Contudo, nem todas pessoas trans (e travestis) necessitam modificar seus corpos por meio de procedimentos, sejam cirúrgicos, estéticos ou hormonais”, explica a psicóloga, que completa: "cada processo de transição é singular e vai depender do nível de disforia corporal (desconforto); condições e oportunidades para ser realizado”.