Marina Mathey usa a arte para refletir sobre questões transgênero - Liberal

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Arte transformadora

Americanense é a primeira travesti a vencer o Prêmio Bibi Ferreira, que reconhece produções do teatro nacional

Por Marina Zanaki

29 de outubro de 2022, às 08h10

Link da matéria: https://liberal.com.br/cultura/cultura-na-regiao/marina-mathey-usa-a-arte-para-refletir-sobre-questoes-transgenero-1856784/

A artista americanense Marina Mathey tem conquistado seu espaço no cenário artístico e usado sua arte como instrumento de transformação. Ela se tornou a primeira travesti a vencer o Prêmio Bibi Ferreira, que reconhece produções do teatro nacional. Em “Boneca Pau Brasil”, o primeiro álbum de sua carreira, que foi lançado esta semana, ela faz reflexões sobre o extrativismo e a colonização de corpos.

No mês de setembro, a artista ganhou o Prêmio Bibi Ferreira na categoria Melhor Atriz Coadjuvante em Musicais por sua atuação no espetáculo “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”. A atriz Veronica Valenttino, que também é travesti, venceu na categoria Revelação em Musicais. A montagem conta a história real da fundadora da primeira casa de acolhimento a pessoas com HIV no país, na década de 1990.

Além de atriz, a americanense Marina Mathey também está lançando seu primeiro álbum – Foto: Christian Pentagna / Divulgação

Ao LIBERAL, Marina Mathey definiu o prêmio como uma conquista individual e coletiva. Ela lembrou que a famosa artista Rogéria, conhecida como a “travesti da família brasileira”, faleceu sem ter sido indicada a prêmios.

“Para mim, é um reconhecimento do meu trabalho, mas também um reconhecimento social do que nós, artistas trans, travestis, somos capazes. Não somos o que construíram de nossa imagem. Nos imaginam só em esquinas nos prostituindo, em extrema vulnerabilidade. Mas estamos em todos os espaços possíveis, como chefes de equipes em empresas, eleitas na política, e cada vez mais estamos conduzindo nossa história”, declarou a artista.

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Marina contou que gostaria de trazer o espetáculo “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” para Americana – desde os 16 anos, ela mora na capital paulista. Sua trajetória artística começou aos 12 anos no Fábrica das Artes, onde estudou teatro por quatro anos até decidir ir para São Paulo. Ela se formou na EAD (Escola de Arte Dramática) da USP (Universidade de São Paulo), e integrou o elenco da série brasileira “3%”, da Netflix, onde interpretou a personagem Ariel.

MÚSICA
Artista multimídia, ela acaba de lançar o álbum “Boneca Pau Brasil” nas plataformas de streaming. Para o trabalho, que levou três anos para ficar pronto, ela partiu do tropicalismo e acabou estudando a história da Semana de Arte Moderna, que influenciou o movimento.

“Comecei a olhar para a Semana de 22 como o possível nascimento do que conhecemos hoje como apropriação cultural. Pessoas pretas, indígenas e proletários sendo retratados por uma elite branca cisgênera, e me perguntei, onde as pessoas trans estavam?”, conta a artista.

Em suas pesquisas, Marina identificou um hiato de 450 anos na história do Brasil sem menção às pessoas trans. Ela então decidiu usar sua criação artística para recriar essa narrativa. O resultado é um álbum repleto de referências à música brasileira e latina, com letras provocativas e inteligentes.

“Do mesmo jeito que uma das matérias-primas que os portugueses mais utilizaram foi o pau-brasil, faço esse trocadilho com o corpo travesti e extrativismo sexual, e com todo o vermelho presente na madeira e no nosso sangue que derramam por aí. Os paralelos não contam uma história de dor, mas tentam construir uma perspectiva de prosperidade”, revelou a artista.

“Espero que meu trabalho possa servir de referência para outras pessoas que possam vir a se reconhecer como trans, e mostrar que podemos muito mais do que a sociedade espera da gente”, finalizou Marina.

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