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"Eu sempre me vi diferente, desde a infância. Sempre tive essas questões, mas não sabia me expressar e nem me entender direito, já que não se falava muito sobre gênero e sexualidade na época", disse Pedro Inácio, um jovem trans de Volta Redonda (RJ).
Neste sábado (29), Dia Nacional da Visibilidade Trans, o g1 conta a história do Pedro, psicólogo de 23 anos, que lutou desde bem jovem para encontrar seu lugar no mundo.
Segundo ele, seu processo de aceitação foi longo e difícil: teve que lidar com o preconceito, o bullying e o não entendimento de si mesmo. Só entendeu a transexualidade quando estava na faculdade.
"Foi em 2016. Veio o assunto do baile da faculdade e meu amigo, que era da comissão, veio me questionar porque eu não iria participar. Então, eu contei para ele sobre meus problemas com as vestimentas e tudo mais. Ele já estava por dentro do assunto e me mandou uns vídeos falando sobre transexualidade, perguntando se eu me identificava com algum deles. E foi quando eu me identifiquei como um homem trans, que eu nem sabia que existia, já que na época não era muito falado", explicou Pedro.
Transgênero é a pessoa que se identifica com o gênero oposto ao qual ela nasceu. Não há relação com orientação sexual. — Foto: Alexandre Mauro / G1
Apesar de ter se identificado nessa época, o jovem passou muito tempo refletindo se faria, de fato, a transição.
"Por mais que eu tivesse me encontrado na teoria, na prática eu ainda não sabia se levaria isso pra frente. Se eu ia conseguir bancar as consequências de me assumir trans. Quando eu decidi, eu falei pra minha mãe, que falou pra família toda", disse o psicólogo.
Pedro disse que teve muita sorte por esse processo ter começado na época em que a novela "A Força do Querer" estava sendo exibida. A trama tinha no elenco o personagem Ivan, interpretado pela atriz Carol Duarte, um homem trans que passa por todo o processo de aceitação e transição. Segundo o jovem, isso facilitou muito para que seus familiares o entendessem melhor.
Atriz Carol Duarte deu vida a Ivan, um homem trans, em "A Força do Querer" — Foto: Estevam Avellar/ TV Globo
O psicólogo acredita que a informação traz visibilidade e é essencial para o entendimento das pessoas.
"Hoje em dia, a gente ainda tem muito atravessamentos, mas acho bacana estarmos falando mais do assunto. É bem interessante como essa nova geração consegue se encontrar muito mais rápido do que a minha. Eles conseguem se ver mais e, consequentemente, conseguem se entender mais cedo", concluiu Pedro.
Com a ajuda de alguns amigos, Pedro criou o grupo "Meninos Trans" e foi recrutando várias pessoas da região. A iniciativa surgiu com a ideia deles trocarem experiências e poderem ajudar uns aos outros.
"Eu pensei que não poderia ser o único homem trans na cidade. Foi aí que comecei a procurar outros como eu, que também estivessem passando por aquilo", disse ele.
"Foi muito bacana. Começou com pouquíssimas pessoas e hoje já temos cerca de 30 meninos no grupo. De tempos em tempos, a gente se encontra pessoalmente para poder confraternizar e sempre que alguém precisa de ajuda em questão médica ou hormonal, nós indicamos as pessoas. Não estamos sozinhos", explicou Pedro.
Grupo Meninos Trans — Foto: Divulgação/Redes sociais
Pessoas trans vivem sob 'tolerância frágil', diz pesquisadora
Ainda que termos como “trans”, “transexual” e “travesti” estejam começando a ter mais alcance, em virtude do sucesso de nomes como o de Linn da Quebrada, que está no BBB, a maioria da população trans no Brasil continua vivendo em alta vulnerabilidade.
Bruna Benevides, mulher trans, produziu um dossiê sobre a violência contra essa população no país. O levantamento contabilizou 140 mortes em 2021.
"As pessoas têm medo de se aproximar das pessoas trans/travestis. [Vivemos] sob uma tolerância muito frágil. Somos vistas como ameaça", contou Bruna.
O dossiê aponta que, das 140 pessoas trans assassinadas no país, 135 são travestis e mulheres transexuais, e 5 homens trans e pessoas transmasculinas.
Como não há um dado oficial sobre o tema, a pesquisa é feita a partir de informações encontradas em órgãos públicos, organizações não-governamentais, reportagens e relatos de pessoas próximas das vítimas.
Pelo 13º ano, o Brasil continuou sendo o país onde mais se mata essa população, seguido pelo México e os Estados Unidos, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU, na sigla em inglês), que reportou 375 assassinatos em todo o mundo no ano passado.
*Sob a supervisão do editor Lucas Mathias