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“Orientação sexual não impede competência”, afirma a monlevadense Sabrina Martins, mulher trans

Em entrevista ao a Notícia, a monlevadense fala sobre dificuldades de inserção no mercado de trabalho e sua história de vida e superação

A história de vida de Sabrina Martins, de 34 anos, não é diferente das muitas histórias de pessoas transgêneros no Brasil. Afinal, ter a liberdade de ser quem é, na essência de como se enxerga, não é uma tarefa fácil para quem não se reconhece no corpo em que nasceu. 
Além das questões pessoais, há a luta para ingressar no mercado de trabalho, dificultado, segundo ela, pelo preconceito, pela homofobia e pelo julgamento. Além da exclusão, esses elementos também estão presentes em todos os lugares da sociedade, inclusive, nas empresas. “Basta dar uma volta nas empresas e lojas de João Monlevade e você não verá pessoas trans trabalhando. Se ver, será muito pouco. As pessoas precisam entender que a orientação sexual não impede a competência, mas Monlevade não dá oportunidades a pessoas trans”, afirma. 
Ela mesma conta que teve que deixar a cidade para trabalhar e conseguiu seu primeiro emprego numa empresa de telemarketing de Belo Horizonte. Pela falta de oportunidades, Sabrina confirma os dados de pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), de que 90% da população trans tem a prostituição como principal fonte de renda e única possibilidade de subsistência. “Muitas, sem opção, vão para as ruas, vendem seus corpos, passam por diversas situações, expostas a vários tipos de violência”, afirma. 
Para Sabrina, a sociedade deveria ver as pessoas LGBTQI+ como normais, que têm desejos, alegrias e necessidades como qualquer outra. Ela acredita que se tivesse mais pessoas trans no mercado de trabalho, nas lojas, em supermercados e nas demais empresas, o preconceito poderia ser menor.
Além disso, ela defende mais políticas públicas para a população LGBTQI+, como rede de acolhimento, debates para conscientizar sobre a diversidade e ações antidiscriminação que possam promover a inclusão e o fim do preconceito. Inclusive, nas escolas. Não é um debate de ideologia, mas de respeito, para combater a discriminação generalizada. 

Violência

Foi justamente no ambiente escolar, recorda, que na adolescência passou por momentos terríveis. Ela lembra que, quando estudava na Escola Municipal Israel Pinheiro (Emip), tinha que pular o muro na hora de ir embora, para não enfrentar um corredor formado pelos alunos da Emip e da Escola Estadual Alberto Pereira Lima, em frente, que a atacavam com xingamentos, ofensas e até agressões. “Se não tivesse forças para saber quem eu sou, não teria resistido. Passei por várias depressões, por muito sofrimento”, conta.
Em sua vida, ela diz já ter sido hostilizada por homens e mulheres e sofrer críticas e agressões verbais nas ruas.  Outra situação de violência vivida de perto, foi quando perdeu uma amiga também transsexual, morta em João Monlevade, por Transfobia, há cerca de 15 anos. “Minha amiga Samanta foi brutalmente assassinada, com crueldade. Na época, fiquei sem chão, perdi a pessoa mais próxima. Passamos juntas pela transição e éramos muito unidas. Foi um crime horrível, sem reparação”, conta. 
 
Superação e amor
 
Sabrina nasceu numa família pobre, no bairro Promorar, e cresceu em meio a sérias dificuldades financeiras. Porém, no lar simples, nunca faltaram o carinho dos pais e a compreensão quando ela se descobriu transexual. “Minha família me abraçou e me entendeu”, afirma. 
Sabrina conta que nunca se viu como menino, sempre gostou de ficar perto das meninas e, na adolescência, sentia atração pelos meninos. Com isso, sofria exclusão e preconceito nas ruas, mas em casa, recebia amor. 
Ela relembra que, quando aprendeu a se posicionar, ainda na adolescência, começou a assumir a identidade feminina. Aos 15 anos, ela começou a transição (processo para a mudança de gênero). O nome Sabrina veio do seriado de TV “Sabrina apreniz de fenticeira”, da qual era fã. 
Sabrina entrou na Justiça para trocar os documentos, antes mesmo do Decreto Presidencial 8.727 de 28 de abril de 2016, que garante o nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no Brasil. “Foi o dia mais feliz da minha vida, quando recebi os documentos. Com eles, foi o fim do constrangimento de ser chamada por um nome masculino”, conta.
Hoje, aos 34 anos, Sabrina trabalha no ramo de estética, com micro pigmentação. Para ela, o segmento da beleza é o que melhor aceita pessoas LGBTQI+ no mercado de trabalho. Após trabalhar com vendas e telemarketing em BH, ela tentou trabalho em Monlevade e não conseguiu. Foi quando começou a trabalhar com beleza e estética. 
Em sua trajetória de vida, Sabrina se considera uma pessoa feliz e dona de si. Ela diz que é muito procurada em suas redes sociais por pessoas que querem assumir a orientação sexual e tem dúvidas, medos e receios e sempre os ajuda com conversas. 
Ela diz ainda que a luta por respeito, inclusão e liberdade deve ser contínua e abraçada por todos. Inclusive pelas empresas que devem dar mais oportunidades a pessoas trans e LGBTQI+. Para ela, o lema de vida é: “Se fere minha existência, serei resistência” e que, por isso, não se deixa abalar pelos desafios. Sabrina está nas redes sociais. https://www.instagram.com/sabrinamartins_pmu/ 

https://www.facebook.com/TransexySah

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Ações inclusivas

Em 2020, a ArcelorMittal Brasil, grupo do qual a Usina de Monlevade faz parte, criou o Programa de Diversidade e Inclusão.  A iniciativa é baseada em grupos de afinidade nas seguintes dimensões da diversidade: LGBTI+, Equidade de Gênero, Pessoa Com Deficiência e Diversidade Racial. Em 2021,o grupo realizou o Censo LGBTI+ dentro da empresa e a parceria com a TransEmpregos que é o maior projeto de empregabilidade de pessoas trans do país. 
A Prefeitura de Itabira foi a primeira da região a enviar para a Câmara um projeto de Lei que cria a Política Municipal de Promoção da Cidadania e Diversidade LGBTQIA+ e do Conselho Municipal de Promoção da Cidadania e Diversidade LGBTQIA+ (COMLGBTQIA+). O projeto está sendo discutido pelo Legislativo. 

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