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Um caso de discriminação de gênero contra um médico-veterinário trans voltou a expor a urgência do debate sobre respeito, dignidade e acolhimento no ambiente profissional. O episódio ocorreu no mês passado, em uma clínica veterinária localizada em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, enquanto o médico-veterinário Erick Francisco Rosa Mendes realizava atendimentos de rotina.
Erick, que passou a integrar recentemente a Comissão de Diversidade Sexual e Gênero do CRMV-RJ, relatou que situações de preconceito por parte de alguns responsáveis não são isoladas, mas recorrentes em sua trajetória profissional.
“A dona da clínica não estava naquele dia, então eu era o responsável pelo atendimento. Essa cliente já havia demonstrado desconforto comigo antes, mas, dessa vez, ao passar por ela, fui encarado de cima a baixo com uma expressão de nojo. Depois, ela perguntou a uma das auxiliares se eu era homem ou mulher, num tom reprovador. Disse que não queria ser atendida por mim. As meninas me contaram depois o que aconteceu. Foi desconfortável, mas não foi a primeira vez”, relembrou.
Segundo o profissional, episódios assim também se repetem em outras unidades onde atua: “Sempre tem alguém que insiste em me chamar no feminino, mesmo depois de eu me apresentar como doutor Erick. E você percebe quando é proposital. São situações que a gente enfrenta, que geram desconforto e desgaste no nosso dia a dia”.
Ao comentar sobre a necessidade de respeito, Erick destaca que pessoas trans não pedem aceitação irrestrita, mas o mínimo de humanidade no trato diário. Para ele, o debate não é sobre impor algo às pessoas, e sim sobre garantir dignidade.
“A gente só quer ser tratado como ser humano. Se eu digo que minha identidade de gênero é masculina, você me trata no masculino e pronto. Não estou pedindo nada além disso. Não precisa acolher, abraçar ou concordar; só precisa respeitar. A nossa existência é um direito”, declarou.
O médico-veterinário ressalta ainda que a discriminação dentro do ambiente profissional tem impacto direto na saúde emocional e no exercício da profissão. Ele contou que acredita que o reconhecimento do CRMV-RJ, ao convidá-lo para integrar a Comissão de Diversidade Sexual e Gênero, é um gesto importante para fortalecer a voz de quem enfrenta preconceitos diariamente.
“O Conselho virar para você e falar ‘eu te vejo’ é muito importante. Mesmo que não resolva tudo, dá voz. E isso atinge outras pessoas, inclusive fora da profissão”, explicou.
Para além do acolhimento institucional, Erick contou que vê potencial para desenvolver debates e ações educativas que ultrapassem a bolha profissional. Ele ainda explicou que acredita que iniciativas como ciclos de palestras e discussões abertas podem contribuir para transformar realidades e reduzir a hostilidade vivida por profissionais trans em diversos ambientes.
O médico-veterinário também destaca o pioneirismo da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero do CRMV-RJ, que considera um avanço significativo. Para ele, essa iniciativa pode abrir portas para que outros conselhos profissionais adotem práticas semelhantes, promovendo espaços mais seguros e respeitosos para todos os trabalhadores.
O CRMV-RJ manifesta total solidariedade ao médico-veterinário e reforça que qualquer forma de discriminação é inaceitável, especialmente no ambiente profissional, onde deve prevalecer o respeito, a ética e a dignidade humana. O Conselho reafirma ainda seu compromisso em promover ações que fortaleçam uma Medicina Veterinária plural, inclusiva e acolhedora.

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