
Os orixs abriram alas na avenida nos desfiles do Rio de Janeiro e So Paulo, realizados na sexta-feira (22/4) e no sbado (23/4). A maioria das escolas apostou em enredos que fazem referncia s religies de matriz afriacana, apagamento histrico e resistncia.
"No Carnaval deste ano ningum fez enredo. Quem fez enredo foram os orixs. Os orixs escolheram o xir para vir pra avenida (…) Desde 1980, 1984, eu nunca vi algo to sincronizado, ou seja, a reafricanizao se impe diante das adversidades”, disse o cantor Carlinhos Brown, um dos coautores do samba-enredo "Batuque do Caador", da Mocidade Independente de Padre Miguel, que homenageou Oxssi, orix das plantas milagrosas. A Grande Rio homenageou Exu com “Fala, Majet! Sete chaves de Exu”.

A Paraso do Tuiuti fez uma reverncia aos orixs Oxal e Nan, na comisso de frente, e a Vila Isabel trouxe uma imagem de Omol coroando Martinho da Vila, homenageado da escola.
A Acadmicos do Tatuap apresentou os orixs na comisso de frente, a rainha de bateria representou a a Rainha dos Ogns e um carro alegrico apresentou Aruanda, o mundo espiritual onde vivem os orixs. A guia de Ouro apresentou as entidades Exu, Oxaufan, Ebonis e Emis na comisso de frente, e usou o desfile para denunciar a intolerncia religiosa.
Carnaval 2022
A galera deveria entender que samba um movimento Negro, deveria entender que o carnaval o nico momento/espao que temos representatividade. nico momento que podemos expor nossa cultura, mostrar a tds que EXU NO DIABO. Que Nossos deuses so representaes.. pic.twitter.com/E7YIUg8GDu
Com as apresentaes, as escolas buscam desmistificar a imagem negativa que parte da populao tem em relao s religies de matriz africana e suas divindades. Um exemplo Exu, tido por muitos como demnio, entretanto, a entidade o mensageiro entre os seres humanos e os orixs. Tambm conhecido por ser a divindade que abre caminhos.
sem dvidas, um dos carnavais mais macumbeiros que a gente j viu, na tv. e eu espero ver vocs que amam orix, no carnaval (e na internet), dentro dos terreiros.
compromisso com ax, uma das coisas mais revolucionrias q podemos fazer, nesse lugar que odeia tudo que nosso
HISTRIA E RESISTNCIA
Com a energia dos orixs e da religiosidade, a histria e resistncia do povo negro tomou conta dos desfiles tanto no Rio quanto em So Paulo.
Rio
Na primeira noite dos desfiles no Rio, a Salgueiro entrou na Sapuca com o tema “Resistncia”, sobre a luta para manter a histria negra viva e lembrando locais fundamentais para a cultura negra carioca.

A Beija-Flor encerrou o primeiro dia com "Empretecer o pensamento ouvir a voz da Beija-Flor", exaltando a contribuio intelectual e cultural negra para o Brasil, defendeu o continente africano como bero das primeiras civilizaes e denunciou o apagamento histrico.
A comisso de frente composta por danarinos executando ritmos e danas africanas, alm de representar o apagamento histrico. A escola trouxe a mensagem “vidas negras importam”, enquanto imagens de George Floyd, homem negro morto nos EUA por policiais, e nomes de negros que tiveram a vida interrompida pela violncia no Brasil passavam em teles. Personalidades negras tambm foram homenageados pela escola.

J no segundo dia no Rio a Paraso do Tuiuti abriu a noite com o samba-enredo "Ka Rba T Ÿe - Que Nossos Caminhos se Abram" e muitas homenagens a personalidades negras, como Nelson Mandela e Zumbi dos Palmares assim como da cultura pop, como Pantera Negra, Beyonc, RuPaul. O Baob, rvore que simboliza a ancestralidade, foi o tema central da Portela. A escola usou a rvore africana para falar sobre razes e longevidade da cultura negra.
So Paulo
O primeiro dia de desfiles em So Paulo teve Colorado do Brs homenageando Carolina Maria de Jesus com o enredo "Carolina – A Cinderela Negra do Canind" e contou tambm com uma rainha de bateria trans, a estreante Camila Prins.

A Acadmicos do Tatuap foi a penltima a desfilar sob o som de “Preto Velho conta a saga do caf num canto de f”, a simbologia do Preto Velho, divindade cultuada nas religies de matriz africana, foi usada como condutor da histria do caf no Brasil. A comisso de frente trouxe o preto velho agradecendo aos orixs por abrir seu caminho.
Coincidentemente, assim como aconteceu no Rio, o segundo dia de desfiles concentrou a maior parte dos desfiles com temticas sobre a negritude. A primeira escola da noite, a Vai-Vai, homenageou os povos africanos com o enredo “Sanfoka! Volte e pegue, Vai-Vai”.
Sanfoka uma referncia a provrbios africanos, que representam o olhar ao passado para construir um futuro melhor. Duas alegorias representavam a retirada de tesouros africanos para exposio no Museu de Londres e o sequestro e trfico de africanos para as colnias de pases europeus.
A segunda escola a entrar no Anhembi foi Gavies da Fiel com o enredo “Basta”, falando sobre desigualdade social e abordando a escravido no Brasil se baseando no movimento “Black Lives Matter”. A escola homenageou personalidades que lutaram pela justia social, como Nelson Mandela, Frida Kahlo, Mahatma Gandhi e o cacique Raoni.

A Mocidade Alegre homenageou a sambista Clementina de Jesus, e a guia de Ouro apostou no branco para homenagear Oxal e a cultura afro brasileira, alm de denunciar a intolerncia religiosa, discriminao de gnero e preconceito com o enredo “Afox de Oxal no cortejo de Bab – um canto de luz em tempos de trevas”.
Por fim, a Barroca Zona Sul, quinta a desfilar em So Paulo, apresentou o Z Pilindra, uma entidade de cultos afro-brasileiros, com o enredo "A evoluo est na sua f... Sarav Seu Z" e mostrou o sincretismo religioso presente no Brasil. Em uma das alas da escola foram representadas sete entidades: preto velho, caboclo, boiadeiro, baiano, cigano, er e marinheiro.
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*Estagiria sob a superviso de Mrcia Maria Cruz