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Segurança Era sábado, 29 de janeiro, quando a reportagem principal do O POVO se voltava à invisibilidade de pessoas trans e travestis, em comemoração à data a elas dedicada. O mote era a participação de Linn da Quebrada no BBB e a insistência dos participantes do programa em errarem o pronome dela (ela).
Essa história é um avanço. É um ganho, uma consequência de lutas. Dá gosto de contar e tentar reverter essa dor, menor do que outras da causa trans.
Duas semanas depois, na sexta-feira, 11, a realidade se impôs. Sofia, travesti de 22 anos e classificada como agradável e engraçada por todos que conheciam, foi brutalmente assassinada a pedradas. Cinco anos depois de Dandara dos Santos, voltamos a manchetar um violento homicídio que parece até imitado daquele horror.
Foi o capítulo final de uma semana de horrores. Começou com chacina em Juazeiro do Norte, na madrugada de terça-feira. Depois veio o homicídio de um jornalista no Pirambu, aparentemente por ter feito o trabalho dele. Teve ainda policial executando desafeto com uma dezena de tiros dentro de delegacia. E duas mãos cheias de casos em todos os cantos do Ceará.
A violência age de forma sorrateira quando vira comum. "Mais uma chacina dentre 50". "Mais um homicídio entre centenas". "Mais uma trans morta entre pelo menos 64 desde 2017 só no Ceará" (segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais). É duro publicar o que vai contra a natureza. O que não devia nunca acontecer.
Mas é obrigação jornalística, até para honrar as vítimas. O desafio é nunca deixar de se chocar com o horror que a sociedade nos impõe.