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A produção do filme Geni e o Zepelim, adaptação da canção homônima de Chico Buarque, anunciou neste sábado (19) mudanças no elenco após forte repercussão negativa nas redes sociais e críticas de artistas e representantes da comunidade trans. A atriz Thainá Duarte, inicialmente escalada para o papel principal, deixou o projeto.
Uma atriz trans será escolhida para o lugar, mas ainda não há nomes confirmados. A polêmica começou na última terça-feira (15), quando a produção divulgou que Duarte interpretaria Geni, ao lado de Seu Jorge, que viveria o comandante do zepelim.
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A personagem, retratada como uma prostituta ribeirinha da Amazônia no filme, é uma travesti na peça Ópera do Malandro (1978), também de Chico Buarque, o que gerou críticas pela escolha de uma atriz cisgênero para o papel.
A definição foi classificada por muitos como “transfake”, que é quando pessoas cis interpretam personagens trans.
Nas redes sociais, diversas vozes se manifestaram. "Poxa, fico muito feliz com a notícia… mas uma atriz trans ou travesti dando vida a esse papel seria tão simbólico e poderoso", escreveu Gabriela Medeiros, a Buba da novela Renascer.
Diante da repercussão, a diretora Anna Muylaert se manifestou publicamente. Em vídeo no Instagram, ela afirmou que, no processo de idealização, a equipe entendeu que Geni poderia ter diversas leituras, inspiradas tanto na letra da música quanto no conto Bola de Sebo, de Guy de Maupassant, que também inspirou Chico.
Poderia ser uma mulher trans, uma mãe solteira, uma carroceira da favela do Moinho, uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade, uma floresta atacada diariamente por oportunistas
Mas Muylaert se disse aberta ao novo debate e questionou “se hoje, em 2025, o mito Geni só pode ser interpretado como uma mulher trans". Assim, podia repensar a escalação.
É o que pediam artistas como Liniker, Majur e Camila Pitanga. "Eu acho que no Brasil que a gente vive hoje, o debate ser aberto como votação se é certo ter uma pessoa trans ou cis nesse papel ou não, já nos expõe grandemente", comentou Liniker.
Com a intensificação das críticas, a diretora e a equipe do filme se reuniram com a Associação de Profissionais Trans do Audiovisual (Apta), que publicou uma nota afirmando que o encontro buscou abrir um canal de diálogo e reivindicação com os responsáveis pela obra.
“Estamos acompanhando ativamente os desdobramentos junto à produção”, disse a entidade.
Neste sábado, a produtora Migdal Filmes confirmou a reescalação do papel principal para uma atriz trans. “A decisão coletiva foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade”, afirmou a empresa.
Anna Muylaert também voltou a se pronunciar após o anúncio. “Foi um debate muito rico. Ouvi muitas vozes e pude entender a dimensão da importância da personagem Geni para a comunidade trans", disse.
Tratar a personagem como uma mulher cis foi um "equívoco", pontuou a diretora.
Thainá Duarte, por sua vez, usou o Instagram para se despedir do projeto. “Lamento que todo esse processo tenha causado tanta dor. Reafirmo meu compromisso com a escuta, aprendizado e com a luta pela equidade. Boa sorte e todo meu carinho”, escreveu a atriz.