“Se pararmos de sonhar, aí já morremos” - Terra

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Ela sabia que era diferente, assim como sabia que teria que ser mais forte do que o resto das pessoas

Ela sabia que era diferente, assim como sabia que teria que ser mais forte do que o resto das pessoas

Foto: Reprodução

Eva Pires, administradora, estudante de pedagogia, professora de balé e revendedora Avon, é uma travesti que luta para vencer os limites do preconceito desde muito cedo. Ela compartilhou sua história no palco do Contaí Summit, evento que reuniu empreendedores LGBTQIAP+, no Hotel Unique, em São Paulo.

Os primeiros títulos acadêmicos de Eva, como diploma em Administração e faculdade de Educação Física, vieram antes de Eva fazer sua transição. 

Mais velha de dois irmãos, desde criança, ela sabia que era diferente, assim como sabia que teria que ser mais forte do que o resto das pessoas. "Na escola, ninguém entendia o meu jeito de falar e de me comportar. Um dia, abaixaram minhas calças e me forçaram a sentar em um formigueiro. Ali eu soube que as coisas não seriam fáceis para mim". 

Ainda sem assumir sua verdadeira essência, Eva trabalhava na oficina do seu pai, onde aprendeu sobre empreender, enquanto estudava. Aos 13 anos, teve contato com uma travesti e se enxergou naquela mulher, sentiu uma esperança de que um dia, poderia ser como ela. 

Pouco tempo depois, a travesti morreu vítima de violência e, toda a crença que Eva tinha em um futuro como mulher trans, foi por água abaixo. "Ali eu entendi que não tinha lugar para mim".

Aos 15 anos, Eva saiu de casa e foi morar com uma tia que a acolheu, ainda sem poder se assumir como mulher trans. “As pessoas reproduzem o preconceito, então mesmo que ela me acolhesse, eu ainda tinha que seguir a regra do gênero normativo”, comenta.

Assim, durante grande parte da sua vida, Eva sentia medo, ouvindo que, se escolhesse o caminho da transição de gênero, seria seu fim. Como um homem branco cisgênero, ela burlou o sistema, fez as faculdades e conquistou experiência profissional, tudo isso anulando sua identidade para não ser violentada.

“Como travesti, mesmo que tenha uma faculdade, mestrado e doutorado, até mesmo para empreender, a transfobia vai impedi-la, de forma internalizada ou explícita”, afirma.

Aos 30, porém, Eva, mexendo em umas maquiagens, passou um batom. "Foi um filme passando na minha cabeça, um flash de quem eu sou, um pedacinho de mim. Imagina, aos 30 anos, tomar uma decisão que mudará sua vida completamente, fazer uma escolha que mostrará sua verdadeira essência. Foi o que eu fiz". 

Pouco tempo após assumir sua identidade, além de dar aulas de dança, Eva se tornou uma revendedora da Avon, para manter sua vida financeira na pandemia, já que as academias e escolas se fecharam. Atualmente, Eva é casada, estuda pedagogia e sonha em ter filhos.

“Eu nunca pensava no futuro. Uma pessoa trans, geralmente, tem uma expectativa de vida de 35 anos, e de 30 anos se for pessoa preta. Mas hoje, enfrento o medo que temos em nosso país e eu me permito sonhar, pois se deixarmos de sonhar, aí é que já morremos", ressalta, Eva.

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