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Cinco anos separam os assassinatos de Dandara dos Santos e Sofia Gisely. Mas algumas características as unem: ambas eram travestis, moradoras da periferia de Fortaleza e foram mortas de forma brutal. Coincidências? Em se tratando de Brasil e da LGBTfobia que o atravessa de uma ponta à outra, fica impossível chegar a essa conclusão.
Há um modus operandi na forma como essas pessoas são apagadas da nossa sociedade, seja de forma simbólica, por meio da exclusão e do silenciamento, seja de forma concreta, tirando-lhes a vida. E quando se trata de travestis, a violência é ainda mais impiedosa.
Foram elas que, historicamente, deram primeiro a capa a tapa para que homossexuais tivessem o mínimo de direitos. E, hoje, ainda são as menos amparadas, as que mais sofrem todos os tipos de agressões, muitas vezes com requintes de crueldade. Crimes de ódio que vão se sucedendo numa velocidade assustadora.
Pilhas de corpos se amontoando sobre as nossas costas. Sim, fica difícil também não se sentir culpado por essas tragédias. Fomos e somos incapazes de proteger as nossas travestis. Acolhê-las, defendê-las, amá-las.
Porque é muito fácil declarar admiração por "Pabllos Vittars" ou "Linns das Quebradas" da vida, sem desmerecer, claro, a importância de ambas. Mas e a travesti pobre, preta, que vende o corpo para sobreviver na avenida Osório de Paiva ou na José Bastos, humilhada desde a infância, sem oportunidades, repudiada por tantos?
O que, de fato, estamos fazendo para evitar que não virem apenas números nas estatísticas de homicídios desse País e suas várias guerras? E voltando a falar de Dandara e Sofia, não, não há coincidências. Há condescendências para com os criminosos. Tratam essas mortes como banais. Naturaliza-se o absurdo.
A violência contra a liberdade de existir, de ser quem se é, só cresce. Em 2020, foram 175 mulheres transexuais e travestis mortas, um aumento de 41% em relação ao ano anterior. Cerca de 72% dos assassinatos tiveram como alvos profissionais do sexo; 78% delas eram negras. Ou seja, há um recorte de gênero, classe e raça nesse contexto de alta vulnerabilidade.
Passou da hora de poder público e sociedade enxergarem as pessoas trans e travestis como seres humanos que precisam de ações urgentes nas áreas de segurança, assistência social, saúde e educação. Sem conversinha mole. A empatia, as lamentações e as homenagens precisam evoluir para uma rede ampla voltada para esse segmento tão marginalizado. É dever do Estado garantir-lhes dignidade, e o caminho é bem longo.

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