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Neste domingo (24), às 19h, a Casa da Ribeira recebe o espetáculo “Acordo de Paz”, protagonizado por Vênus de Morais e dirigido por José Neto de Barbosa. A obra, produzida pela Poss Cultura, nasce como um experimento cênico de caráter político e poético, colocando em cena as narrativas travestis em diálogo com a política institucional e cotidiana.
Em entrevista ao Saiba Mais, Vênus compartilhou o processo criativo e a potência do trabalho.
“A ideia nasceu de uma conversa da gente da Ciência de Teatro, vendo algumas documentações de Erika Hilton, principalmente a entrevista dela no Roda Viva, que foi de crucial importância para que a gente se inspirasse em fazer todo o processo de criação. A partir de todas as falas que ela trouxe para a gente e a forma como ela trouxe isso, a gente sentiu que existia muito potencial criativo para o teatro, sabe? Tanto as narrativas que ela aborda, quanto a própria vida dela. E aí, a partir disso, a gente teve essa ideia de interseccionalizar a vida dela com a vida de todas as outras gatinhas estranhas que ocupam cargos políticos no Brasil, e tentar fazer um grande mosaico, assim.”
A artista ressalta que a montagem se constrói a partir de diferentes perspectivas da política.
“É um espetáculo que vai falar bastante sobre política, no macro da coisa, tudo que a gente entende sobre política, política institucional, todas as estruturas e poderes. Quanto no micro, que é nas vivências cotidianas que muitas de nós não temos acesso, né? Como, por exemplo, ter a família por perto, ter a oportunidade de emprego, conseguir sobreviver, prosperar e tudo mais.”
O trabalho não se limita a referências externas: entrelaça também a trajetória pessoal da atriz com o contexto brasileiro.
“Além de evidenciarmos a vida e a trajetória de todas elas na política, a gente interseccionou muito dessas histórias com as minhas vivências pessoais. E fomos fazendo a intersecção do que a gente vive enquanto gatinha trans num país como o Brasil, né? Que pelo 17º ano consecutivo é o país que mais mata pessoas como a gente. E a importância de estar num local desse faz a gente refletir do porquê que é tão precioso e tão grandioso que uma mulher trans esteja ocupando um lugar de protagonismo do teatro. Porque nos faz refletir que esse lugar também é um lugar que é caro para as nossas. É um lugar que não é receptivo com as nossas. E que apesar de eu estar ali, apesar de a gente ver Renata Carvalho ali, Avia Terrena e algumas outras, ainda assim, é um local que precisa ser mais ocupado. Porque ele nos dá poder de contar as nossas próprias narrativas e nos dá o poder de tomar decisões e de construir junto com a sociedade novos imaginários, construir universos possíveis.”
O título da obra, explica Vênus, traduz a proposta estética e política do experimento:
“Esse nome, Acordo de Paz, deleia muito essa questão do tratado de paz mesmo com a cisgeneridade, que é quem repercute e reproduz a transfobia, né? É uma tentativa, digamos assim, artística, poética, de fazer com que a cisgeneridade pegue na nossa mão e enxergue, no mais profundo do nosso ser, que nós somos seres humanos e que nós merecemos tanto quanto eles vivermos uma vida digna, uma vida com afeto, uma vida com possibilidades, com abundância, com prosperidade.”
Com supervisão de Ave Terrena, colaboração de Fernanda Cunha e comunicação assinada pela Poss Comunicação, o espetáculo é resultado da pesquisa Política Travesti, financiada pela Política Nacional Aldir Blanc, do Ministério da Cultura e Governo Federal. A dramaturgia tem apoio da Prefeitura do Natal, Secult-Funcarte, Fundação José Augusto e Secretaria de Cultura do RN, com realização da S.E.M. Cia. de Teatro.
A entrada é gratuita, mediante a doação de 1kg de alimento não perecível ou item de higiene pessoal, com ingressos distribuídos uma hora antes do início da apresentação. O espetáculo contará com interpretação em Libras, reforçando o compromisso com a acessibilidade.
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