Paraíso do Tuiuti promete reflexões ao contar sobre primeira travesti não indígena documentada

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Respeitada e reconhecida como mulher no Congo, Xica foi trazida para ser escravizada em Salvador

Por Guilherme Faria

26/02/2025 • 19:30
Paraíso do Tuiuti promete reflexões ao contar sobre primeira travesti não indígena documentada

Quem tem medo de Xica Manicongo?

Paraíso do Tuiuti

Quem tem medo de Xica Manicongo? Essa é a pergunta que o Paraíso do Tuiuti vai levar à Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2025. A escola promete emocionar a Avenida e trazer reflexões ao contar a história da primeira travesti não indígena documentada no Brasil. 
 
Respeitada e reconhecida como mulher no Congo, Xica foi trazida para ser escravizada em Salvador no século XVI. No Brasil sob domínio português, ela foi batizada de Francisco e obrigada a assumir uma identidade masculina que não lhe pertencia. 
 
O enredo desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos promete fazer uma viagem pela vida da figura histórica de Xica Manicongo, que resistiu ao preconceito mesmo em meio à dura realidade da escravidão.

Xica Manicongo foi o primeiro caso de transfobia que se tem registro na história do Brasil, porque ela foi indiciada pela Santa Inquisição na primeira visita que eles fizeram ao Brasil lá na Bahia, que é para onde ela foi levada quando foi escravizada.

Com roupas e modos que não eram considerados adequados a um homem, Xica foi acusada de fazer parte de uma quadrilha de feiticeiros sodomitas e denunciada à Inquisição, instituição da Igreja Católica que julgava os atos classificados como heresia. 
 
Fichada, ela foi condenada à fogueira em praça pública. Para escapar da pena, aceitou um acordo e passou a se vestir como homem, abdicando - por ora - de sua identidade feminina. Mas Xica não desistiu e encontrou refúgio na floresta, junto ao Povo Tupinambá. Na espiritualidade, criou mais uma forma de resistência. 

A gente acabou descobrindo inclusive um lado espiritual em relação à personagem. A Xica Manicongo era uma grande feiticeira, era uma mulher muito respeitada em África e o que hoje a gente conhece como quimbanda. Então, ela era uma grande feiticeira, ela era uma mulher de muito poder, de muita sabedoria.

Segunda escola a desfilar na terça-feira de carnaval, o Paraíso do Tuiuti planeja um desfile inclusivo, com a participação de lideranças e mulheres trans nas diversas alas da agremiação. 
 
A construção do enredo também contou com a participação da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a ANTRA, que contribuiu com pesquisas que embasaram o desenvolvimento do desfile. 
 
Para a Rainha de Bateria do Tuiuti, Mayara Lima, o enredo apresentado pela escola traz uma mensagem forte e importante para o Carnaval. 

Contar a história de Xica Manicongo na Sapucaí é algo inspirador. Acredito que não só para o Tuiuti, para fazer um belíssimo desfile, mas também para todo Carnaval. Eu pretendo representar essa grande personagem com muita responsabilidade, com muito respeito, exaltando cada vez mais a voz e a história de cada uma dessas mulheres trans.

Unindo cultura, resistência e humanidade, o Paraíso do Tuiuti quer, também, levar à Avenida uma mensagem de respeito à comunidade trans no Brasil, país que mais mata pessoas do gênero no mundo. 
 
Para além das reflexões, a escola promete surpresas que vão emocionar o público desde a comissão de frente, coreografada por Cláudia Mota e Edifranc Alves. O elenco principal da comissão vai ser composto por bailarinas trans e travestis. Elas também vão ser destaque em outras alas da agremiação. 

O nosso elenco principal da Comissão de Frente são bailarinas trans, são mulheres trans e travestis que estão compondo a Comissão de Frente. Então, eu acho que a presença das mulheres trans e das travestis durante o enredo e sendo mostrada como dançarinas, como bailarinas, como homenageadas, sabe, como destaques, 'né'? Eu acho que isso é muito emocionante.

Na letra do samba, assinado por Cláudio Russo e Gustavo Clarão e interpretado por Pixulé, o pedido é claro: que não haja julgamento pela boca que ela beija, pela roupa que ela usa ou pela fé que ela professa. Ela não vai parar. Afinal, Xica conhece o seu desejo. 

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