Operação 'Libertas': MPMG denuncia ex-vereadora Pâmela Volp e filha por tentativa de latrocínio contra travesti em Uberlândia; outros crimes são acompanhados - G1

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O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou a ex-vereadora Pâmela Volp e a filha, Paula Volp, por uma tentativa de latrocínio ocorrida em 2018 contra uma travesti, em Uberlândia. Além disso, outros inquéritos policiais envolvendo as duas são acompanhados pelo órgão. As informações foram confirmadas durante entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (18) após a segunda fase da Operação “Libertas”. A ação investiga uma associação criminosa no município suspeita de exploração sexual contra travestis e transsexuais e outros crimes.

Outra questão em relação às duas investigadas são que as prisões de ambas passaram a ser preventivamente, ou seja, devem seguir em reclusão até quando for necessário para o processo. Lamar Bionda, que foi detida junto com as duas durante a primeira fase da ação, foi liberada na quarta-feira (17).

Segundo o MPMG, há relatos de que o esquema investigado tenha tido início em 1992 e, assim, já dura há quase 30 anos.

 Gaeco cumpre mandados em nova fase da ação em Uberlândia

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De acordo com o promotor do Gaeco, Thiago Ferraz, a ação penal que está em curso é a da tentativa de latrocínio que tem “uma pena muito alta no ordenamento jurídico e pode chegar a até 30 anos de prisão”. O crime foi registrado no ano de 2018.

Na época, a vítima era uma travesti que veio de Catalão (GO) e estava “fazendo ponto” na região próxima ao Motel Vegas, em Uberlândia.

“Três pessoas, que já foram identificadas, acompanhadas de outras duas não identificadas, chegaram de carro, abordaram essa travesti e já desceram agredindo”, detalhou Ferraz.

Ainda conforme a descrição do promotor, elas “desceram com barra de ferro, deram um golpe na nuca, a travesti caiu e a chefe da organização começou os espancamentos com chutes e socos e deixou a vítima desacordada. Ela foi até a UAI [Unidade de Atendimento Integrado] Roosevelt, mas estava tão apavorada que fugiu de lá. Essas pessoas foram identificadas, duas já tiveram as prisões preventivas decretadas".

O g1 apurou que a pessoa apontada como a chefe da organização pelo promotor do Gaeco é Pâmela Volp. Já a segunda é a filha dela. A terceira não teve o nome divulgado. Mesmo com o crime tendo ocorrido há mais de 3 anos, a vítima ainda diz que é intimidada constantemente.

A audiência de instrução e julgamento da tentativa de latrocínio está marcada para ocorrer no dia 27 de janeiro de 2022. Na ocasião, serão ouvidas testemunhas, vítimas, peritos e acusados para, posteriormente, ser decidido pelo juiz o futuro dos investigados.

Além da tentativa de latrocínio, o MPMG acompanha outros cinco inquéritos policiais, sendo três deles homicídios.

“O MPMG postulou também pelo pagamento de indenização em favor da vítima do crime de tentativa de latrocínio e assim vai proceder em todas as ações penais que forem deflagradas. Estamos com muito material na extração de telefones. As vítimas têm contribuído muito”, detalhou o promotor.

Ainda conforme o órgão, também há informações de que havia um possível esquema relacionado ao envio de travestis para a Itália. “Nós recebemos também a ligação de uma travesti que confirmou que havia uma rede de prostituição comandada por ela [Pâmela Volp] na cidade de Monza”, disse Ferraz.

Caso você tenha sido uma possível vítima da organização criminosa, o Gaeco pede para comparecer na Rua São Paulo, nº 95, no Bairro Tibery, para realizar a denúncia.

Gaeco em frente ao mausoléu da família de Pâmela Volp — Foto: Reprodução/Rede social

Na segunda fase da operação, desencadeada na quarta-feira, dois mandados de prisão foram cumpridos, sendo um de Raquel Rosa, classificada como “gerente” de Lamar Bionda, além de Paula Coco, que foi presa em Criciúma (SC) e era responsável pelo intercâmbio de travestis entre o Sul do país e Uberlândia.

Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Entre os endereços estão um mausoléu em Tupaciguara e um apartamento na Praia Grande (SP), ambos da ex-vereadora Pâmela Volp.

O carro de Pâmela Volp, um porshe avaliado em R$ 1 milhão, também foi entregue ao MPMG. Conforme o capitão da Polícia Militar (PM) de Uberlândia, Elias Alves, o veículo, assim como outros bens, eram utilizados para lavagem de dinheiro e disfarçar a origem do valor.

Porshe avaliado em R$ 1 milhão, que é de propriedade da ex-vereador de Uberlândia, Pâmela Volp — Foto: Divulgação

Ainda durante a coletiva, o promotor foi questionado sobre as manifestações que pediam pela liberação das investigadas (veja vídeo abaixo). Ferraz afirmou que “certamente foi uma manifestação montada, arquitetada para chamar atenção da imprensa, pois de todas as meninas que a gente tem ouvindo, nenhuma levanta a bandeira para essas cafetinas”.

"Uma coisa que chamou atenção foi que no dia 5 de novembro de 2021, nós tivemos a informação da participação de várias integrantes na tentativa de intimar de extorquir travestis que faziam ponto no Bairro Dona Zulmira. Isso evidencia que o grupo insiste em intimidar essas vítimas”, completou o promotor.

Grupo manifesta contra a prisão da ex-vereadora Pâmela Volp em Uberlândia

Grupo manifesta contra a prisão da ex-vereadora Pâmela Volp em Uberlândia

O que dizem os envolvidos?

Em nota enviada na quarta-feira, o advogado de Pâmela e Paula Volp, Rogério Inácio de Oliveira, afirmou que a ex-vereadora foi ouvida na terça-feira (16) por cerca de 2 horas, prestou todos os esclarecimentos e não se negou a explicar absolutamente nada, mesmo sem ter acesso ao "trabalho ministerial".

O g1 não conseguiu contato com a defesa das outras pessoas citadas até a última atualização desta matéria.

Segundo o MPMG, as apurações realizadas demonstram a existência de uma associação criminosa com base na cidade de Uberlândia, voltada a estabelecer o monopólio da exploração sexual de travestis e transsexuais no município e região.

Além disso, as investigações comprovaram que o grupo explora uma grande rede de prostituição envolvendo travestis e transexuais, bem como financia procedimentos estéticos realizados clandestinamente e de forma ilegal.

O Gaeco constatou ainda que a exploração financeira da prostituição de travestis e transexuais é exercida pelo bando sempre com uso de violência e graves ameaças, sendo que em alguns casos, a partir de oitivas realizadas pelo MPMG, existem suspeitas até de homicídios consumados e tentados envolvendo os investigados.

De acordo com o Gaeco, uma morte relacionada ao grupo criminoso também é apurada. Trata-se da transexual Ailson Souza da Silva, que tinha 20 anos de idade e era do interior do Estado do Acre. Ela morreu após colocar silicone com auxílio de Pâmela e Lamar. A data do óbito não foi informada.

O esquema "divide" Uberlândia em duas partes para a exploração sexual das travestis, sendo que existe um acordo entre Pâmela e Lamar, para cada uma "comandar" uma área da cidade.

Foto de arquivo de Pâmela Volp na época que era vereadora em Uberlândia — Foto: Aline Rezende/Câmara de Uberlândia/Divulgação

Durante a Operação "Caraxué", da Polícia Federal, desencadeada em outubro de 2006, foram presas 9 pessoas em Uberlândia, Florianópolis (SC) e Franca (SP). Na ação, a polícia encontrou 12 travestis que se prostituíam em uma casa de Volp no Bairro Chácaras Tubalina.

Em 2014, a ex-vereadora foi condenada, junto a outras 6 pessoas, pela Justiça Federal por envolvimento com o tráfico internacional de pessoas. Conforme a decisão, o esquema envolvia o "comércio" de travestis e mulheres para países como a Itália e a Espanha.

Na época, Volp e outras 2 pessoas foram apontadas pela Justiça como chefes do esquema e foram condenadas a cumprir a pena em regime fechado. Além disso, 4 pessoas tiveram penas entre 6 e sete 7 no regime semiaberto. No entanto, a ex-vereadora recorreu da decisão e o caso foi para segunda instância.

No julgamento em segunda instância, ela foi absolvida pelos crimes de tráfico de pessoas e rufianismo - quando a pessoa toma vantagem da prostituição alheia. Porém, Pâmela foi condenada pela pena mínima pelo crime de favorecimento à prostituição.

Volp ainda teve o nome ligado na Operação “Má Impressão”, desencadeada pelo Gaeco em 2019, que apurou um esquema de desvio de verbas indenizatórias por meio da contratação de serviços gráficos. Em 2020, ela teve o mandato cassado na Câmara Municipal de Uberlândia.

OPERAÇÃO 'LIBERTAS: GAECO LIGA EX-VEREADORA DE UBERLÂNDIA PÂMELA VOLP A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

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