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O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) realizou nesta quarta-feira (17) a segunda fase da operação 'Libertas', que apura os crimes de associação criminosa, exploração sexual, manutenção de casa de prostituição, roubo, lesão corporal, homicídio, constrangimento ilegal, ameaça, posse e porte de arma de fogo. Crimes cometidos por um grupo criminoso que seria comandado pela ex-vereadora de Uberlândia Pâmela Volp.
O Gaeco em conjunto com a 18ª Promotoria de Justiça de cumpriu em Uberlândia, Tupaciguara e Criciúma (SC) 2 mandados de prisão temporária, 4 de busca e apreensão e 3 ordens judiciais de remoção e apreensão de veículos. A operação teve a participação da 9ª Região de Polícia Militar e também do Gaeco de Estado de Santa Catarina. Os nomes dos detidos não foram divulgados.
Foram apreendidos veículos suspeitos de terem sido usados em práticas criminosas ou que foram adquiridos com o recursos ilícitos, sendo que todos permanecerão custodiados durante as investigações. Ainda segundo o MPGM, em um dos endereços alvo da medida judicial de busca e apreensão, situado na cidade de Criciúma, foi apreendido o montante em espécie de mais de R$ 58 mil reais.
A equipe do Gaeco esteve em um cemitério em Tupaciguara, onde há um mausoléu da família de Pâmela Volp (veja vídeo acima). A suspeita é que o grupo guardava dinheiro do crime no local.
Alem de Pâmela Volp, a filha dela, Paula Volp, e Lamar Bionda foram presas durante a primeira fase da Operação Libertas, no dia 8 de novembro. Na ação, além dos 3 mandados de prisão temporária, foram cumpridos 11de busca e apreensão em Uberlândia. Foram apreendidos aparelhos celulares, computadores, documentos, próteses de silicone e cerca de R$ 106 mil.
Nesta quarta-feira, venceria o prazo das prisões temporárias de Pâmela Volp, Paula Volp e Lamar Bionda. Mas o MPMG conseguiu converter as detenções para prisões preventivas, que podem durar até 90 dias.
As investigações do Gaeco demonstram a existência de uma associação criminosa com base em Uberlândia, voltada a estabelecer o monopólio da exploração sexual de travestis e transsexuais na cidade e região, mediante a utilização de graves ameaças e lesões corporais graves contra quem tenta praticar a prostituição de forma independente do grupo.
Há provas, segundo o MPMG que o consórcio criminoso explora uma grande rede de prostituição, bem como financia procedimentos estéticos realizados clandestinamente e de forma absolutamente ilegal.
O Gaeco constatou ainda que a exploração financeira da prostituição de travestis e transexuais é exercida pelo bando sempre com uso de violência e graves ameaças, sendo que em alguns casos, a partir de oitivas realizadas pelo Ministério Público de Minas Gerais, existem suspeitas até de homicídios consumados e tentados envolvendo os investigados.
Em nota o advogado de Pâmela e Paula Volp, Rogério Inácio de Oliveira, disse que a ex-vereadora foi ouvida ontem, 16, por cerca de 2 horas, prestou todos os esclarecimentos e não se negou a explicar absolutamente nada, mesmo sem ter acesso ao 'trabalho ministerial'.
O g1 não conseguiu contato com a defesa de Lamar Bionda.
Gaeco em frente ao mausoléu da família de Pâmela Volp — Foto: Reprodução/Rede social
Grupo manifestou contra prisão

Grupo manifesta contra a prisão da ex-vereadora Pâmela Volp em Uberlândia
Um grupo de pessoas esteve na última sexta-feira (12) na porta do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em Uberlândia, para manifestar contra a prisão de Pâmela e Paula Volp e de Lamar Bionda.
Com cartazes e faixas o grupo gritava palavras de ordem em defesa das suspeitas e pedia a liberdade delas. Uma das integrantes do grupo disse à TV Integração que todas as acusações que fazem contra a ex-vereadora Pâmela Volp não passam de fatos mal interpretados e mentiras.
Paula Volp (à esquerda), Pâmela Volp (ao centro) e Lamar Bionda (à direita) foram detidas durante a operação "Libertas" — Foto: Arte/g1
A ex-vereadora Pâmela Volp, a filha dela Paula Volp e Lamar Bionda prestaram depoimento em Uberlândia. O trio é suspeito de exploração sexual contra travestis e transsexuais, realização de cirurgias clandestinas e outros crimes.

Operação 'Libertas': promotor do Gaeco fala sobre depoimentos e denúncias em Uberlândia
Denúncias e imagens recebidas
Ainda em entrevista à TV Integração, Thiago Ferraz explicou que o Gaeco irá analisar imagens recebidas por possíveis vítimas após a realização de cirurgias plásticas.
A organização criminosa também é suspeita de financiar procedimentos estéticos realizados clandestinamente e de forma ilegal.
Em algumas das fotos, é possível ver Pâmela Volp durante a troca de curativos após cirurgias. (Confira abaixo as imagens).
Imagem mostra Pâmela Volp trocando curativo — Foto: Divulgação
Imagem mostra Pâmela Volp trocando curativo — Foto: Divulgação
Imagem mostra Pâmela Volp trocando curativo — Foto: Divulgação
Caso você tenha sido uma possível vítima da organização criminosa, o Gaeco pede para comparecer na Rua São Paulo, nº 95, no Bairro Tibery, para realizar a denúncia.
Veja abaixo o que se sabe até agora da Operação "Libertas" e da organização criminosa nas respostas às seguintes perguntas:
- Como foi o início das investigações?
- Há morte sendo apurada?
- Como era o esquema?
- Como foram as prisões?
- Quem é Pâmela Volp?
- O que dizem os envolvidos?
1. Como foi o início das investigações?
Dinheiro apreendido durante a Operação 'Libertas' em Uberlândia — Foto: Gaeco/Divulgação
Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), as apurações realizadas demonstram a existência de uma associação criminosa com base na cidade de Uberlândia, voltada a estabelecer o monopólio da exploração sexual de travestis e transsexuais no município e região.
Além disso, as investigações comprovaram que o grupo explora uma grande rede de prostituição envolvendo travestis e transexuais, bem como financia procedimentos estéticos realizados clandestinamente e de forma ilegal.
"Outro ponto de destaque das apurações foi a verificação da exploração financeira desses travestis e transexuais por meio da implantação de silicone industrial, prática criminosa e altamente perigosa, realizada em locais inapropriados e por pessoas absolutamente inabilitadas, existindo também suspeitas de mortes que ocorreram em decorrência desses procedimentos ilegais capitaneados pelo grupo investigado", explicou o MPMG em nota.
Conforme o promotor do Gaeco, Thiago Ferraz, Pâmela Volp tinha também uma "ponte" com uma clínica clandestina em São Paulo, para a aplicação de prótese mamária. A mesma pegou fogo recentemente e uma mulher trans foi abandonada sedada no interior do local.
Casa no Bairro Tibery onde funcionava uma das clínicas clandestinas em Uberlândia — Foto: Loise Monteiro/g1
2. Há morte sendo apurada?
De acordo com o Gaeco, uma morte relacionada ao grupo criminoso é apurada. Trata-se da transexual Ailson Souza da Silva, que tinha 20 anos de idade e era do interior do Estado do Acre. Ela morreu após colocar silicone com auxílio de Pâmela e Lamar. A data do óbito não foi informada.
"[A trans] procurou a Pâmela. Por indicação da Pâmela, esse silicone foi autorizado junto à Lamar Bionde. Esse silicone foi aplicado, a travesti começou a passar mal, foi internada em Uberaba e acabou não resistindo. Ela faleceu em decorrência de choque hipovolêmico, em decorrência desse silicone de construção, que era aplicado através de uma seringa de cavalo", contou o promotor Thiago Ferraz.
Segundo Ferraz, foi descoberto um esquema que "divide" Uberlândia em duas partes para a exploração sexual das travestis, sendo que existe um acordo entre Pâmela e Lamar Bionda, para cada uma "comandar" uma área da cidade.
Ainda conforme Ferraz, além de pagar R$ 50 pelo ponto de prostituição, as travestis pagam a própria alimentação e moradia. "Caso haja um aumento da dívida por falta de programa ou as pessoas estiverem doentes, algo nesse sentido, a diária é computada independente e aí gera esse valor. Para sair dessa teia tem que pagar, se não pagar aí começa constrangimento, lesão, roubo e por aí vai", complementou.
Operação esteve na casa da ex-vereadora Pamela Volp em Uberlândia — Foto: Michelle Pereira/g1
Anteriormente, o MPMG ouviu algumas pessoas que trabalham ou trabalharam com Pâmela anteriormente. Segundo o promotor, o esquema é antigo e muitas pessoas de fora da cidade já contatam a ex-vereadora para saber como funciona.
4. Como foram as prisões?

Carros de luxo encontrados durante a operação em Uberlândia
No dia 8 de novembro, as três envolvidas no esquema foram presas. Conforme o Gaeco, Paula cuidava da questão financeira da quadrilha, enquanto Lamar e Pâmela eram as responsáveis pelos pontos.
Na casa de Pâmela Volp foram apreendidos R$ 106 mil em dinheiro. Nas notas, constam os nomes das travestis que pagavam as diárias.
Também foi confirmado que há diversos imóveis no nome da ex-vereadora, além de dois veículos de luxo, que custam mais de R$ 800 mil somados.
Foto de arquivo de Pâmela Volp na época que era vereadora em Uberlândia — Foto: Aline Rezende/Câmara de Uberlândia/Divulgação
Durante a Operação "Caraxué", da Polícia Federal, desencadeada em outubro de 2006, foram presas 9 pessoas em Uberlândia, Florianópolis (SC) e Franca (SP). Na ação, a polícia encontrou 12 travestis que se prostituíam em uma casa de Volp no Bairro Chácaras Tubalina.
Em 2014, a ex-vereadora foi condenada, junto a outras 6 pessoas, pela Justiça Federal por envolvimento com o tráfico internacional de pessoas. Conforme a decisão, o esquema envolvia o "comércio" de travestis e mulheres para países como a Itália e a Espanha.
Na época, Volp e outras 2 pessoas foram apontadas pela Justiça como chefes do esquema e foram condenadas a cumprir a pena em regime fechado. Além disso, 4 pessoas tiveram penas entre 6 e sete 7 no regime semiaberto. No entanto, a ex-vereadora recorreu da decisão e o caso foi para segunda instância.
No julgamento em segunda instância, ela foi absolvida pelos crimes de tráfico de pessoas e rufianismo - quando a pessoa toma vantagem da prostituição alheia. Porém, Pâmela foi condenada pela pena mínima pelo crime de favorecimento à prostituição.
Volp ainda teve o nome ligado na Operação “Má Impressão”, desencadeada pelo Gaeco em 2019, que apurou um esquema de desvio de verbas indenizatórias por meio da contratação de serviços gráficos. Em 2020, ela teve o mandato cassado na Câmara Municipal de Uberlândia.
6. O que dizem os envolvidos?
Em nota, o advogado de defesa de Pâmela Volp e Paula Volp, Rogério Inácio, enviou um pronunciamento. Veja abaixo na íntegra.
"Sobre a Pamela e Paula, elas responderam a tudo com tranquilidade. Esse universo em que elas (travestis) vivem, é cheio de maldade e distorções. A Pamela sempre foi uma vitrine, chama a atenção por onde passa, muito embora seja uma pessoa extremamente simples. O fato de ter e gostar de carros, é levado a uma nivel de suposição e distorção absurda, sendo que basta rever seu historico que tudo se explica. Ela, a exemplo de qualquer pessoa que queira ter e possa de fato pagar, tem seu carro privativo, mas querem sugerir em nitida inveja ou sentimento pior, que foi adquirido de foram ilicita. Ela declarou à receita, à justiça eleitoral e sua vida pode ser vasculhada que não vão encontrar ilicitudes. É uma pessoa digna, que luta e enfrenta tudo com honestidade. Podem criar especulações, suposições, fantasias, o que for, a verdade é que uma pessoa boa, honesta e que por ser travesti, tem sua vida atacada de todos os lados. A sociedade é que precisa se reinventar, não ela".
Até a última atualização desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com Lamar Bionda.


