Nany People se apresenta na região neste domingo - Jornal NH

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Nany People é atriz, comediante e repórter. Atua nos palcos e nas telas - grandes e pequenas. Faz comédia, entrevista e dá entrevistas. Fala dos bons e maus hábitos da nossa vida neste mundo digital de smartphones e zapzaps, do ponto de vista da geração dos cinquenta e poucos anos, que “deitou na ficha telefônica e acordou na fibra ótica”.

Nany People Nany People Foto: Divulgação

E quando ela faz sua crônica humorística do cotidiano, o público pára e ouve. Ao menos foi assim em suas passagens pelo Rio Grande do Sul. Em 2020, ela apresentou seu espetáculo de stand up comedy Tsunany no tradicional festival Porto Verão Alegre e lotou o teatro do Bourbon Country. Voltou em 2022 para shows na capital em em Ijuí. E retorna agora.

Nesta nova vinda ao Sul, uma agenda com três shows, que começou na sexta-feira, no teatro da Amrigs, em Porto Alegre; segue no sábado, no Teatro Murialdo, em Caxias do Sul; e chega a Novo Hamburgo no domingo.

O espetáculo Tsunany será apresentado no Teatro Feevale a partir das 20h. Os ingressos estão disponíveis no site blueticket.com.br e custam a partir de R$ 84, com meia entrada para idosos, estudantes, menores de 15 anos, doadores regulares de sangue, pessoas com deficiência e jovens de baixa renda). A classificação é 14 anos.


Quando e como nasceu Nany People?

A Nany foi a somatória de toda uma ânsia, uma busca, uma procura, uma libertação que eu já tinha da minha infância. Até chegar no nome e na caracterização da Nany foi um processo. Se vestir de mulher pra mim sempre foi uma grande terapia, desde que eu conheço por gente. Minha mãe saia e eu ia usar a maquiagem dela, ia no salto dela. Com quatro anos de idade eu punha pano de prato na cabeça, queria fazer cabelo. O universo feminino sempre atraiu muito.

Eu acho que a Nany profissionalmente, de se lançar, se projetar na noite na TV, nos palcos foi uma somatória de toda uma busca de mais de vinte anos de vida. Eu me tornei Nany People aos 28 anos de idade, estou com cinquenta e sete, então passei metade da minha vida vivendo a realidade Nany People. Os shows, eu comecei da noite, trabalhei na noite por muito tempo. Devido à minha formação teatral eu fui para a TV, passei por TVs que nem existem mais. Foi uma realização e um empoderamento muito grandes. Eu conquistei como Nany People o que eu não ousaria conquistar só com a carreira de ator.

O que o público deve esperar da passagem do Tsunany pelo Rio Grande do Sul?

Fazer espetáculo é como fazer aniversário: é você testar a sua publicidade. Eu já fui ao Rio Grande do Sul duas vezes e fui muito bem recebida. Cheguei a fazer o Porto Verão Alegre lotado, lá no Bourbon, e foi uma grata surpresa ver o carinho, a receptividade e o afeto do povo gaúcho. Achei que eu nem era tão conhecida ainda, porque o Brasil tem muitos Brasis, né? Eu sou mineira, de Poços de Caldas, e estou em São Paulo há trinta e sete anos. Me sinto muito confortável e com uma expectativa e de estar podendo fazer essa correria com o show, que o stand up permite. É uma situação de igual tensão, eu costumo dizer: de mim para com o público e do público para comigo. Estou muito feliz de estar de volta.

Quais os principais temas abordados no show?

Esse formato de stand-up permite ser modificado o tempo todo. Tem piadas que entraram no outro show e talvez não entrem nesse, porque eu me ligo muito em fatos diários, noticiários, tudo isso. Em suma, ele fala dos bons e maus hábitos modernos, da tecnologia na nossa vida. Eu cito muito a minha geração, de cinquenta e poucos anos, que deitou na ficha telefônica e acordou na fibra ótica. Como é que a gente lida com isso, com essas improvisações, com essas novidades? Como esse acervo tecnológico nos empodera, nos dilacera? Como isso mexe na nossa vida social, emocional, econômica e até sexual. E é uma grande diversão?

No meio do stand-up tem uma pegada motivacional, porque o humor também é isso, ele é motivador e sobretudo ele cura. É um show de interação total com o público e de uma extrema análise da nossa vida, do que a gente anda fazendo da nossa existência e das nossas transações humanas

Antes de atuar em peças, filmes e programas de TV, que outros trabalhos você teve? Como foi esse período até a conquista do seu espaço como artista profissional?

Ser artista é uma ideia que tenho desde os quatro anos de idade, mas viver do teatro foi a partir dos vinte e poucos anos. Antes disso, fui auxiliar escritório, bancária, vendedora de loja, de vestido de noiva, maquiadora, bilheteira de teatro, camareira, garçonete, barwoman, fiz técnico de laboratório de análise clínica industrial, mas nunca exerci. Só não virei prostituta por falta de talento, porque vocação acho que eu teria, meu bem.

E nunca fiz uma coisa só, sempre fiz isso, aquilo e aquilo outro também, como hoje em dia. Sou contratada da TV Globo, mas faço teatro, eventos, filme, faço tudo. Mas até viver de teatro, eu me virei pra sobreviver, porque eu saí de casa muito jovem, com vinte anos, com o dinheiro de ida para São Paulo, sem ajuda de custo, sem mesada, sem ninguém me bancar, até porque não tinha condição. Eu sou uma sobrevivente, que fez da arte sua profissão de fé e ajudo muito a minha família até hoje com o dinheiro do meu trabalho.


Você se descobriu transexual já na idade adulta. Como foi esse processo de descoberta da sua sexualidade?

Eu sabia que eu era diferente. Eu não sabia que o nome era esse. Com dez anos de idade me levaram num psiquiatra, porque eu tinha uma disfunção social. Eu não não me adequava aos moldes de um garoto convencional. Então já tinha todo essa identidade, essa ligação com o universo feminino. Eu brincava sempre com as meninas, estava sempre junto com elas e o grande choque cultural aconteceu quando eu mudei de Serrania, sul de Minas, pra Poços de Caldas. Ali teve um choque muito grande. Quando eu cheguei em São Paulo que um amigo me falou “você não é gay, você é trans”. Eu nem sabia o que era isso, porque no meu tempo não tinha nome pra isso. “Transexual”, essa palavra nem existia. Aí que eu fui saber como era, fui atrás de um psicólogo, um psiquiatra e fui entender qual era a minha natureza. O tempo que me ensinou que o nome do que eu sou é esse.

Sexualidade e gênero são assuntos que vem ganhando espaço na sociedade, nos debates, nas políticas públicas. Como você vê essa mudança ao longo do tempo?

Eu acho imprescindível, até porque quando a gente democratiza, a gente ensina e liberta as pessoas. Acho muito importantes essas conquistas, o direito de ter seu nome, de se discutir na sala, na televisão, no filme, na mesa da família. Se você se olhar bem na sua árvore genealógica e vai encontrar alguém [homossexual], sempre vai ter. Então acho que é muito bom é libertário, necessário e democrático.

Em trinta anos de carreira, você já fez teatro, TV, cinema, foi repórter, jurada, atriz, entre outras atividades, e agora apresenta seu show de comédia. O que falta realizar na sua carreira?

Eu quero uma personagem bem icônica, sei lá, uma Odete Roitmann [personagem de Beatriz Segall na novela Vale Tudo, de 1988 e 89] misturada com Laurinha Figueroa [de Glória Menezes na novela Rainha da Sucata, de 1990]. Eu quero fazer uma madame em telenovela. Sabe aquela vilã carismática que o povo torce para se dar bem? Eu quero isso.

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