Mulher transexual e namorado são agredidos em praça de Mogi das Cruzes - Globo

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O crime foi no dia 29 de outubro, mas as marcas ainda estão pelo corpo dos dois. Nos olhos, no pescoço e nas mãos. O ajudante geral explica que nunca tinha passado por uma situação como essa nos seis meses em que estão juntos.

“A gente estava entrando em uma loja que tem na Praça do Relógio. Eu ouvi bem lá longe, ‘vai’ e uma palavra que não posso falar aqui agora. Eu fui lá, falei: ‘amor, acho que está falando com a gente’. A gente saiu, ouviu de novo, e pensamos: ‘não vamos falar nada não’”, conta Matheus.

“Aí [a pessoa] falou de novo. A gente foi ver o que estava acontecendo. Eles forma super arrogantes, super homofóbicos e transfóbicos com a gente. Fomos tirar satisfação com eles. Eles viram, agrediram a gente. Primeiro eu comecei a brigar com um e a Lu com outro”.

“Eles foram e chamaram mais umas seis pessoas. Tinha policial. Eu chamei o policial e falei: ‘vem aqui, pelo amor de Deus’. O policial olhou para a cara dela e fez isso aqui [sinaliza Matheus com dois dedos levantados]”.

Pelo vídeo que o casal recebeu, é possível ver a quantidade de gente que foi para cima dos dois. Para eles, o motivo é o que mais revolta: identidade de gênero. A Luciana é mulher transexual e conta que já tinha passado por uma agressão há uns cinco anos.

A cabeleireira conta que reviver tudo isso é muito difícil não só por ela, mas pelo namorado também. “Só porque estava comigo, eles começaram a xingar de tudo quanto é nome que vocês podem imaginar. Homofóbicos, transfóbicos. Só porque ele estava do meu lado”.

“Acho que se ele não tivesse do meu lado, nada disso teria acontecido. Na verdade, nunca aconteceu com ele. Comigo já aconteceu outras vezes, mas com ele foi a primeira vez”, diz. “Eu tomei duas facadas em César de Sousa por homofobia quando eu tinha 15 anos. Eu tenho até hoje problemas de saúde por causa desse ocorrido”.

De acordo com um estudo coordenado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Brasil é o país em que mais pessoas trans foram assassinadas pelo 13º ano consecutivo. Em 2021, São Paulo foi o estado com mais homicídios contra essa faixa da população.

Das 140 pessoas assassinadas no período, 135 eram travestis e mulheres transexuais. Os outros cinco eram homens trans e pessoas transmasculinas. Apesar de alto, o número aponta uma queda em relação a 2020, quando foram registrados 175 assassinatos de pessoas trans.

No entanto, o dado ainda é maior do que o observado em 2019, quando foram contabilizadas 124 mortes. Na comparação desde 2008, é possível perceber que o número do ano passado, está acima da média de 123,8 homicídios anuais de pessoas desse grupo.

Para Alexandra Braga, co-fundadora e vice-diretora do Fórum LGBT de Mogi das Cruzes, as mortes e agressões contra esses grupos são um resultado da falta de políticas pública.

“As pessoas são transfóbicas sim, as pessoas não querem estar perto, não querem dialogar sobre a questão. Acreditam que nós estamos levando isso para disseminar uma transexualidade que vai contaminar a sociedade. Não é isso”, afirma.

“Nascemos pessoas transexuais e queremos a garantia de viver em corpos transexuais”.

Alexandra também é uma mulher trans e diz que é muito importante que as pessoas que sofrem esse tipo de preconceito não se calem. Segurando uma camiseta com foto de Nataly, vítima de um crime não solucionado pela polícia, ela diz que falta apoio do poder público até em buscar respostas para crimes antigos da cidade.

“Você ter que acordar e receber notícia de que pessoas transexuais e travestis estão sendo espancadas na sociedade, em Mogi das Cruzes. É uma pena quando se fecha as portas, faço uma provocação direta à política pública da cidade, que nega essa discussão”, afirma Alexandra.

“As pessoas se acham no direito de agredir as outras por conta da identidade de gênero, orientação sexual, raça. É um absurdo. Tudo isso por conta do fundamentalismo e da negação de discutir políticas públicas”.

“LGBTfobia é crime e as pessoas têm que pagar por isso. Quando um estado se nega a discutir isso com a sociedade, as pessoas acham que podem bater, agredir, matar. Isso não pode. Isso é crime”.

A Polícia Militar informou que não foi localizada nenhuma ligação para o serviço de emergência 190 sobre qualquer agressão ou desinteligência pela Praça Oswaldo Cruz, bem como, nenhuma equipe policial foi acionada presencialmente.

A nota ressaltou que é importante a cooperação dos munícipes, em ligar para o telefone 190 ou o Disque-Denúncia, por meio do telefone 181, sempre que notar alguma anormalidade, presença de indivíduos ou veículos em atitude suspeita, inclusive com fotos ou vídeo.

A Prefeitura de Mogi das Cruzes repudiou o ato de violência e disse que os serviços e equipamentos municipais são voltados ao público em geral, sem distinção, mas que há ações pontuais voltadas ao público LGBTQIA+.

A nota diz que o Hospital Municipal recebeu um encontro para reforçar informações sobre acolhimento, nome social e demais direitos da pessoa trans para profissionais da unidade. Citou ainda uma exposição sobre o ‘orgulho de ser’, convite para o programa Diálogos Abertos, a fim de criar políticas públicas voltadas a esse público.

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