MidiaNews | Primeira trans eleita Miss Cuiabá fala sobre preconceito e superação - Midia News

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Realizando um sonho de infância, Isabelle Castro fez história na Capital mato-grossense ao se tornar a primeira mulher transexual a ganhar o concurso de Miss Cuiabá.

Apesar de ter conseguido chegar ao topo com apenas 27 anos, Isabelle relembra as dificuldades que passou até conseguir ingressar no mundo da moda em Mato Grosso.  

A falta de mercado para mulheres e homens trans, segundo ela, foi um dos maiores empecilhos para que conseguisse alcançar a posição de miss.

Voltando às memórias da infância, Isa, como é apelidada, relata que sempre se identificou como menina apesar de ter nascido em um corpo masculino. Além de admirar a figura feminina em um sua magnitude, ela conta que sempre acompanhava os concursos de beleza.

Para ela, ver aquelas mulheres desfilando e ganhando uma coroa era como um sonho que ela almejava conquistar, mas que ainda parecia muito distante da realidade da criança que, naquele momento, não tinha consciência da força que tinha.

Acho que muitas pessoas que apontam o dedo e fazem essas críticas não param para pensar que poderia ser uma filha, um filho ou até ela mesma no lugar

“Eu via as misses como se fossem princesas da Disney. Parece ser bobo, mas quando se trata de sonho é muito significativo e incrível você ver tudo aquilo e se imaginar chegando onde elas estão”, relata.

Apesar de já ter em mente a carreira que queria seguir, ela conta que O começo foi difícil. Por vir de uma família evangélica protestante, Isabelle afirma que os parentes não sabiam lidar com sua identidade de gênero. Com isso, o início de seu processo de transição na adolescência ocorreu sem apoio.

Mesmo muito jovem, ela afirma que já tinha uma mentalidade independente e madura, que foi essencial para começar a traçar seu destino.

Começando de baixo, Isabelle ingressou em um trabalho como assistente de cabelereira e dali em diante as portas se abriram.

Sem ajuda de olheiros ou agências, ela mesma foi atrás e ganhou espaço no meio LGBTQIA+ e ali os olhares começaram a se voltar para Isabelle. Foi no dia 14 de outubro que ela entrou para o concurso de Miss Cuiabá e marcou seu nome na história das misses ao ser eleita a representante da Capital.

“Quando se tem preparo para trabalhar na área, você pode ocupar esse espaço independente de gênero, então, ainda que seja um processo lento, acredito que a semente foi plantada e que agora vem muita revolução, principalmente para mulheres trans”, afirma.

Preconceito que fere

Com todo porte e elegância de uma miss, Isabelle não deixa transparecer em seu sorriso a parte amarga de ter recebido o título que sempre sonhou. Apesar de toda repercussão positiva que sucedeu a vitória, a modelo conta que também foi vítima de muitos ataques virtuais.

Ela lembra que uma chuva de mensagens odiosas a esperavam assim que conseguiu entrar em seu Instagram após o concurso: “Doeu muito ler algumas mensagens”.

Muito além de uma crítica construtiva, os comentários eram destinados para destruir o emocional da modelo. Tanto que Isabelle decidiu não mais lê-los.

“Acho que muitas pessoas que apontam o dedo e fazem essas críticas não param para pensar que poderia ser uma filha, um filho ou até ela mesma no lugar. Seria legal se as pessoas pensassem dessa forma, mas é difícil desde que o mundo é mundo”, conta.

Não bastando os comentários de fora, Isabelle também sofreu com o preconceito velado de suas próprias colegas que concorriam ao título. Sem citar nomes, a modelo afirma que teve sua vitória contestada por ser uma mulher trans.

Arquivo Pessoal

Isabelle Castro

Isabelle começou na área da beleza como auxiliar de cabeleireira

Além de uma invasão desrespeitosa, a atitude, para a miss, também colocou em prova sua ética de trabalho, por insinuar que ela descumpriu regulamentos do concurso.

“Muitas pessoas falaram ‘ela não é mulher’, mas perante a minha documentação é retificada, então não tem o porquê de questionarem se eu sou ou não sou alguma coisa”, enfatiza. 

Isabelle afirma que não se deixou abalar por nenhum comentário, pois as falas controversas das candidatas apenas enfatizavam o despreparo para exercer a posição de miss.

“Uma miss tem que saber perder e vencer, esperar o tempo dela. Se você não venceu dessa vez tenta na próxima, acredito que a humildade é a base para conseguir esse posto”.

Importância da representatividade

Mesmo com o preconceito, Isabelle prefere focar naquilo que a coroa trouxe de bom em sua vida. Além de erguer uma bandeira para outras pessoas transexuais, que tem medo pela falta de oportunidade, a modelo conta que recebeu também muitas mensagens de mulheres cis agradecendo pela inspiração.

Mais do que um título inédito, a miss sabe que carrega com ela o legado de vários anos de luta contra a desigualdade de gênero. Por isso, como metas futuras, ela pretende seguir usando a plataforma que construiu para ajudar na discussão de pautas sociais.

Hoje, após construir uma carreira do zero, ela afirma que conseguiu fazer a família entender sua identidade apesar da religião. Cercada pelo apoio dos parentes, a modelo almeja conseguir encorajar mais e mais pessoas a deixar de lado a intolerância, além de mostrar que todos são capazes de ocuparem espaços de poder.

Em mais umas de suas conquistas, Isabelle atualmente se prepara para ser almejada como Miss Mato Grosso Supernacional ainda em dezembro. A coroação é mais um capítulo na história de lutas e vitórias da modelo, que realizou as metas que criou ainda quando não tinha ideia do que a aguardava no futuro.

“É um recado que deixo para todas as mulheres, independente se você é trans, cis, negra, alta, baixa, gorda, não desista dos seus sonhos, foque nas suas metas e corra atrás disso. Da mesma forma que estou aqui hoje, qualquer mulher pode estar”, finaliza.

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