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Estou profundamente sensibilizado pela situação enfrentada pelos transexuais. Peço perdão ao leitor, mas neste texto curto não vou conseguir abranger todos os aspectos deste tema bastante amplo e complexo. Porém vou brevemente tocar em alguns pontos a fim de tentar esclarecer algumas coisas. O meu objetivo com este texto é convidar os transexuais, profissionais da área da saúde, pais e a população a se interessarem sobre o assunto, de maneira que poderão estudar por si mesmos.
O drama vivido pelos transexuais é bastante sério e merece o devido cuidado e atenção. A sociedade precisa oferecer suporte e empatia para facilitar a inserção desses indivíduos, a fim de que levem uma vida digna, saudável e feliz. Desejo promover a união e integração para esta comunidade que sofre com depressão, suicídio, abuso sexual, utilização de drogas, doenças sexualmente transmissíveis e é levada a desinformação por parte de algumas propagandas políticas.
O drama vivido pelos transexuais é bastante sério e merece o devido cuidado e atenção. A sociedade precisa oferecer suporte e empatia
O que é um transexual (disforia [angústia] de gênero)? De acordo com a Associação de Psiquiatria Americana (American Psychiatric Association - APA), autora do 'Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais' (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [DSM-5]) publicado em 2013. [Tradução livre].
De forma bastante resumida, a disforia de gênero é a vontade de remover características sexuais do seu corpo por acreditar que não condizem com seu sexo; grande desejo de ter as características sexuais do sexo oposto; grande desejo de ser tratado como do sexo oposto; grande convicção que seus sentimentos e reações são pertencentes ao sexo oposto. Para ser diagnosticado, a condição precisa ser também associada a uma grande angústia, com um dano para a vida social, trabalho e outras áreas muito importantes da vida.
De acordo com a agência nacional de saúde pública dos Estados Unidos (The Centers for Disease Control and Prevention - CDC), os transexuais são considerados uma população com alto índice de abuso de drogas, depressão e infecção por HIV.
Para o estudo 'Suicidal ideation and suicide attempts in persons with gender dysphoria', de 2018, produzido durante os anos de 2007 a 2017. A população com disforia de gênero tem um alto índice de idealização de suicídio (48%). O estudo conclui que idealização de suicídio é um dos melhores indicadores de risco de suicídio.
Outro estudo 'The Health and Well-Being of Transgender Australians: A National Community Survey', feito com 928 participantes entre setembro de 2017 a janeiro de 2018, foi reportado um diagnóstico de depressão por 73%, ansiedade por 67%, autoflagelação por 63%.
Sobre a cirurgia de mudança de sexo (gender reassignment surgery [GRS]). Talvez um médico não lhe diga isso, mas alguns transexuais relatam problemas com a cirurgia. A respeito da 'neovagina' (transformação do pênis em uma cavidade no local onde mulheres possuem vaginas), elas nem sempre precisam ser feitas. Isso vai variar de acordo com a 'disforia' da pessoa e da maneira que ela decide o que fazer. Pessoas diferentes têm necessidades diferentes.
Mas sobre a neovagina, nem sempre elas ficam exatamente parecidas com vaginas reais (depende muito da habilidade do cirurgião e das possibilidades). Este tipo de cirurgia é bastante cara e irreversível (apesar de existir tentativas para voltar). [Quando a criança ou adolescente passa por tratamento hormonal, o pênis pode não se desenvolver - o que dificulta a realização da neovagina por falta do tecido necessário].
A pessoa que passa pela cirurgia de mudança de sexo tem a possibilidade de perder a sensibilidade (prazer e orgasmo); existem complicações, riscos e cuidados para manter a neovagina (o corpo sente a necessidade natural tentar fechar a cavidade - portanto a pessoa tem que fazer uso de um 'alargador' por até dois anos após a cirurgia). Outros riscos incluem infecções e até mesmo o fechamento do orifício externo da uretra (impede a pessoa de urinar).
A indústria farmacêutica e da cirurgia plástica movimenta muito dinheiro no mundo inteiro. Fornecem um tratamento hormonal (GHT), bloqueadores de puberdade, cirurgia de mudança de sexo, remoção de órgãos e plástica para alteração facial. Tudo isso promete uma solução fácil para a angústia dos transexuais. Os médicos, psicólogos e transexuais devem se atentar a isso. Infelizmente não existe solução mágica para o problema. A mudança da aparência pode não resolver a angústia que o transexual sente e em alguns casos podem até prejudicar a saúde mental dos pacientes.
A facilidade de acesso a cirurgias ou hormônios pode incentivar decisões erradas. É possível que políticas interfiram nas decisões das pessoas e dos profissionais da saúde, psicólogos e psiquiatras. A ideia de um possível 'preconceito' e 'discriminação' quanto a comunidade transexual, pode incentivar médicos a realizar um falso diagnóstico do paciente por temerem ser processados ou ainda 'cancelados'.
Nos Estados Unidos é possível encontrar empresas que fornecem o 'Gender-affirming hormone therapy (GHT)' [mudança física provocada por tratamento hormonal] sem a necessidade de fazer terapia ou fornecer um atestado de saúde mental. Após uma consulta a pessoa recebe uma prescrição para comprar hormônios na farmácia e começar o tratamento.
Sobre a terapia hormonal. De acordo com o artigo da Mayo Foundation for Medical Education and Research (MFMER), em homens transexuais, o tratamento é dado com uma medicação que vai bloquear a ação do hormônio testosterona. Também será ministrado o hormônio estrogênio a fim de diminuir a produção de testosterona e induzir as mudanças nas características físicas.
As mudanças físicas no homem incluem diminuição do libido; diminuição da ereção; perda de cabelo; suavização da pele; atrofia dos testículos; desenvolvimento de mamas; redistribuição da gordura; diminuição da massa muscular; diminuição dos pêlos no corpo.
Nas mulheres obviamente o tratamento é diferente. As mudanças nas características físicas são: fim da menstruação; a voz fica grave (devido a mudança física do pescoço); aumento de pêlos pelo corpo; redistribuição da gordura; aumento do clitóris; atrofiação da vagina; aumento de músculos e da força física.
Algumas dessas mudanças físicas tanto no homem quanto na mulher são irreversíveis. Principalmente se o tratamento for feito antes ou durante a puberdade. Existem também efeitos colaterais para ambos, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, infertilidade, hipertensão, trombose e embolia pulmonar. Obviamente o transexual precisa manter o tratamento.
Apesar dos riscos, cirurgias plásticas e tratamento hormonal podem beneficiar muito os transexuais. Pode tornar a disforia menos severa; reduzir a angústia psicológica e emocional; melhorar a disposição para trabalhos e vida social. Vale lembrar que nem sempre o transexual sente a necessidade de mudar todas as características sexuais; a disforia (mal-estar) pode ser em relação a apenas algumas.
Arrependimento. Sim, algumas pessoas se arrependem. O escritor americano Walt Heyer viveu oito anos como mulher (fez a ciurgia de mudança de sexo), se arrependeu e decidiu voltar ao sexo original. Ele escreveu cerca de nove livros sobre o assunto e possui um site (Sex Change Regret/ Arrependimento da mudança de sexo) onde é procurado por transexuais do mundo inteiro, orienta sobre o arrependimento e a possibilidade de voltar atrás.
Heyer conta que quando tinha quatro anos de idade a avó dele o fez usar um vestido. Ela o fez manter o vestido escondido por dois anos. Ele diz que o fato da avó tê-lo elogiado de vestido o causou uma destruição emocional e psicológica. Ele foi espancado pelo pai após o pai descobrir o vestido. Heyer foi também estuprado pelo tio repetidas vezes. Ele diz ter sido uma criança completamente destruída pelos três acontecimentos.
Quando adulto se casou, porém os problemas psicológicos ficaram marcados. Ele conta que pensou que talvez fosse mulher quando na verdade estava a tentar escapar dos abusos. Após procurar tratamento, um médico especialista em gênero e defensor da cirurgia, chamado Paul A. Walker, o convenceu a fazer. Após oito anos a viver como mulher ele se tornou alcoólatra e usuário de drogas. Ele percebeu que tinha feito a escolha errada e teve muito trabalho para assumir. Ele voltou a ser homem há 30 anos atrás, é casado e tem 81 anos de idade hoje.
A Aggressive Research Inteligence Facility (Arif), da University of Birmingham na Inglaterra analisou mais de 100 estudos médicos mundiais de transexuais operados, não encontrou nenhuma forte evidência científica que a cirurgia de mudança de sexo é clinicamente efetiva. (The Guardian - Sex changes are not effective, say researchers).
Pessoas que passam pela cirurgia de mudança de sexo (gender reassignment surgery (GRS) têm vinte vezes mais probabilidade de cometer suicídio que a população em geral. Além de sofrerem com depressão. De acordo com a pesquisa realizada em pacientes de longo prazo. 'Long-Term Follow-Up of Transsexual Persons Undergoing Sex Reassignment Surgery: Cohort Study in Sweden' de 2011.
Os pesquisadores também concluíram que apesar da cirurgia poder aliviar os sintomas da disforia (mal-estar), podem não ser o suficiente para o tratamento da transexualidade e o tratamento psiquiátrico deve ser melhorado. (Na minha opinião pessoal, a minha leitura sugere que o tratamento psicológico ou psiquiátrico é indispensável).
Porém as cirurgias de mudança de sexo aumentaram 20% nos Estados Unidos do ano de 2015 a 2016 (mais de 3 mil cirurgias). Cada vez mais transexuais aparecem na imprensa e em redes sociais para falar sobre o arrependimento. Eles fazem o 'detransition' (desfazer a mudança de sexo). Essas pessoas são chamadas de 'detransitioners' e realizam o ‘tratamento’ de 'detransitioning' ("destransicionamento" no meu aportuguesamento). [News Week: Transgender Surgery: Regret Rates Highest in Male-to-Female Reassignment Operations/2017].
Sobre as crianças. O artigo 'Endocrine Treatment of Gender-Dysphoric/Gender-Incongruent Persons: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline', de 2018. Fala que mais de 98% das crianças que têm problema com o próprio sexo, tanto meninos quanto meninas, ficam em paz com o próprio sexo quando chegam a idade adulta.
Crianças com alguma variação do austimo têm sete vezes mais probabilidade de quererem ser do sexo oposto. (Forbes: There's Growing Evidence For A Link Between Gender Dysphoria And Autism Spectrum Disorders/2017). Impedir a puberdade torna os adultos estéreis.
O ser humano é um animal social. Precisamos das outras pessoas. O isolamento não faz bem à saúde mental. Os transexuais devem tentar se inserir na sociedade para levar uma vida normal. E as outras pessoas não devem maltratar ou excluir transexuais da comunidade. Devemos sempre trabalhar para ajudar o próximo e tornar a sociedade mais tolerante e desenvolvida.
Não existe de fato uma mudança de sexo. Um homem não consegue se tornar uma mulher com uma 'mudança de sexo'. O mesmo vale para as mulheres. É necessário que os transexuais tenham a nobreza e maturidade de reconhecer este fato. Transexuais existem, e admitir a condição proporcionará uma melhor saúde mental e facilitará a inclusão na sociedade. A política de tratar transexuais exatamente da mesma forma que as pessoas que têm o sexo no qual os transexuais se identificam, pode promover um mal-estar na sociedade.
Vamos rapidamente falar sobre transexuais no esporte porque esse é um tema polêmico. Vou me ater à ciência. A construção física do corpo importa e muito. Homens são mais rápidos que mulheres na corrida, natação, em exercícios de curta e longa distância. Homens têm mais força nas mãos. Homens têm mais fibras de contração muscular, que dão energia explosiva. Homens têm menos gordura.
Homens têm 66% mais músculos na parte superior do corpo que as mulheres; e têm 50% mais músculos na parte inferior do corpo que as mulheres. Homens têm maiores níveis de hemoglobina no sangue, o que permite que os músculos recebam mais oxigênio, tornando-os mais eficientes e rápidos. Homens têm o coração e o pulmão maiores o que torna a distribuição de sangue e oxigênio mais efetiva.
Homens têm o esqueleto maior e mais forte que as mulheres, assim conseguem segurar mais músculos e os ossos grandes facilitam o poder de alavanca. Homens são mais altos, portanto mais eficientes em certos esportes que exigem altura. O tratamento hormonal não é capaz de remover todas essas coisas. (Parent resource guide - Responding to the transgender issue/2019).
Para finalizar, quero mencionar a ideia de ‘vários gêneros’. Transexual e transgênero não é a mesma coisa. A 'ideologia de gênero' busca afirmar que os cromossomos e órgãos reprodutores são irrelevantes para a 'identidade sexual' do indivíduo. A ideologia propõe que a 'identidade sexual' pode ser escolhida, pode ser variável e fluída. Isso não é científico e nem requer diagnóstico médico ou psicológico, basta a manifestação da pessoa.
O perigo disso é que no mundo todo está a haver campanhas para a inserção de políticas (políticas de identidade de gênero) que punem um 'tratamento não adequado' aos transgêneros e permitem, por exemplo, pessoas frequentarem um banheiro independente do próprio sexo.
Em maio deste ano, um ‘homem de saia’ entrou no banheiro de uma escola na Virginia (EUA) e estuprou uma menina de 15 anos de idade. O pai da menina relatou o acontecido na escola (escola negou) e o pai acabou sendo preso por contrariar as políticas de gênero (“discurso de ódio”).
Em outubro, o mesmo ‘homem de saia’ entrou no banheiro de outra escola e estuprou outra garota. Felizmente este estuprador foi preso. Foi condenado pelo primeiro estupro e aguarda o julgamento do segundo estupro. (Standing for Freedom - Skirt-wearing male student is found guilty of raping a 15-year-old girl in a school bathroom in Loudoun County, Virginia).
Outras políticas forçam uma adesão da sociedade quanto ao tratamento de transgêneros por 'pronomes preferenciais', no Canadá por exemplo, desde 2017 (Canada gender identity rights Bill C-16), tratar transgêneros por 'pronomes errados' pode chegar a configurar crime de ódio com possibilidade de prisão. Esses ‘pronomes’ são dezenas e são inventados. (Não se trata de ‘ele e ela’).
Outros exemplos incluem, homens presidiários que dizem ser do gênero feminino e são transferidos para presídios femininos (a colocar assim em risco as outras detentas que vão dividir a cela com um homem que têm plena ereção). Ou ainda o fato de você poder colocar na carteira de motorista o gênero que você escolher. Um caso mais profundo disso garantiu que um bebê fosse registrado sem o sexo na certidão de nascimento.
Há ainda uma empresa nos Estados Unidos que produziu 'próteses' de pênis para crianças menores de seis anos (fazer volume na cueca). Há também livros infantis, desenhos, programas escolares, palestras sobre transgênero para crianças, visita escolar de crianças a bares gays, show de criança travesti, tudo para incentivar a ‘ideologia de gênero’ na infância.
E não para por aí, a pseudociência do gênero ainda relata um 'espectro', pessoas que não são homens e nem mulheres, 'não-binários' ou qualquer outra coisa. Porque de acordo com a ideologia podem existir milhares de gêneros no mundo. Vou deixar o leitor raciocinar sobre a plausibilidade disso.
A minha opinião sobre essas coisas é que tudo precisa de um limite. Precisamos ser adultos razoáveis. Devemos prezar pelo bom convívio das pessoas na sociedade. Respeitar as opções individuais, porém nunca forçar a outra pessoa a aceitar aquilo que você quer. Crianças não têm maturidade para pensar em sexo ou fazer permanentes alterações físicas que vão gerar consequências para o resto da vida. As crianças devem ser preservadas e conversas sobre sexo devem estar estritas ao público adulto.
É filosoficamente absurdo alguém acreditar que se moldar o mundo da forma que ela acha que deve ser, resolverá os problemas pessoais. Problemas psicológicos e doenças mentais exigem um tratamento prolongado, em casos de depressão e grave ansiedade os indivíduos poderão receber uma prescrição médica para utilização de antidepressivos a fim de restabelecer um equilíbrio químico no cérebro. Procure ajuda.
A respeito da linguagem neutra. Já existe um jeito na língua portuguesa de falar ou escrever algo de forma que abranja ambos os sexos. Senhores - todos - alunos, por exemplo, já são termos neutros que podem ser utilizados para um grupo composto por homens e mulheres. A troca de letras para criar outras palavras é desnecessário e está errado. Não está de acordo com a norma padrão da língua. 'Senhorxs - todes - alunes', ainda 'senhores (as) - todos (as) - alunos (as)' entre outros, deve ser evitado.
Há muito mais que eu poderia escrever sobre esses temas, mas tudo precisa de um limite. Espero ter trazido algumas informações importantes, com fatos e conhecimentos que possam ajudar na construção de pessoas melhores. Que as palavras de maneira bastante simples possam orientar. Novamente reitero a boa intenção de unir as pessoas. Fazer uma sociedade mais consciente e promover a paz, a união, o amor e a tolerância. Até o próximo.
Lousdembergue Rondon é jornalista.