Sessenta por cento dos homens e mulheres transexuais já pensaram em suicídio e pelo menos metade diz viver com depressão. A conclusão é de uma pesquisa divulgada em dezembro de 2022 e apoiada pelo governo federal. Entre os motivos para o cenário desolador, destaca-se a transfobia (ódio a pessoas trans) sofrida por esse público, sobretudo, na escola e no trabalho.
“Temos um número grande de pessoas no nosso país que estão sendo impedidas de produzir e de trabalhar. E não é porque não sejam capazes. É por conta de discriminação”, afirmou Maria Eduarda Aguiar, coordenadora do TransVida, iniciativa do Grupo pela Vidda, que entrevistou homens e mulheres trans brasileiros. Segundo ela, a transfobia reduz as possibilidades de acesso e de sobrevivência, e é praticada, em maioria, por amigos, professores e familiares da vítima.
Trabalho. No mercado profissional, a pesquisa sugere que o mercado seja educado para atender o público trans. Os dados do estudo mostraram que apenas 15% dos entrevistados cumprem uma atividade com carteira assinada. Outros 15,6% têm trabalho autônomo formal; 27,2% têm trabalho autônomo informal; e 14,3% atuam na prostituição - considerado, em muitos casos, o último recurso de sobrevivência de grande parte da população transexual.
Contra a corrente: Cléo Ventura
A protética transexual Cléo Ventura, de 33 anos, conta que sempre soube que era “diferente”. Ela relata que, entre tantas situações transfóbicas, ficava chateada quando perguntavam se ela era ‘menino ou menina’. Com pai alcoólico, recebeu na infância potentes ensinamentos da mãe, que a estimulou a estudar e a trabalhar. Aos 12, começou como Jovem Aprendiz em uma clínica odontológica. Aos 27, assumiu-se para a família. Ela segue na profissão, onde foi bem aceita.
“Às vezes, (o preconceito) é insuportável. Queremos apenas o direito de ir e vir, como qualquer cidadão que trabalha, estuda, paga seus impostos, sem ser visto como um animal na gaiola de um zoológico. Sempre apresentei trabalhos de qualidade, e estudar é importante, mas, não se engane, as piadas e o preconceito sempre andaram lado a lado”, afirmou.
Atualmente, ela também investe na carreira de cantora e acaba de lançar uma música. “Resolvi cantar para agradecer a Deus por Ele nunca ter me deixado desistir no caminho”, encerrou. (AR)