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por Farid Zaine
@farid.cultura
O mais novo filme de Pedro Almodóvar chegou nesta semana à Netflix: trata-se de “Mães Paralelas” (Madres Paralelas), que já surge para o público brasileiro do streaming após o anúncio das indicações ao Oscar 2022, com o filme indicado em duas categorias: Melhor Atriz para Penélope Cruz e Melhor Trilha Sonora para Alberto Iglesias.
Mais uma vez o cineasta espanhol , criador de obras-primas como “Tudo Sobre Minha Mãe”, volta ao tema da maternidade, à criação de personagens femininas fortes e inesquecíveis. Em “Tudo Sobre Minha Mãe”, Oscar de Melhor Filme Internacional em 2000, Cecilia Roth fazia a mãe que, ao perder o filho num atropelamento, e após doar os órgãos do rapaz, vai em busca do pai, que se tornou travesti. Aí encontramos personagens recorrentes nos melodramas de Almodóvar.
“Tudo Sobre Minha Mãe” é um dos meus grandes favoritos dirigidos por ele, e já o título remete a um grande clássico do cinema, “All About Eve”, aqui traduzido por “A Malvada”, o número 1 da minha lista de melhores de todos os tempos.
Penélope Cruz se transformou numa grande musa para Almodóvar. Em “Mães Paralelas” ela retorna à direção dele com um amadurecimento impressionante. Grande atriz, de carreira fulgurante e mundialmente consagrada, Cruz está estupenda como Janis, uma mãe solteira madura que dá à luz uma menina no mesmo dia em que Ana (Milena Smit), adolescente e outra mãe solteira, também tem seu bebê. As histórias das duas começam a se cruzar no dia do parto, e os acontecimentos posteriores farão com que seus destinos permaneçam entrelaçados.
“Mães Paralelas” não foge às regras quando se trata de se apresentar com as “cores de Almodóvar”. As marcas do diretor estão em tudo, na fotografia, na direção de arte, na trilha sonora, nos figurinos. Quando desenvolve seu novo melodrama, Almodóvar é até um pouco mais contido nas reviravoltas e surpresas oferecidas pelo roteiro. A história de Janis e Ana mostra duas gerações de mulheres espanholas, a mais jovem sem noção do que teria sido a ditadura no país, e a mais velha buscando uma conexão com seu passado, o que inclui tentar sepultar com dignidade parentes vítimas da brutal repressão nos tempos difíceis da Espanha. Um certo acerto de contas com o passado do país, naturalmente.
O excelente “Mães Paralelas” estreia na Netflix no período em que a gigante do streaming lança no seu catálogo nada mais, nada menos que 11 filmes de Almodóvar. Um banquete para os admiradores. Entre os filmes que estão disponibilizados podemos citar maravilhas como “Fale Com Ela”, Oscar de Melhor Roteiro Original em 2003, “Carne Trêmula”(1997), estrelado por Javier Bardem, e ainda “Maus Hábitos” (1983), “O Que Eu Fiz Para Merecer Isto?” (1984), “A Lei do Desejo” (1987), “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988), “De Salto Alto” (1991), “Kika” (1993), “A Flor do Meu Segredo” (1995), “Má Educação” (2004) e “Volver” (2006).
Penélope Cruz faz o sétimo filme com Pedro Almodóvar, consagrando uma parceria vitoriosa no cinema. Sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz é um reconhecimento mais do que merecido. Belíssima e atuando melhor do que nunca, Cruz reforça sua biografia de uma das melhores atrizes de sua geração.
“Mães Paralelas” demonstra o fôlego intacto de Almodóvar, que está em plena forma nos seus 73 anos. Cada vez mais dominando o gênero que o consagrou internacionalmente, Almodóvar nos dá a certeza de que sua obra ainda será amplamente completada com muitos filmes, sem que suas características marcantes sejam perdidas. Ótimo para a história do cinema.
Mães Paralelas – Com Penélope Cruz – Direção de Pedro Almodóvar – Disponível na Netflix, juntamente com outros 11 títulos do diretor.
Cotação : *****ÓTIMO