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Formado em Letras e Filosofia pela Universidade de São Paulo; tem doutorado em Linguística e pós-doutorado em Estudos da tradução. É professor, tradutor e colunista do Diário Causa Operária.
O “lugar de fala” é apenas e tão-somente uma forma de censura, como o é toda ação identitária
O pensamento de filósofos e sociólogos que trataram da análise do discurso, como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, teve maior relevância nas últimas décadas no meio da classe média universitária. O fim do comunismo soviético e a ascensão do neoliberalismo deslocou a esquerda de classe média para temas ligados à análise do discurso.
O movimento negro passou a importar-se mais com a maneira como as pessoas falam do que como elas agem. E, na mesma linha, seguiu o movimento feminista.
De uns anos para cá, a pauta identitária tornou-se prioridade na esquerda. Não cabe, aqui, tratar desse problema de maneira geral, pois o que está em questão é o sentido do “lugar de fala”.
A publicação do livro de Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala (2017), teve uma certa repercussão na esquerda, que passou a utilizar indiscriminadamente o termo, o que levou a própria autora a manifestar-se. Lugar de fala refere-se à posição do interlocutor numa determinada questão geralmente sociológica. O ponto de vista do oprimido teria uma importância diferente daquele do que não é oprimido. Por exemplo, numa questão racial, a perspectiva do negro seria diferente daquela do branco.
Isso não significa que a palavra do branco não tenha importância, segundo a autora e segundo os adeptos dessa teoria. Por exemplo, um antropólogo tem uma posicionamento bastante importante sobre a questão do índio, embora ele próprio não seja índio.
Feita essa ressalva, o que queremos demonstrar aqui é que o “lugar de fala” é apenas e tão-somente uma forma de censura, como o é toda ação identitária.
O “lugar de fala” é um conceito adotado maiormente pelo feminismo negro. Mas também faz parte da luta de outros grupos identitários, como os homossexuais, por exemplo. O termo vem sendo usado de maneira indiscriminada para calar a boca de toda e qualquer pessoa que se manifeste ou se posicione em relação a questões pertinentes àqueles grupos.
Mas, não importa se o termo seja usado de maneira indiscriminada ou de maneira precisa; o fato é que ele trata de “posições”, pontos de vista individuais ou de grupos discriminados. Não elimina a discriminação, mas simplesmente a amplia.
Se um branco se posiciona acerca da escravidão, sua palavra terá menos valor numa discussão que a de um negro, por exemplo. Ocorre que o negro vivo, o negro na sua concretude, nunca foi escravo. Nunca esteve no porão de um navio negreiro. O negro vivo, aquele que é discriminado, sofre as consequências não só da escravidão, mas da sua libertação.
O negro deixou as plantações, quando a Lei Áurea foi outorgada, e não tinha para onde ir nem onde trabalhar. O verdadeiro opressor do negro não é o branco, mas o sistema capitalista. A escravidão não incomoda mais o negro, pois o que existe de escravidão é residual e afeta tanto negros quanto brancos.
De fato, o branco não sofre o mesmo que o negro. Mas quem é o verdadeiro inimigo do negro? É a polícia. Policiais negros, mulatos e brancos. Esses não enxergam os negros como escravos, mas como vagabundos, como criminosos, como suspeitos. E a polícia não é outra coisa que o exército de repressão da burguesia.
Diante desse quadro, deve o negro preocupar-se com o “lugar de fala” ou com a polícia? Se, numa discussão, um negro, para defender ideias pequeno-burguesas, escora-se no “lugar de fala”, é possível que cale o branco. Mas, tente o negro fazer a mesma coisa com a polícia durante uma abordagem policial!
O grande problema do “lugar de fala” não é a posição de quem fala, mas a de quem não fala. E o negro, com “lugar de fala” ou sem “lugar de fala” é o último a falar e o primeiro a apanhar.
E se o “lugar de fala” não diz respeito apenas ao negro, pouco importa. Procura ser uma arma para que grupos sociais oprimidos possam se posicionar, mas busca, na prática, calar a argumentação e, em vez de atacar o argumento, ataca o argumentador.
Existe o lugar de fala do negro, da mulher oprimida, da mulher negra, da lésbica, do homem homossexual, do travesti, etc. Mas e o lugar de fala da classe operária, existe? E o lugar de fala do oprimido do campo?
Terão esses trabalhadores respeitados os seus pontos de vista? Pouco importa. O fato é que o “lugar de fala” é uma teoriazinha besta inventada por intelectuais de classe média que nunca sofreram na vida.
Basta dizer que aquela que propagou essa teoria, Djamila Ribeiro, é hoje, garota propaganda da Prada, empresa italiana de calçados que custam em média sete mil reais.
A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.
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A burguesia já pressentiu o perigo. As revoltas populares no Equador, na Bolívia e na Colômbia mostraram para onde o continente caminha. Além da repressão pura e simples, uma das armas fundamentais dos grandes capitalistas na luta contra os operários e o povo é a desinformação, a confusão, a falsificação e manipulação dos fatos, quando não a mentira nua e crua. Neste exato momento mesmo, a burguesia se esforça para confundir o panorama diante do início das mobilizações de rua contra Bolsonaro e todos os golpistas. Seus esforços se dirigem a apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe, substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular. O Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra a burguesia, sua política e suas manobras.
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