Lugar de fala é a casa da sogra - DCO - Causa Operária

3 years ago 1389
ARTICLE AD BOX

Formado em Letras e Filosofia pela Universidade de São Paulo; tem doutorado em Linguística e pós-doutorado em Estudos da tradução. É professor, tradutor e colunista do Diário Causa Operária.

O “lugar de fala” é apenas e tão-somente uma forma de censura, como o é toda ação identitária

O tal “lugar de fala” é amplamente utilizado pela esquerda identitária – Foto: Reprodução

O pensamento de filósofos e sociólogos que trataram da análise do discurso, como Michel Foucault e Pierre Bourdieu, teve maior relevância nas últimas décadas no meio da classe média universitária. O fim do comunismo soviético e a ascensão do neoliberalismo deslocou a esquerda de classe média para temas ligados à análise do discurso.

O movimento negro passou a importar-se mais com a maneira como as pessoas falam do que como elas agem. E, na mesma linha, seguiu o movimento feminista.

De uns anos para cá, a pauta identitária tornou-se prioridade na esquerda. Não cabe, aqui, tratar desse problema de maneira geral, pois o que está em questão é o sentido do “lugar de fala”.

A publicação do livro de Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala (2017), teve uma certa repercussão na esquerda, que passou a utilizar indiscriminadamente o termo, o que levou a própria autora a manifestar-se. Lugar de fala refere-se à posição do interlocutor numa determinada questão geralmente sociológica. O ponto de vista do oprimido teria uma importância diferente daquele do que não é oprimido. Por exemplo, numa questão racial, a perspectiva do negro seria diferente daquela do branco.

Isso não significa que a palavra do branco não tenha importância, segundo a autora e segundo os adeptos dessa teoria. Por exemplo, um antropólogo tem uma posicionamento bastante importante sobre a questão do índio, embora ele próprio não seja índio.

Feita essa ressalva, o que queremos demonstrar aqui é que o “lugar de fala” é apenas e tão-somente uma forma de censura, como o é toda ação identitária.

O “lugar de fala” é um conceito adotado maiormente pelo feminismo negro. Mas também faz parte da luta de outros grupos identitários, como os homossexuais, por exemplo. O termo vem sendo usado de maneira indiscriminada para calar a boca de toda e qualquer pessoa que se manifeste ou se posicione em relação a questões pertinentes àqueles grupos.

Mas, não importa se o termo seja usado de maneira indiscriminada ou de maneira precisa; o fato é que ele trata de “posições”, pontos de vista individuais ou de grupos discriminados. Não elimina a discriminação, mas simplesmente a amplia.

Se um branco se posiciona acerca da escravidão, sua palavra terá menos valor numa discussão que a de um negro, por exemplo. Ocorre que o negro vivo, o negro na sua concretude, nunca foi escravo. Nunca esteve no porão de um navio negreiro. O negro vivo, aquele que é discriminado, sofre as consequências não só da escravidão, mas da sua libertação.

O negro deixou as plantações, quando a Lei Áurea foi outorgada, e não tinha para onde ir nem onde trabalhar. O verdadeiro opressor do negro não é o branco, mas o sistema capitalista. A escravidão não incomoda mais o negro, pois o que existe de escravidão é residual e afeta tanto negros quanto brancos.

De fato, o branco não sofre o mesmo que o negro. Mas quem é o verdadeiro inimigo do negro? É a polícia. Policiais negros, mulatos e brancos. Esses não enxergam os negros como escravos, mas como vagabundos, como criminosos, como suspeitos. E a polícia não é outra coisa que o exército de repressão da burguesia.

Diante desse quadro, deve o negro preocupar-se com o “lugar de fala” ou com a polícia? Se, numa discussão, um negro, para defender ideias pequeno-burguesas, escora-se no “lugar de fala”, é possível que cale o branco. Mas, tente o negro fazer a mesma coisa com a polícia durante uma abordagem policial!

O grande problema do “lugar de fala” não é a posição de quem fala, mas a de quem não fala. E o negro, com “lugar de fala” ou sem “lugar de fala” é o último a falar e o primeiro a apanhar.

E se o “lugar de fala” não diz respeito apenas ao negro, pouco importa. Procura ser uma arma para que grupos sociais oprimidos possam se posicionar, mas busca, na prática, calar a argumentação e, em vez de atacar o argumento, ataca o argumentador.

Existe o lugar de fala do negro, da mulher oprimida, da mulher negra, da lésbica, do homem homossexual, do travesti, etc. Mas e o lugar de fala da classe operária, existe? E o lugar de fala do oprimido do campo?

Terão esses trabalhadores respeitados os seus pontos de vista? Pouco importa. O fato é que o “lugar de fala” é uma teoriazinha besta inventada por intelectuais de classe média que nunca sofreram na vida.

Basta dizer que aquela que propagou essa teoria, Djamila Ribeiro, é hoje, garota propaganda da Prada, empresa italiana de calçados que custam em média sete mil reais.

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

A você que chegou até aqui,

agradecemos muito por depositar sua confiança no nosso jornalismo e aproveitamos para fazer um pequeno pedido.

O Diário Causa Operária atravessa um momento decisivo para o seu futuro. Vivemos tempos interessantes. Tempos de crise do capitalismo, de acirramento da luta de classes, de polarização política e social. Tempos de pandemia e de política genocida. Tempos de golpe de Estado e de rebelião popular. Tempos em que o fascismo levanta a cabeça e a esquerda revolucionária se desenvolve a olhos vistos. Não é exagero dizer que estamos na antessala de uma luta aberta entre a revolução e a contrarrevolução. 

A burguesia já pressentiu o perigo. As revoltas populares no Equador, na Bolívia e na Colômbia mostraram para onde o continente caminha. Além da repressão pura e simples, uma das armas fundamentais dos grandes capitalistas na luta contra os operários e o povo é a desinformação, a confusão, a falsificação e manipulação dos fatos, quando não a mentira nua e crua. Neste exato momento mesmo, a burguesia se esforça para confundir o panorama diante do início das mobilizações de rua contra Bolsonaro e todos os golpistas. Seus esforços se dirigem a apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe, substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular. O Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra a burguesia, sua política e suas manobras. 

Diferentemente de outros portais, mesmo os progressistas, você não verá anúncios pagos aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos de maneira intransigente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Trabalhamos dia e noite para que o DCO cresça, se desenvolva e seja lido pelas amplas massas da população. A independência em relação à burguesia é condição para o sucesso desta empreitada. Mas o apoio financeiro daqueles que entendem a necessidade de uma imprensa vermelha, revolucionária e operária, também o é.  

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com valores a partir R$ 20,00. Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Leia o artigo inteiro
LEFT SIDEBAR AD

Hidden in mobile, Best for skyscrapers.