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“Poéticas de vida: escritas de si(da)” é o tema do livro lançado no final de junho pelo Grupo de Incentivo à Vida (GIV), em parceria com o Acervo Bajubá e a Casa 1. A publicação reúne poesias inéditas de diferentes autores e é resultado da oficina sobre as narrativas da aids na poesia, ministrada pelo jornalista e mestre em letras, Leandro Noronha, e pela artista gráfica Laura Daviña.
“Sempre tivemos vontade de resgatar e registrar a história do GIV. Ela está na memória das pessoas e nos vários materiais que temos na instituição, que datam desde a fundação, em 1990, até os dias atuais. No ano passado, com a aproximação com o Acervo Bajubá, que hoje está localizado em uma das salas do GIV, colocamos em prática essa ideia. O livro surgiu como um dos desdobramentos dessa parceria, juntamente com a Casa 1. Foi uma maneira de aproximar os jovens que participam de alguma forma do GIV para fazerem parte dessa construção, acreditamos que o jovem de hoje será a memória do amanhã”, explicou Andrea Ferrara, voluntária do GIV e uma das responsáveis pela publicação.
Os contos, poemas e tirinhas presentes no livro são de autoria de Alan, Andrea Ferrara, Gabriela Fonseca, Laura Daviña, Laura Ribeiro, Leandro Noronha da Fonseca, Marcos Tolentino, Rafa Roller, Rafuska Queiroz, Tiago Sales, Tiago Cesar e Victor Bebiano. O projeto gráfico é coletiva, mas foi feito com mediação de Laura Daviña e do PSSP estúdio.
Em entrevista à Agência Aids, Andrea falou sobre a importância do projeto e de como a iniciativa refletiu nos jovens. “Esse projeto é muito especial, trouxe a possibilidade de os jovens conhecerem um pouco mais sobre as formas de escrita, estéticas de diagramação e confecção de um livro. Através das “Poéticas de vida: escrita de si(da)” os autores puderam expressar seus sentimentos, experiências e desejos”, comemorou Andrea, destacando que a arte da escrita também é fundamental no acolhimento das pessoas vivendo com HIV/aids.
Lançamento na pandemia
Ao ser questionada sobre como foi organizar um projeto que envolve tantas histórias, Andrea lembrou que o lançamento da publicação foi o primeiro evento presencial do GIV desde o início da pandemia de Covid-19. “Conseguimos reunir no lançamento, que aconteceu na sede do GIV, boa parte dos autores desta publicação, o mais legal é que eles puderam ler os poemas que escreveram. Também aproveitamos o momento para fazer uma reflexão sobre a importância do GIV como local de apoio e escuta na vida desses jovens. Por fim, todos autografaram os exemplares”.
Outra autora do livro, a Laura Ribeiro disse que se inspirou na história do GIV para escrever os poemas. “Senti essa necessidade de organizar e preservar a memória do GIV, faz falta não ter nossas vozes ouvidas. Vivemos um momento de silenciamento de muitas questões que são importantes ou que deveriam ser importantes para a sociedade. Acredito que existe muita inspiração quando há falta de amparo e principalmente a violação de direitos, do respeito e da dignidade de pessoas como nós e como tudo isso está sendo retirado aos poucos”, desabafou.
Ela continua: “Sempre gostei de escrever, mas escrevia pra mim, uma vez ou outra mostrava ou recitava um poema entre amigos ou postava no Instagram. Quando recebi o convite, o que me atraiu foi essa ideia de compartilhar a construção com outras pessoas com histórias diferentes da minha, porém, com esse fator em comum que é o HIV/aids. Falar sobre nossas vivências e colocá-las à disposição das pessoas também foi um dos fatores principais”, completou Ribeiro.
E em relação a fazer parte do lançamento como autora de alguns poemas, Andrea recordou que é voluntária do GIV desde 2005. “Apesar de não ser jovem, me arrisquei a escrever dois poemas para esse livro. Um deles, 1997, diz respeito à época em que eu trabalhava como enfermeira em um hospital pediátrico e o outro, “A mão que dá corda no tempo”, fala sobre a minha vivência no GIV. Acredito que esse livro é uma experiência singular para o grupo e para todes que participaram dele, de alguma forma. Estou muito orgulhosa e feliz com o resultado”, enfatizou Andrea.
Laura Ribeiro também ficou bem feliz com o evento de lançamento. “Foi original, um momento único. Eu nunca pensei que pudesse ter bons frutos de uma experiência que foi ruim em grande parte da minha história. Estar ali sendo uma travesti positiva e receber aplausos ao recitar um dos meus poemas, além de todo o impacto que estamos causando com esse livro, é algo incrível”.
Sobre o Livro
Laura considera que um dos objetivos da publicação é fazer com que o leitor tenha uma nova concepção sobre HIV/aids, “O livro traz uma outra perspectiva sobre a vida de pessoas positivas. Mostra que viver com HIV/aids vai muito além dos estigmas, e que a arte também pode ser uma possibilidade, bem como uma ferramenta para a quebra desses estereótipos”.
“Um outro motivo é que vai além de mostrar uma nova perspectiva sobre HIV/aids, é o de resgatar a memória do GIV, uma ONG que tem lutado desde os anos 90 pelo fortalecimento das pautas do movimento de luta das pessoas vivendo com HIV/aids”, continuou Laura.
Andrea acrescentou que o livro já é um sucesso: “Ficou lindo, sensível, diverso, toca em temas caros, tenho certeza que vai tocar no coração de todes que lerem”.
“Aos que vivem com HIV/aids, que possam se sentir tocados por essas histórias e que possam entender que viver com HIV/aids no Brasil não é o fim da vida, como eu digo em uma das minhas poesias. Mas, claro, é o começo de uma luta interna e externa. A interna de se entender, procurar acolhimento e cuidado. E a externa que é ter que viver sempre atento aos seus direitos já que nunca houve tanto desrespeito às minorias neste país. Aos que não vivem com HIV/aids, que aprendam sobre nós. E, de maneira esperançosa, que possam desenvolver a empatia para também lutar ao nosso lado”, esclareceu Laura.
A ONG, segundo Andrea, já está colhendo bons frutos deste projeto. “Estava no GIV outro dia e chegou uma mulher trans para a reunião de novos e ela disse que foi lá porque tinha pego um exemplar do livro na Casa 1, que tinha lido o livro e que precisava conhecer o GIV. Acho que é isso que queremos com o livro, que ele chegue a muitas pessoas e que elas possam se identificar”, disse Andrea. “Acredito que as pessoas vivendo com HIV/aids vão se identificar, mas as que não vivem também irão gostar muito”.
O livro “Poéticas de vida: escritas de si(da)” está disponível gratuitamente no site do GIV. Clique aqui e garanta o seu exemplar.
Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)
Dicas de entrevista
Andrea Ferrara
Instagram: @apferrara
E-mail: andrea.ferrara@giv.org.br
Laura Ribeiro
Tel.: (15) 99826-5083