Gaeco faz operação em Uberlândia contra associação criminosa, exploração sexual, manutenção de casa de prostituição e outros crimes; veja fotos e vídeos - G1

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O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) realizou nesta segunda-feira (8) a Operação "Libertas" contra uma organização criminosa em Uberlândia. O grupo é suspeito de exploração sexual contra travestis e transsexuais, manutenção de casa de prostituição, roubo, lesão corporal, homicídio, constrangimento ilegal, ameaça, posse e porte de arma de fogo.

De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), foram cumpridos 3 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão. Conforme apuração da TV Integração e do g1, a ex-vereadora Pâmela Volp, a filha dela, Paula Volp, e Lamar Bionda foram presas. (Entenda o caso mais abaixo e o que diz a defesa das citadas).

A ação contou com a participação de 60 policiais militares da 9ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais (9ª RPM) e da 18ª Promotoria de Justiça de Uberlândia.

Dinheiro apreendido durante a Operação Libertas em Uberlândia — Foto: Divulgação

Segundo o MPMG, as apurações realizadas demonstram a existência de uma associação criminosa com base na cidade de Uberlândia, voltada a estabelecer o monopólio da exploração sexual de travestis e transsexuais no município e região.

Além disso, as investigações comprovaram que o grupo explora uma grande rede de prostituição envolvendo travestis e transexuais, bem como financia procedimentos estéticos realizados clandestinamente e de forma ilegal.

"Outro ponto de destaque das apurações foi a verificação da exploração financeira desses travestis e transexuais por meio da implantação de silicone industrial, prática criminosa e altamente perigosa, realizada em locais inapropriados e por pessoas absolutamente inabilitadas, existindo também suspeitas de mortes que ocorreram em decorrência desses procedimentos ilegais capitaneados pelo grupo investigado", explicou o MPMG em nota.

Conforme o promotor do Gaeco, Thiago Ferraz, Pâmela Volp tinha também uma "ponte" com uma clínica clandestina em São Paulo, para a aplicação de prótese mamária. A mesma pegou fogo recentemente e uma mulher trans foi abandonada sedada no interior do local.

"Algumas travestis que tinham potencialidade de dar maior ganho para esse grupo criminoso eram levadas para São Paulo. Lá, a Pâmela custeava esse silicone. Ela não só custeava, ela cobrava posteriormente e as travestis não conseguiam mais sair da teia dessa organização criminosa, pois as dívidas só aumentavam", comentou.

Local onde funcionava uma das clínicas clandestinas em Uberlândia — Foto: Loise Monteiro/g1

De acordo com o Gaeco, uma morte relacionada ao grupo criminoso é apurada. Trata-se da transexual Ailson Souza da Silva, que tinha 20 anos de idade e era do interior do Estado do Acre. Ela morreu após colocar silicone com auxílio de Pâmela e Lamar. A data do óbito não foi informada.

"[A trans] procurou a Pâmela. Por indicação da Pâmela, esse silicone foi autorizado junto à Lamar Bionde. Esse silicone foi aplicado, a travesti começou a passar mal, foi internada em Uberaba e acabou não resistindo. Ela faleceu em decorrência de choque hipovolêmico, em decorrência desse silicone de construção, que era aplicado através de uma seringa de cavalo", contou o promotor Thiago Ferraz.

Segundo Ferraz, foi descoberto um esquema que "divide" Uberlândia em duas partes para a exploração sexual das travestis, sendo que existe um acordo entre Pâmela e Lamar Bionda, para cada uma "comandar" uma área da cidade.

"Cada travesti que chega na cidade para trabalhar só pode trabalhar para essas duas pessoas. Se não trabalhar para essas duas pessoas não tem campo para trabalhar aqui. Cada ponto da cidade é cobrado o valor de uma diária.", comentou o promotor.

Ainda de acordo com Ferraz, além de "pagar pelos pontos", as travestis pagam a própria alimentação e moradia. "Caso haja um aumento da dívida por falta de programa ou as pessoas estiverem doentes, algo nesse sentido, a diária é computada independente e aí gera esse valor. Para sair dessa teia tem que pagar, se não pagar aí começa constrangimento, lesão, roubo e por aí vai", complementou.

Operação esteve na casa da ex-vereadora Pamela Volp em Uberlândia — Foto: Michelle Pereira/g1

Anteriormente, o MPMG ouviu algumas pessoas que trabalham ou trabalharam com Pâmela anteriormente. De acordo com o promotor, o esquema é antigo e muitas pessoas de fora da cidade já contatam a ex-vereadora para saber como funciona.

"Importante ressaltar que existe intercâmbio de travestis no estado de Santa Catarina. Quando as travestis passam a não dar mais lucro aqui, elas 'pulam' para Santa Catarina e as de lá vem para cá, comandados por uma mulher lá, também ligada à Pâmela Volp", disse Ferraz.

Paula Volp (à esquerda), Pâmela Volp (ao centro) e Lamar Bionda (à direita) foram detidas durante a Operação "Libertas" em Uberlândia — Foto: Montagem/g1

Na manhã desta segunda-feira, as três envolvidas no esquema foram presas. Conforme o Gaeco, Paula cuidava da questão financeira da quadrilha, enquanto Lamar e Pâmela eram as responsáveis pelos pontos.

Com Pâmela, foram apreendidos R$ 106 mil em cédulas. Nas notas, constam os nomes das travestis que pagavam as diárias.

Também foi confirmado que há diversos imóveis no nome da ex-vereadora, além de dois veículos de luxo, que custam mais de R$ 800 mil somados.

Carros de luxo encontrados durante a operação em Uberlândia

Carros de luxo encontrados durante a operação em Uberlândia

Thiago Ferraz afirmou que, agora, os próximos passos serão: "juntar os documentos que nós temos, com alguns que tem na delegacia civil que nós não pedimos antes, pois a investigação estava sob sigilo. Nós pretendemos efetuar reconhecimento pessoal hoje, com essas pessoas que foram presas e nós vamos já deflagrar algumas denúncias".

"Independente do andamento das investigações vamos analisar a possibilidade de prisão preventiva, os requisitos e até mesmo o sequestro de bens, para garantir a indenização para essas pessoas", finalizou.

Foto de arquivo de Pâmela Volp na época que era vereadora em Uberlândia — Foto: Aline Rezende/Câmara de Uberlândia/Divulgação

Durante a Operação "Caraxué", da Polícia Federal, desencadeada em outubro de 2006, foram presas 9 pessoas em Uberlândia, Florianópolis (SC) e Franca (SP). Na ação, a polícia encontrou 12 travestis que se prostituíam em uma casa de Volp no Bairro Chácaras Tubalina.

Em 2014, a ex-vereadora foi condenada, junto a outras 6 pessoas, pela Justiça Federal por envolvimento com o tráfico internacional de pessoas. Conforme a decisão, o esquema envolvia o "comércio" de travestis e mulheres para países como a Itália e a Espanha.

Na época, Volp e outras 2 pessoas foram apontadas pela Justiça como chefes do esquema e foram condenadas a cumprir a pena em regime fechado. Além disso, 4 pessoas tiveram penas entre 6 e sete 7 no regime semiaberto. No entanto, a ex-vereadora recorreu da decisão e o caso foi para segunda instância.

No julgamento em segunda instância, ela foi absolvida pelos crimes de tráfico de pessoas e rufianismo - quando a pessoa toma vantagem da prostituição alheia. Porém, Pâmela foi condenada pela pena mínima pelo crime de favorecimento à prostituição.

Volp ainda teve o nome ligado na Operação “Má Impressão”, desencadeada pelo Gaeco em 2019, que apurou um esquema de desvio de verbas indenizatórias por meio da contratação de serviços gráficos. Em 2020, ela teve o mandato cassado na Câmara Municipal de Uberlândia.

O que dizem os envolvidos?

Em nota, o advogado de defesa de Pâmela Volp e Paula Volp, Rogério Inácio, informou que se inteira sobre os fatos para se manifestar. Até a última atualização desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com Lamar Bionda.

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