ARTICLE AD BOX
Entre os dias 11 e 13 de setembro acontece em Natal a Semana Benvenutty, evento multicultural que homenageia a trajetória da travesti Fernanda Benvenutty (1962–2020), símbolo da luta LGBTQIAPN+ no Nordeste. Com cine-debate, oficinas, performances e grande baile, a iniciativa resgata uma história de resistência e afirma um futuro de prosperidade trans.
A vida de Fernanda: parteira, circense e militante incansável
Nascida em Remígio (PB), Fernanda foi expulsa de casa ainda na adolescência e acolhida pelo Circo Babilônia, onde iniciou sua vida artística como palhaça. Mais tarde, em João Pessoa, conciliou trabalhos domésticos com os estudos de enfermagem e tornou-se parteira na Maternidade Cândida Vargas. De jaleco branco e maleta nas mãos, era presença constante nos ônibus rumo à maternidade, cuidando de vidas mesmo enquanto a sua era atravessada por preconceitos.
Sua luta política começou cedo: em 2002 fundou a Associação das Travestis da Paraíba (Astrapa), tornando-se uma das primeiras a levar a pauta trans para dentro das instituições. Foi protagonista da campanha “Travesti e Respeito”, que deu origem ao Dia da Visibilidade Trans, além de conselheira nacional de saúde e candidata a vereadora e deputada estadual pelo PT, rompendo estigmas ao disputar eleições como qualquer outra candidata.
Fernanda também deixou marcas na cultura popular: fundou escolas de samba, costurou fantasias, levantou desfiles e transformou o Carnaval em palco de resistência. Morreu em 2020, vítima de câncer no estômago, mas deixou uma herança inapagável.
Após sua morte, nasceu em João Pessoa a Casa das Benvenutty, coletivo político-cultural em diálogo com a cena Ballroom. Fundada por Ayira Sizernando e Gabi Kollontai Benvenutty, a casa carrega o nome de Fernanda como bandeira e memória viva.
Em entrevista, Ayira reforça a urgência de preservar esse legado. Para ela, a criação da Semana Benvenutty também é uma forma de apresentar Fernanda às novas gerações e fortalecer a cena potiguar:
“Vejo a Casa acompanhando o crescimento da cena do RN. Isso é fundamento sendo colocado na comunidade. E que bom que fomos recebidas com tanto carinho, com as garotas animadas e comprometidas em dar o melhor.”
A influência de Fernanda ultrapassa a memória: está nos votos conquistados por travestis candidatas, nas políticas públicas que surgiram a partir de sua militância e na força da cena Ballroom que hoje floresce no Nordeste.
“Apresentar o nome da Fernanda para Natal é também educar sobre o legado que queremos carregar: um legado de prosperidade trans, de luta, de ativismo e de artivismo, de irreverência”, resume Ayira.
Assim, a programação se propõe em transformar memória em ação. É prova de que, mesmo ausente, Fernanda segue abrindo caminhos para que novas gerações sonhem alto e façam do sonho projeto político e cultural.
Confira a programação:
A produção é da Casa das Benvenutty, com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Governo Federal e do Governo do RN, por meio da Secult e da Fundação José Augusto. Também conta com o apoio do Coletivo Mandume e do Departamento de Comunicação da UFRN (DECOM).