FC Jovem amazonense que participou da COP 26 recebe premio - EM TEMPO

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| Foto: Reprodução

Manaus (AM) - A amazonense afro indígena e travesti, Vitória Pinheiro, recebeu o título de Jovem Defensora dos Rios e Oceanos da Embaixada Francesa no Brasil, por meio do programa LAB Jovens. O prêmio faz parte de um projeto maior chamado FrancEcolab Brasil e ocorreu no início de novembro na embaixada francesa no Rio de Janeiro, enquanto a jovem participava como delegada na cerimônia da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) em Glasglow.

O projeto “Epicentro Jornalismo” organizado e apresentado por Vitória no Lab Jovens foi indicado vencedor, juntamente com outros 11 projetos. Por meio da verba oferecida pelo prêmio, as atividades da Epicentro vão iniciar a partir de 2022.  Recentemente, a jovem também recebeu o título "Rios da Amazônia" pela Loreal Brasil.

 

Vitória levou o feminismo e a questão ambiental como pautas para a COP 26

Vitória levou o feminismo e a questão ambiental como pautas para a COP 26 | Foto:

Para Vitória, participar da COP26 em Glasglow, no Reino Unido, foi uma experiência transformadora e gratificante, pois a agenda do evento é alinhada com o trabalho que a jovem vinha desenvolvendo ao longo dos anos.

Assim, Vitória acredita que poder engajar formalmente em um espaço de decisão que olha para o jovem como um agente transformador é uma grande oportunidade, ainda mais, por poder discutir questões sobre raça, classe e gênero interseccionadas com a pauta ambiental.

“A COP26 é importante porque ela fortalece esse espaço da sociedade civil como um espaço também possível para além do palco político institucional. Eu acho que a mobilização da sociedade civil é muito mais interessante porque ela é capaz de conduzir mudanças a nível estatal. Especialmente para a juventude e para os grupos marginalizados que são as as juventudes negras e LGBT”, conta Vitória.

Trajetória no ativismo

A ativista nasceu e cresceu na periferia de Manaus, no bairro Zumbi dos Palmares, Zona Leste da cidade. Sua família se mudou para o local logo no início da invasão. De acordo com Vitória, a família não tinha boas condições para morar em outro lugar.

“Minha família é uma família muito simples que veio do interior do Pará em busca de melhores condições de vida aqui em Manaus. Nossa história é muito parecida com muitas pessoas da nossa população”, diz Vitória e acrescenta que teve uma infância muito feliz tanto com a família quanto com os amigos.

Porém, ainda muito jovem, não entendia a vida difícil que ela e sua família enfrentavam em um bairro violento e com carência de diversos serviços públicos como saneamento básico, ruas pavimentadas e acesso a água e transporte público.

Nesse sentido, foi a partir de um olhar mais atento à sua própria realidade que Vitória decidiu que precisava fazer algo para mudar sua vivencia e a de tantas pessoas que compartilham das mesmas experiências, então seguiu para ação como ativista.

“Eu leio o ativismo como uma forma de exercer a cidadania e é por causa disso que eu sou ativista e esse desejo vem desde muito cedo, desde quando eu era criança. Eu venho tentando continuamente fazer com que essa mudança de mundo se torne efetiva e é por isso que eu sou ativista”, conta Vitória, que iniciou os seus primeiros projetos ainda na adolescência no colégio estadual Djalma da Batista, onde conta que teve acesso a um ensino de pensamento crítico.

“Isso tudo foi me transformando e moldando meus interesses. Participei do jornal da escola, me envolvi com ciência. Também recebi uma bolsa da Fapeam no ensino fundamental para fazer pesquisa, no programa ‘Ciência na Escola’, diz a ativista.

No seu processo de pratica de transformação da realidade, Vitória se questionava porque pessoas LGBT e pessoas de baixa renda enfrentavam e ainda enfrentam tantos problemas em acessar serviços públicos e ter direitos básicos como terra e moradia. “Então por isso fui estudar políticas públicas, com esse desejo de resolver problemas da sociedade a partir de uma pergunta: o que eu e meus amigos podemos fazer?", diz a ativista Vitória.

Assim, a trajetória ativista de Vitória foi marcada por vários projetos artísticos, culturais e sociais que apareceram em seu bairro, como a Associação para o Desenvolvimento Coesivo da Amazônia (ADCAM). Para Vitória, essas ações foram essenciais para o seu desenvolvimento como ativista comunitária e para expandir sua visão de mundo.

LAB Jovens

Aos 25 anos Vitória Galvão recebeu o título de Jovem Defensora dos Rios e Oceanos da Embaixada francesa no Brasil, por meio do programa LAB Jovens, projeto que faz parte do FrancEcolab Brasil. O objetivo do projeto é formar novos ativistas mobilizados pela luta e pela promoção da conservação ambiental e que a juventude tem um papel fundamental nesse espaço.

“O Lab Jovem foi focado em formar esses ativismos através de oficinas, de encontros com ativistas e suas organizações, para que a gente pudesse criar estratégias e ter ferramentas para aprender a mobilizar nossas comunidades em prol da luta contra a poluição dos rios e oceanos pelo o plástico. Isso tem um grande impacto não só no meio ambiente, mas também na nossa vida prática, na medida que a poluição faz com que aumente por exemplo acidentes ambientais como as enchentes que afetam Manaus, por exemplo”, explica Vitória.

Então a partir do encontro e da formação dos jovens por meio do período de formação, o LAB Jovens deu oportunidade para que diversos projetos fossem implementados por meio da distribuição de prêmios para os projetos vencedores.

Epicentro Jornalismo

Conforme explica a ativista Vitória Pinheiro, diante de um cenário onde muitas pessoas no Amazonas não têm acesso a água potável e ao esgotamento sanitário, mesmo em volta da maior bacia hidrográfica do mundo, surge então a Epicentro Jornalismo.

Com isso, a agência de mídia Epicentro jornalismo tem como objetivo fazer uma comunicação comunitária a partir de um jornalismo investigativo, assim como também busca mobilizar as comunidades para a preservação do meio ambiente, principalmente nos espaços fluviais como os igarapés e os rios, que como ressalta Vitória, é um recurso natural importante não apenas para a reprodução da vida, como também da própria cultura local.

Outro ponto importante que o Epicentro Jornalismo busca alcançar é narrar as histórias das comunidades locais, tanto suas vivências quanto os seus desafios e ao mesmo tempo utilizar do jornalismo para chamar a atenção do poder público para as suas demandas.

“A proposta é exatamente fazer com que essas narrativas feitas por jovens em comunidades possam gerar dados. Então como que narrativas possam gerar dados que gerem não só um conhecimento pra ser compartilhado com a população, mas que possam também impactar políticas públicas. Nosso objetivo é visibilizar as lutas e também as necessidades focadas no campo da justiça ambiental e climática”, diz Vitória.

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