Faculdade de Medicina simula atendimento médico a pacientes transexuais - Globo.com

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Objetivo é preparar alunos para que no futuro ofereçam um atendimento mais humanizado a homens e mulheres trans.

Faculdade de Medicina contrata atriz para simular atendimento médico a pacientes transexuais

O Profissão Repórter desta terça (15) mostrou as dificuldades enfrentadas por pessoas trans que buscam uma oportunidade formal de emprego.

Em São Paulo, uma faculdade de Medicina contratou temporariamente Samantha Lima, mulher transexual e atriz, para atuar em uma simulação de atendimento médico. O trabalho é um passo na tentativa de derrubar o preconceito que ela e muitos outros trans vivenciam com frequência.

Antes da simulação começar, a atriz Ieda Gomes passa as orientações à Samantha.

“Não dê as respostas, leve-os a questionar. Esse é o objetivo da simulação, é fazer com que a formação desse médico seja mais humanizada", diz Ieda.

A professora do curso de Medicina, Camila Atihe, também afirma que a ideia é preparar os alunos para que entendam como os pacientes esperam ser tratados, e assim, oferecer o melhor atendimento possível.

"Que a pessoa que está ali se sinta bem, é sempre uma troca, né? Que seja a troca mais positiva possível”, afirma Camila.

Camila Atihe é uma das professores que acompanha os alunos nas simulações de atendimento

Durante o trabalho, Samantha, que simula uma paciente trans, é atendida em uma sala de vidro por uma aluna que está no quarto ano do curso de Medicina.

No fundo da sala, um professor acompanha toda a situação e toma nota para depois, aos poucos, ir ensinando e corrigindo o comportamento da estudante no atendimento.

No momento de examinar a paciente, o professor chama a atenção da estudante por ela ter avisado que iria examinar Samantha, mas esquecer de pedir licença para tocá-la.

“Não pede assim de uma vez, pergunta se ela se importa de levantar”, corrige o professor.

Professor acompanha simulação de atendimento a paciente trans

Ao final de cada consulta, Samantha dá a sua opinião sobre o comportamento do estudante. Ela afirma que perguntas sobre a família são sensíveis e podem incomodar.

“Quando pergunta, por exemplo, qual foi a reação dos meus pais quando descobriram, este tipo de pergunta nós não gostamos de falar”, desabafa.

No segundo atendimento, a estudante que recebe a atriz pergunta qual gênero ela prefere que conste na sua ficha. Surpresa, ela responde prontamente que é o gênero feminino.

Após o fim do atendimento, a estudante Victória Zasso conversa com a equipe do programa e reconhece o erro. Ela afirma que por Samantha ser uma mulher, não poderia ter feito esse tipo de pergunta.

“Na hora eu fiquei um pouco sem jeito. Eu vi que tinha sido indelicada de perguntar isso para ela, mas agora eu aprendi”, alega Victória.

Com as simulações experienciadas no dia, Samantha desabafa sobre as experiências vividas anteriormente com médicos.

'Eu nunca sou tratada igual', afirma Samantha — Foto: PREP

“Quando eles percebem que eu sou trans, ou é 8 ou 80. Ou eles tentam me acolher muito e exageram, ou eles simplesmente não olham na minha cara. Mas eu nunca sou tratada igual. O ideal realmente é eu me sentir como todas as outras mulheres. Esse é o objetivo.”

Com o valor recebido pelo trabalho, a atriz decide usar parte do dinheiro para realizar um sonho de muitos anos: tatuar o símbolo transgênero.

“isso aqui vai ser para me lembrar sempre de ter resiliência. Eu quero acordar todo dia de manhã, olhar para esse símbolo aqui e saber que não dá pra desistir. Não vale a pena desistir", diz Samantha.

Samantha mostra o desenho escolhido para a tatuagem