Existe rosto de mulher? Uma reflexão sobre os protocolos de feminização facial - Glamour Brasil

3 years ago 684
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Não somos todas que sentimos necessidade de passar por procedimentos estéticos, mas eles também podem significar uma infinidade muito para quando pensamos em adequar imagem à identidade

Existe rosto de mulher? Uma reflexão sobre os protocolos de feminização facial Getty Images

Quando vi o post da Linn da Quebrada com curativos no rosto após tratamento cirúrgico, fiquei pensando nos protocolos de feminização facial. Caso você não conheça o termo, são procedimentos invasivos ou não invasivos que buscam dar uma aparência mais "cisgênero feminina" para mulheres trans-travestis.

Vão de cirurgias como rinoplastia, raspagem do crânio para redimensionamento de testa ou maxilar a aplicações mais simples, clínicas, como de botox, preenchedores faciais e bioestimuladores de colágeno.

Por mais que possam parecer restritas à estética, quando falamos da feminização facial ou corporal para mulheres trans e travestis, estamos entrando em outra natureza. Ela se torna parte da seara da saúde e de direitos humanos, porque falamos em adequar a imagem à identidade dessas pessoas como eu.

Aqui, preciso lembrar: a disforia de gênero, uma aversão, rejeição ou desconforto agudo da própria imagem, é muito presente. Em casos graves, pode levar à perda da realidade e ao suicídio. Entretanto, mulheres trans-travestis são mulheres simplesmente por se identificarem assim. Não precisam de cirurgias para isso. Mas também têm na "passabilidade" um fator de segurança. Ou seja, quando trans-travestis consequem "se passar" por uma pessoa cisgênera, há menos chance de sofrerem violência. É, cruel. E eu percebi isso na pele. Quando estava no início da transição e tinha aparência mais andrógina ou masculina, atravessava muito mais constrangimentos: olhares indiscretos, comentários ofensivos e xingamentos na rua, um medo quase constante da violência física.

No entanto, chegar aos procedimentos de afirmação de gênero, mesmo que importante, não é fácil. Ainda existe muita ignorância e desconhecimento por parte dos médicos, tanto em relação às possibilidades de procedimentos quanto sobre a forma de se tratar uma pessoa trans. Estou considerando colocar silicone nos seios e, na minha busca por cirurgião, cheguei a um profissional recomendado por uma amiga cis que, nos primeiros minutos da consulta, me perguntou se eu sou um homem querendo “virar” mulher. Saí do consultório sem olhar pra trás.

A feminização não é um pacote fixo de procedimentos. Somos individuais, temos anseios específicos. Nem todas buscamos as mesmas proporções faciais ou o “padrão feminino tradicional”. É essencial que estes processos sejam pensados para os desejos e indicações de cada pessoa.

É valioso assegurar também a importância da pluralidade, até maior que a da representatividade. Linn da Quebrada pode ser a travesti de maior projeção nacional hoje, mas isso não quer dizer que ela, sozinha, represente em totalidade as mulheres trans-travestis.

Não somos todas que sentimos necessidade de fazer a feminização. Essa compreensão alimenta a certeza de que nossa comunidade é diversa e cada uma carrega as próprias vivências, questões e relações com corpo, imagem e história.

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