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A Bahia é o segundo estado que mais registrou casos de assassinatos de pessoas transexuais e travestis no Brasil em 2021, ficando atrás apenas de São Paulo. Foram 13 mortes entre janeiro e dezembro, de acordo com uma pesquisa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em todo Brasil, foram registradas 140 mortes no ano passado, sendo 135 de travestis ou mulheres trans, e outras cinco vítimas eram homens trans.
Transfobia é crime e, desde 2019, o Supremo Tribunal Federal equiparou comportamentos homofóbicos e transfóbicos ao crime de racismo.
Para debater esse assunto e reforçar que junho é conhecido como mês da diversidade ou mês do orgulho LGBTQIA+, o podcast Eu Te Explico conversou com Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra); Millena Passos, ativista há 25 anos e coordenadora do Grupo Gay da Bahia (GGB) e o ativista da causa trans Caio Guimarães.
Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) — Foto: Divulgação
Entre outros desdobramentos sobre o assunto, Keila Simpson falou sobre a transfobia e reforçou a importância do conhecimento para evitar o preconceito.
"O preconceito vem de parte da desinformação da sociedade. Se a gente tem uma sociedade desinformada em relação às pessoas trans, obviamente que esse processo da transfobia vai acompanhar", disse.
Com relação aos dados sobre violência contra pessoas trans e travestis, os participantes citaram as dificuldades de dados e registros de casos.
"Quando uma pessoa sofre uma transfobia ela nem vai para a delegacia. Ela vai para casa chorar e, no outro dia, ela procura a associação [Antra]. Ela vai para a delegacia quando é algo mais sério, quando recebe um tiro, uma facada, e nem é ela quem procura a delegacia. Ela vai para o hospital procurar atendimento e lá tem alguém da polícia, que fica nesses plantões. Essa denúncia é reportada para a delegacia. As delegacias são sempre espaços nocivos para a população trans. A pessoa chega lá como vítima e sai como acusada. Obviamente que tem algumas delegacias que atendem essa demanda da população trans de forma mais humanizada, mas não é um cenário geral", revela Keila Simpson.
"Quantas vezes não apareceram mulheres trans, com documento retificado, e ela chega com RG dela para prestar uma queixa [na delegacia], mas eles [agentes] a tratam no masculino? Isso é uma falta de respeito. O acolhimento, na prática, não acontece", completa Caio Guimarães.
Millena Passos, ativista há 25 anos e coordenadora do Grupo Gay da Bahia (GGB) — Foto: Divulgação
Outro ponto bastante abordado no podcast foi o mercado de trabalho para pessoas transsexuais e travestis.
"A principal pauta do movimento trans eu tenho certeza que é o mercado de trabalho. O mercado de trabalho é muito restrito. A única profissão que elas têm são profissões como cabeleireira, esteticista e a prostituição, que é a profissão mais antiga. Mas muitas delas querem ter outros espaços também", reforça Milena Passos.
"[Pessoas trans e travestis] São expulsos de casa, a escola não aceita, o mercado de trabalho não se prepara e sobra, praticamente, a prostituição", concorda Keila Simpson.
"Trans e travestis acabam em desvantagem no mercado de trabalho e acabam indo trabalhar como profissional do sexo", completa Caio Guimarães.
O ativista da causa trans também falou sobre os desafios após a contratação de uma pessoa trans ou travesti, além de problemas enfrentados por pessoas transexuais no ambiente de trabalho.
"As piadas são as piores coisas. Porque, por exemplo, eu já tive que ouvir de um colega: 'quando é que você vai fazer uma cirurgia para colocar um pênis? Você só vai ser homem se tiver um pênis'. Você fica até sem reação na hora. Infelizmente as pessoas rotulam tudo do gênero na questão da genitália e isso é difícil", relembra Caio.
Ativista da causa trans, Caio Guimarães — Foto: Divulgação
Para ele, algumas empresas empregam pessoas trans para serem bem vistas no âmbito social mas, na prática, esses trabalhadores não recebem tratamento igual ao dos demais.
"Na verdade, é só por uma questão de status e dizer que você está contratando [transsexuais e travestis] mas, quando a pessoa passa pela agressão, porque isso é uma agressão, e você vai falar, as pessoas não sabem nem como agir ou não fazem nada. Em alguns casos podem até dizer: 'você sabia que ia ser assim, mas você quis, então...' Tudo isso é muito difícil porque realmente é desassistido tanto no âmbito da instituição quanto na delegacia", detalhou Caio.
Duante a conversa, a coordenadora do Grupo Gay da Bahia, Millena Passos, também falou sobre locais em Salvador que oferecem acolhimento e orientação para as pessoas transsexuais e travestis. São eles:
- Casarão da Diversidade
Endereço: Rua do tijolo, número 8, no Centro Histórico de Salvador - Grupo Gay da Bahia (GGB) (Clique aqui e confira a rede social do grupo)
- Centro Municipal de Referência LGBT+ Vida Bruno
End.: Av. Oceânica, n. 3731, Rio Vermelho – Centro de Referência LGBT+ Vida Bruno
Horário: 8h às 17h, segunda a sexta-feira
Tel.: (71) 3202-2750
E-mail: semur.cmlgbt@salvador.ba.gov.br
O Eu Te Explico - O podcast do g1 Bahia vai ao ar todas as segundas, às 6h.
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