Espetáculo infantil com língua de sinais leva cultura e diversidade às crianças da periferia - Emais - Estadão

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Beatriz Pugliese - Especial para o Estadão

14/07/2022, 09:49

A peça 'As histórias de Benê' será exibida gratuitamente em diversos bairros de São Paulo de 17 de julho até 11 de agosto

 Peça 'As histórias de Benê' retoma a cultura tradicional oral de diversas regiões do Brasil.

 Peça 'As histórias de Benê' retoma a cultura tradicional oral de diversas regiões do Brasil. Foto: Catherine Gobbi

O espetáculo As histórias de Benê, com estreia no próximo domingo, 17 de julho, fala sobre uma criança que mergulha em um livro mágico, o qual retoma a cultura tradicional oral de diversas regiões do Brasil, como cordel, brincadeiras de fita e literatura fantástica. A peça da Trupe Arlequinos e Colombinas será exibida, gratuitamente, em espaços da periferia de São Paulo até 11 de agosto (veja as datas das apresentações abaixo).

Ao Estadão, a diretora Jhonnã Bao contou que, durante o processo de construção do espetáculo, a equipe de produção  foi realizar visitas técnicas e, em uma dessas ocasiões, foi surpreendida com a fala de uma professora de escola pública: “essas crianças não sabem o que é teatro, não têm acesso à cultura. Vocês trazerem esse espetáculo é uma possibilidade delas poderem ampliar a imaginação”. A escolha geográfica e social já era uma preocupação, mas foi confirmada após essa experiência significativa. 

Acolhimento de crianças surdas 

Expor uma pluralidade de realidades e atingir o maior número de crianças possível sempre foram pontos essenciais para a equipe. Entretanto, logo no início da produção da obra, as escritoras Jenifer Costa e Bella Santos perceberam que não estavam acolhendo crianças surdas e que uma simples tradução simultânea não seria suficiente. A partir dessa inquietação, decidiram incorporar a língua de sinais ao espetáculo. 

Foram organizadas oficinas abertas ao público, nas quais os atores e produtores foram introduzidos à Língua Brasileira de Sinais (Libras). Em paralelo, a especialista Victoria Oliveira ficou responsável por traduzir o texto e orientar o elenco em ensaios semanais.     

O desafio de produzir uma peça em Libras vai muito além do aprendizado da língua em si. Bao falou sobre a importância da exteriorização neste trabalho: “o teatro já tem uma expressividade maior, espetáculo infantil demanda também mais energia e Libras precisa muito desse lugar facial que acompanha os gestos”. 

Retomada das culturas tradicionais 

O enredo da peça teve inspiração a partir de lembranças da infância das escritoras: o amor de Bella pelo circo e as histórias que Jenifer escutava de sua avó, Dona Francisca. Surgiu, assim, As histórias de Benê, retratando como uma criança que não gosta de ler e tem dificuldades para se comunicar acaba se encantando por um livro e descobre como novas linguagens podem ajudar no seu futuro. 

A geração Z está cada vez mais distante dessas tradições brasileiras. Por isso, a produção usou estratégias para aproximar o público de uma realidade que as crianças têm tão pouco conhecimento. “A gente tenta trazer a cultura popular tradicional com alguns elementos contemporâneos”, disse Bao. Ela contou, também, que incorporaram até danças de Tik Tok, aplicativo de sucesso entre crianças e jovens. 

Espetáculo infantil com língua de sinais leva cultura e diversidade às crianças da periferia.

Espetáculo infantil com língua de sinais leva cultura e diversidade às crianças da periferia. Foto: Catherine Gobbi

Quanto mais diverso, melhor

A personagem principal, Benê, é uma criança agênero, ou seja, o fato de ser uma criança se sobrepõe à questão de gênero. De acordo com a diretora Bao, “gênero é muito violento quando definido na infância”. Para expressar esse caráter agênero, a produção usou um nome (Benê) e figurino (macacão amarelo) neutros. 

Apesar da questão de gênero ser fundamental na peça, Bao deixa claro que “não é o mais importante, é um elemento a mais.” O objetivo é que o público tenha esse questionamento naturalmente: "nossa, Benê é menino ou menina?”.    

Em busca de ainda mais diversidade, a equipe decidiu fazer de Benê uma criança “multiplicada em três”. Bao explicou que a personagem principal é interpretada por três atrizes diferentes - 2 brancas e 1 negra - com objetivo de ressaltar a pluralidade. 

Desde o local das apresentações, até o conteúdo e a linguagem; As histórias de Benê acolhe todas as crianças e expõe todas as realidades, com objetivo de marcar a geração que tem potencial para causar impactos positivos na sociedade, nos próximos anos. “Eu, uma travesti negra da periferia de São Paulo, dirigir um espetáculo infantil já é um ato revolucionário”, disse Bao. “Nosso espetáculo é uma sementinha no solo mais próspero, que é o solo da criança”.

Serviço:

Espetáculo infantil As histórias de Benê 

Ingressos: Grátis

Duração: 50 minutos

Classificação: Recomendado a partir de 4 anos,

Sessões com acessibilidade em Libras.

Dia 17 de julho, domingo, às 16h

Casarão - Vila Guilherme 

Praça Oscár da Silva, 110 - Vila Guilherme, São Paulo - SP, 02067-070

Capacidade: 70 lugares

Dia 26 de julho, terça-feira, às 15h

Céu Perus

R. Bernardo José de Lorena, S/N - Vila Fanton, São Paulo - SP, 05203-200

Capacidade: 250 lugares

Dia 28 de julho, quinta-feira, às 14h

Biblioteca Brito Broca 

Av. Mutinga, 1425 - Vila Pirituba, São Paulo - SP, 05110-000

Capacidade: 60 lugares

Dia 29 de julho, às 14h

Cei Vila São João

R. Alto Jurupari, 300 - Parque Nações Unidas, São Paulo - SP, 02995-040

Capacidade: 40 lugares

Dia 2 de agosto, terça-feira, às 10h e às 14h

Escola Bilíngue EMEBS Madre Lucie Bray

R. São Geraldino, 236 - Vila Constança, São Paulo - SP, 02258-220

Capacidade: 40 lugares

Dia 11 de agosto, quinta-feira, às 10h30 e às 14h30

Emef Raul Pompéia 

Av. Elias Antônio Lopes, 165 - Parque Taipas, São Paulo - SP, 02986-110

Capacidade: 70 lugares

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