Especialistas alertam para o combate aos tipos de violência contra a mulher - Estado de Minas

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Por Izabella Caixeta

Mulher branca com camiseta preta com um homem tampando sua boca por trO silenciamento tambm uma forma de violncia contra a mulher (foto: Anete Lusina)

A Lei Maria da Penha prev cinco tipos de violncia contra a mulher: fsica, psicolgica, moral, sexual e patrimonial. E todas elas tm em sua origem o sexismo, uma construo social que prev comportamentos sociais para homens e mulheres. No Dia Nacional de Luta Contra a Violncia Mulher, o DiversEM entrevistou especialistas a respeito dos diferentes tipos de violncia.

“Existe na nossa sociedade alguns esteretipos, representados por papeis sociais. Ento para a mulher sempre direcionado o papel de ser a cuidadora, de ser servil, paciente, amorosa, solidria. Todas as atividades profissionais que tenham algum tipo de conexo com esses atributos so automaticamente direcionadas para as mulheres”, explica Snia Lesse, diretora de experincias e scia da Profissas, escola de diversidade e incluso.

Ser mulher passa por uma construo desde a infncia dos indivduos. A partir de de convenes sociais muitos pontos so determinadas a partir do gnero: azul para meninos e rosa para meninas, at as brincadeiras de cada gnero, com a lgica que meninos brincam de carrinho e meninas de bonecas, passando por comentrios que moldam o comportamento de ambos: “voc deve se sentar como uma mocinha” ou “voc muito bagunceira, parece um menino”.

SSnia Lesse explica como "ser mulher" uma construo social (foto: Divulgao/Profissas)

Todos estes aspectos esto to enraizados na nossa sociedade que dificilmente percebido no dia a dia, ocupando um lugar de naturalidade. Nessa lgica, as mulheres automaticamente nascem com um uma delicadeza e um instinto cuidador natos, e qualquer recusa a esse lugar coloca a mulher na dimenso negativa, sendo considerada fria, desinteressada, histrica, desequilibrada, por no atender s expectativas sociais.

Segundo Snia, o ideal ensinar as crianas a elogiar uma pessoa no fazer pelos aspectos fsicos como o cabelo, sorriso ou corpo bonito. “ necessrio desconectar as caractersticas fsicas dessa mulher dos seus atributos e suas qualidades. Ela pode ser uma criana incrvel porque ela inteligente, criativa, esperta, no porque ela meiga, sensvel ou delicada”, afirma.

Interseccionalidades

Para alm do que ser mulher em uma sociedade, outros marcadores como raa, cor e orientao sexual tambm afetam a vivncia de diversas mulheres. 

Snia explica que quando falamos sobre “mulher”, a imagem que desperta no imaginrio coletivo de uma mulher branca, htero, cisgnero e sem deficincia. Qualquer mulher que no tenha essas caractersticas sempre ser acompanhada deste marcador. “Se algum vai falar sobre mim, essa pessoa vai falar ‘mulher negra’, se for falar sobre uma mulher trans, o “trans” vai sempre acompanhar “mulher” para falar dessa pessoa, e o mesmo para uma mulher com deficincia, exemplifica.

Isso se reflete, por exemplo, no fato que a maioria as mulheres que denunciam violncia domstica so mulheres negras. Em 2019, 66% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras. Alm disso, a diferena entre o salrio de um homem branco para uma mulher branca , em mdia, de 38% e de um homem branco para uma mulher negra de 58%.

“Quanto maiores os marcadores das diferenas, mais abaixo dessa pirmide a pessoa estar. Para uma mulher negra, LGBTQIAP+, com deficincia, esse lugar vai sendo empurrado cada vez mais para baixo, com sua construo e reafirmao de identidade sempre postos a prova”, afirma Snia.

Sentindo as interseccionalidades na pele

Karina, mulher negra e gorda, com cabelos black power, usando blusa preta e rindo Karina explica como ser uma mulher negra gerou diversas violncias ao longo de sua vida (foto: Arquivo pessoal)

A empresria e influenciadora Karina Dlffyn sofre os efeitos do machismo e do racismo todos os dias. Ela conta que ao longo da sua vida sempre foi colocada no esteretipo da mulher agressiva por no compreenderem sua voz forte e potente, levando seu existir para o lado da agresso, e agredindo verbalmente em resposta.

A gente acaba indo para esse lugar do silenciamento por medo, por ser coagida de alguma forma

Karina Dlffyn

Hoje se entendendo enquanto mulher e preta, compreende que tais agresses foram normalizadas pela sociedade. “A gente sempre colocada nesse lugar e a culpa que a gente sente muito feroz, e nos atravessa de uma forma que a gente acaba se perdendo de si. Durante muitos anos eu me perdi de mim por ser colocada nesse lugar de agressiva, mas, no fundo, eu estava sofrendo uma agresso”, diz Karina. 

Karina ainda conta que as agresses sofridas foram tanto no mbito pessoal, em relacionamentos, como nos ambientes de trabalho, fazendo com que se silenciasse, o que mais uma forma de agresso. “A gente acaba indo para esse lugar do silenciamento por medo, por ser coagida de alguma forma. Ento importante que a gente vena essa barreira, e falar sobre essas violncias para no normalizar a violncia verbal e a coero”, afirma.

Paralelo ao fato de sermos a populao feminina mais morta no brasil e no mundo, ns somos a populao feminina mais procurada, consumida em um teor sexual e de objetificao

Lua Manzano sobre as mulheres trans no Brasil

A produtora Lua Manzano passa por experincia semelhante. Enquanto travesti, Lua trabalha com educao social, realizando palestras sobre diversidade, equidade e incluso. Em seus trabalhos como produtora, contribui para a incluso de outras travestis no mercado de trabalho.

Karina, mulher negra e gorda, com cabelos black power, usando blusa preta e rindo Karina explica como ser uma mulher negra gerou diversas violncias ao longo de sua vida (foto: Arquivo pessoal)

Dentre as feminilidades existentes no Brasil, as travestis so uma das que mais sofrem com o preconceito e a marginalizao, que levam 90% desse grupo a recorrer prostituio para sobreviver. A expectativa de vida das travestis no ultrapassa 35 anos por conta da violncia imposta a elas.

“Paralelo ao fato de sermos a populao feminina mais morta no Brasil e no mundo, ns somos a populao feminina mais procurada, consumida em um teor sexual e de objetificao. Ento a gente v que o recorte da pessoa trans de identidade feminina no Brasil precisa de muito mais ateno e cuidado”, afirma Lua.

A produtora aponta como a violncia diria afeta a sade fsica e mental das travestis, criando uma cultura de silenciamento, fazendo-as acreditar que no so dignas de afeto, de respeito, de trabalho e de dignidade. Alm disso, Lua fala de como a interseccionalidade tambm ocorre com mulheres trans. 

“Uma travesti perifrica est muito mais suscetvel vulnerabilidade do que eu, que estou no centro de So Paulo. Ento eu tenho que ter conscincia de classe, de raa, do recorte feminino que estou enquadrada e a partir disso agir e proteger o mximo que eu puder as pessoas que esto nesse espectro feminino, que sofrem violncia diria e preconceito velado ou explicito”, afirma Lua.

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