ARTICLE AD BOX
Embora votar seja uma responsabilidade cívica, temos o direito de anular nosso voto – efetivamente não lançá-lo a qualquer candidato. Muitos veem a anulação do voto como uma contradição e incapacidade de fazer uma escolha.
Não é verdade. Anular meu voto é não ser forçado a fazer uma escolha entre a volta de um pesadelo impossível e o "imbrochável porém incomível".
Em um país com tantos problemas, estou na minoria extrema quando decidi que vou anular meu voto no segundo turno. Fui chamado de covarde e ingênuo por família e pessoas de ambos os lados do espectro político. Entendo a frustração de todos.
No primeiro turno, votei em Simone Tebet, uma candidata progressista – a única candidata que eu acredito ter autoridade moral e ética e experiência política para servir como presidente.
Ela ficou em terceiro lugar com pouco mais de 4% do total de votos. Sua perda não foi uma surpresa. Desde então, Tebet se alinhou com o ex-presidente Lula para o segundo turno das eleições.
Teria considerado votar em Sergio Moro, um candidato mais conservador e o juiz que condenou Lula e centenas de outros políticos corruptos na Operação Lava Jato, se algum grande partido político o apoiasse como candidato presidencial. Não aconteceu. Desde então, Moro se (re-)alinhou à Bolsonaro.
Simone Tebet deixou de criticar o Lula. Sergio Moro aponta para a falta de autocrítica do PT mas fica em silêncio quando é dada a oportunidade de criticar a possibilidade de corrupção dentro do governo atual.
Se esta contradição é normal, porque não a minha? Estou confortável vivendo dentro da contradição, talvez isso seja ser brasileiro.
Afinal, o Brasil é uma nação de contradições extremas.
Estamos entre os maiores exportadores de grãos e proteínas. Praticamente alimentamos o mundo enquanto 33 milhões de nossos próprios cidadãos passam fome todos os dias.
Somos o país que mais consome pornografia transexual, sendo também o país que mais mata transgêneros.
Como cristãos, tememos ser perseguidos e, no entanto, perseguimos não somente aqueles que não crêem como nós, também perseguimos nossos próprios irmãos e irmãs dentro da igreja por suas opiniões políticas.
Desprezamos a violência em nossas ruas e, no entanto, adoramos nos divertir com histórias de assassinos em série.
Nós idolatramos e idealizamos a natureza. Adoramos estar perto dela e, mesmo assim, permitimos que nossas florestas sejam queimadas até o chão e o nosso pantanal, cerrado e caatinga serem destruídos em nome do desenvolvimento abusivo.
Os seis homens mais ricos do Brasil têm a mesma riqueza que os 50% mais pobres da população.
Flertamos com a ditadura para "salvar" a democracia.
Odiamos a corrupção mas (provavelmente) vamos eleger um presidente que supervisionou e possibilitou o maior esquema de corrupção da nossa história.
A lista continua.
Anular meu voto é normal nesta nossa contradição brasileira.
Filipe Wesley de Souza, empresário e consultor de startups
Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.
COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]