ARTICLE AD BOX
Falar sobre beleza ainda te parece superficial? Fútil? Espero que eu consiga te provar que não é
Oi, eu sou a Gui Takahashi e é digitando com um sorriso de orelha a orelha que escrevo que sou a nova colunista da Glamour! E, no nosso primeiro papo neste site novíssimo da Gla, vou te contar um pouco sobre a minha história.
Sou uma mulher trans asiática. Comigo, você pode usar os pronomes ela/dela. Nasci no interior do Paraná, em uma família conservadora e rígida de origem japonesa. Pois é, meu entorno não era o mais acolhedor para uma travesti. Então, foi escondida e estudando longe de casa, aos 17 anos, que comprei minha primeira máscara de cílios. Em uma época em que a internet ainda engatinhava e não tínhamos referências positivas e possíveis de pessoas trans na mídia. Foi ali que comecei o meu processo de autoconhecimento, que me levou à transição depois de 13 anos.
Lembro-me como se fosse hoje de como me senti a primeira vez que me olhei no espelho assim, maquiada. Pode parecer banal, mas aquela cena acendeu a fagulha de uma chama que nunca mais se apagou. Enxerguei ali, estampado no espelho, um esboço de quem eu sempre quis ser, mas nunca tinha tido a chance de desabrochar.
Você consegue se lembrar quando foi a primeira vez que alguém te disse que você era linda? E, quantas vezes, desde que se entende por gente , você já se olhou e pensou “Nossa, eu tô muito gata”? Se a primeira resposta for "depois dos 27 anos" e a segunda for "poucas vezes a ponto de você se lembrar", temos algo em comum. Foi assim comigo.
O caminho que me pareceu viável ali, na minha penteadeira, foi usar a maquiagem para me expressar, resistir… e existir. Assim, ela me ajudou a trazer à luz Gui, essa que sou hoje, que sempre esteve guardada dentro de mim. E conforme a gente se conhecia, a make me apresentava meus traços, me ajudando a amar os olhos puxados e outros tantos sinais da minha ancestralidade asiática – que, vale lembrar, também sempre foram menosprezados em um país ocidental. Conforme fomos ganhando mais intimidade, a maquiagem também me revelou uma Gui confiante e poderosa, sentimento parecido das que já li sobre culturas antigas, que pintavam o rosto para vencer batalhas, para flertar e para celebrar.
Já numa relação de união estável com a minha make, ela começou a me apresentar para outros universos que traziam novas possibilidades. O skincare, por exemplo, me mostrou o autocuidado e a importância de ser feliz na minha pele, especialmente quando de cara lavada. Os cuidados com o cabelo me deram passabilidade como mulher que eu nunca tinha provado antes, nesse mundo cheio de estereótipos e expectativas de gênero. E os perfumes, que com toda sua alquimia, me presentearam com a certeza invisível de ser mulher.
Mas tudo isso só aconteceu depois de um date que saí chorando porque fui rejeitada por ser um "viadinho de make" (sim, o boy gay esperava que eu fosse mais macho e, até hoje, tô devendo), depois de muito ter escondido um nécessaire no carro para me maquiar fora de casa e longe dos olhos dos meus pais, depois de ter sido xingada na rua com uma sinfonia de buzinadas – e morrendo de medo de ser espancada. Mas isso é papo para os nossos próximos encontros.
Aqui, vou te mostrar que a beleza é uma ferramenta valiosa para gente se expressar, se descobrir, se cuidar, se amar, se sentir poderosa e despertar fagulhas de potência dentro da gente. Pega seus pincéis e vem comigo!