Carta com dicas de livros aos leitores desconhecidos - UOL

3 years ago 710
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Camarada leitor de tantas caras, como estão as coisas?

Você já sabe. Quando começo com esse papo, sinal de que livros se acumularam aqui por perto. Não me aprofundarei nessas obras da forma como gostaria, mas paciência. Escrevo esta carta para, pelo menos, compartilhar contigo impressões dessas leituras.

A começar pelo Fernando Bonassi. Já tinha gostado um bom tanto do "Luxúria", livro lançado em 2015 pela Record, e agora gostei outro bom tanto do "Degeneração", que saiu no ano passado pela mesma editora. Às vezes me sinto em dívida com a obra do Bonassi. Em algum momento precisarei me dedicar com calma ao texto - resenha? ensaio? sei lá - que esses livros recentes do cara merecem.

A derrocada (econômica, moral, humana) do Brasil está nessas páginas. Do que já li, raros usaram tão bem a ficção para escarafunchar o horror que saiu dos esgotos e tomou conta do país na última década. Nesse novo romance é o filho de um ex-policial, um bandido de farda, financiado pelo Estado, que faz com que a narrativa vá pra frente. Cabe ao cara se entender com os trâmites para cremar o corpo do seu pai, o criminoso homem de bem agora morto. É nesse pós-morte do escroto que um mosaico de truculência, violência e estupidez empoderada se revela enquanto a extrema-direita chega ao poder. Vale a leitura, camarada, vai na minha!

Como vale a leitura de "O Verão em Que Mamãe Teve Olhos Verdes". Não é toda hora que pinta por aqui um romance de uma romena - a Tatiana Tîbuleac, no caso. Quem pescou a obra foi a Mundaréu, que deu para o Fernando Klabin traduzir. A primeira frase do livro já dá o tom da bagaça: "Naquela manhã em que a odiava mais do que nunca, mamãe completou trinta e nove anos". Daí para frente o que temos é a relação bastante conturbada de um filho com a sua mãe. Só que, em meio a tanta mágoa, tanta raiva, há também resquícios de afeto. Às vezes só odiamos o que também podemos amar ou ter algum tipo de afeição, não é? Eu sei lá. É o que dizem, pelo menos. Não é por acaso que a Tîbuleac tem recebido elogios de bons leitores por aqui.

Um que oscila mas tem aspectos importantes para se ressaltar é o "Febre Tropical", da Juliana Delgado Lopera, romance sobre a multiplicidade latina nos Estados Unidos. O livro é focado numa jovem espremida entre as descobertas e angústias da juventude e a encheção da família bitolada na igreja. Esse quem trouxe foi a Instante e quem traduziu foi a Natalia Borges Polesso. A autora nasceu na Colômbia em 1988 e vive nos Estados Unidos desde 2003; o choque cultural transparece em seu texto. Chama a minha atenção essa literatura latino-americana produzida lá na terra do Edgar Allan Poe. Essa da Juliana tem um trabalho em que pululam marcas de oralidade do espanhol.

Me aproximo do fim, camarada. Só não poderia deixar de olhar para as HQs antes do ponto final.

Coisa rápida e direta. Gostei do "Degenerado", de Chloé Cruchaudet, publicado pela Nemo e traduzido pela Renata Silveira. Boa história, com páginas memoráveis, sobre uma mulher e seu marido travesti entre a Primeira Guerra Mundial e a Paris dos anos 1920. E não gostei de "Kanikosen - O Navio dos Homens", de Go Fujio e Takiji Kobayashi, lançado pela Veneta com tradução de Drik Sada. E por que indico? Pois é um ótimo exemplo de arte panfletária, cheia de maniqueísmo.

Encerro, grande leitor, grande leitora. Espero que os toques sejam úteis. Também espero que as leituras estejam caminhando bem por aí.

Abração.

RC

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