BBB, Copa, Show do Milhão e Rouge: Por que 2002 marcou o último auge da TV brasileira - Observatório da TV

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Se em 2022 a TV aberta sofre para competir com o streaming e os canais pagos, duas décadas atrás o cenário era completamente diferente. Com estreias e recordes de audiência em praticamente todas as emissoras, é possível classificar 2002 como o ano do último auge da nossa televisão.

Há 20 anos, a TV reinava absoluta como principal veículo de informação e entretenimento da população. Em 2001, de acordo com o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o número de domicílios com televisor (89%) havia ultrapassado pela primeira vez o total de moradias com rádio (88%). Em números absolutos, eram 41,4 milhões de casas com aparelho de TV, contra aproximadamente 7 milhões de usuários de internet. Os canais por assinatura também engatinhavam (eram 3,2 milhões de clientes em 2002). Em suma: a TV aberta não tinha concorrência.

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Com o fim do racionamento de energia elétrica (em função de uma crise hídrica), em fevereiro de 2002, o brasileiro não tinha motivos para economizar tempo em frente ao televisor, e o aproveitou como nunca. Novelas em quase todos os canais, explosão de reality shows e, claro, a Copa do Mundo prenderam o espectador em faixas horárias até então “desertas”.

Quando 46 milhões de pessoas sintonizarão a TV em plena madrugada? Só mesmo na vitória do Brasil sobre a Inglaterra, pelas quartas de final da Copa de 2002, a primeira em dois países e com fuso horário inverso ao nosso (Coreia do Sul e Japão), o que fez quase todos ficarem em casa (e não aglomerados em bares como de costume). Esta partida, de acordo com a Fifa, obteve share de 94,2%, isto é, de cada 100 televisores ligados 94 estavam na Globo, rendendo à emissora o recorde mundial de audiência do torneio mais importante do futebol.

Às 3h30, enquanto o Globocop sobrevoava bairros de São Paulo, Galvão Bueno pedia para o público acender e apagar as luzes como sinal de que estavam torcendo pela seleção brasileira na Globo. Com a exclusividade e o horário, ficou fácil para a rede bater 90% de participação, porcentagem quase impossível hoje em dia, em que as atenções do público se voltam para outras plataformas além da TV aberta.

Bem, amigos, e já são 19 anos do penta!! Dos dois gols do Rrrrrrrronaldinho… Número 9!! E que Cafu ergueu a taça para o mundo inteiro ver!! Inesquecível!! Diga lá, onde é que vocês estavam nesse dia tão especial?? pic.twitter.com/RNVzwrPuj3

— Galvão Bueno (@galvaobueno) June 30, 2021

Além da seleção do penta, duas atrações foram determinantes para o crescimento da Globo em 2002 (20 pontos em São Paulo e 22 no Brasil). A primeira foi o Big Brother Brasil. Enfurecida com Silvio Santos pela Casa dos Artistas, a emissora deixou o processo por plágio nas mãos da Justiça e empenhou os departamentos artístico e de jornalismo para lançar um reality show melhor do que o produzido pelo SBT meses antes. O BBB1 terminou com média de 59 pontos de audiência, pico de 64 e 76% de share (ou seja, três de quatro televisores ligados estavam sintonizados na vitória de Kleber Bambam).

A segunda é O Clone, reprisada atualmente em Vale a Pena Ver de Novo. Sem a Casa dos Artistas para atrapalhar, a novela de Gloria Perez tornou-se um fenômeno, sendo espichada até o início da Copa: média de 47 pontos e pico de 68 no último capítulo, melhor desempenho em seis anos. As joias de Jade (Giovanna Antonelli) e bordões como “Cada mergulho é um flash”, de Odete (Mara Manzan), não saíram do imaginário popular. O maior símbolo do êxito da trama é o bar de Dona Jura, que recebeu de Zeca Pagodinho ao rei Pelé. A personagem de Solange Couto conquistou o Brasil e quase foi parar no Zorra Total. Para completar o nível de aleatoriedade, a atriz deixou a emissora e terminou 2002 como apresentadora da RedeTV!.

Rouge grava o clipe de Ragatanga, em 2002 (Divulgação/SBT)

SBT

Vamos mudar de canal? O sucesso do SBT em 2002 não foi medido por peoplemeters (os aparelhos do Ibope), mas por cartas. Mais especificamente 78 milhões! A montanha de correspondências que entrou para o Guinness Book marcou a parceria histórica entre Silvio Santos e a Nestlé. Para participar do Show do Milhão, o telespectador deveria enviar oito rótulos de produtos da marca. Foram 600 milhões de comprovantes! A mineira Eliane, representando a irmã, foi sorteada pelo então presidente da empresa alimentícia, Ivan Zurita, e faturou R$ 1 milhão ao final do concurso, em dezembro daquele ano.

Finalmente, Silvio Santos abriu a famosa maleta com R$ 1 milhão em barras de ouro “que valem mais do que dinheiro”, mas sem fazer pergunta milionária. O professor Jair Hermínio da Silva, apelidado pelo apresentador de “Homem Enciclopédia”, foi o primeiro a responder, em fevereiro de 2002, mas errou a contagem das letras do lema da bandeira nacional (“Ordem e progresso”) e saiu do game show com apenas R$ 300.

O SBT tentou surfar na onda da Casa dos Artistas, mas as duas edições produzidas em 2002 não tiveram o mesmo êxito e desgastaram o formato. No mesmo ano, lançou a novela Marisol, estrelada pela campeã da primeira temporada, Bárbara Paz, e por Alexandre Frota, bad boy queridinho de Silvio.

O reality show do SBT que influenciou uma geração foi outro em 2002: Popstars. Embora a audiência tenha sido menor do que a de seu concorrente direto, Fama (lançado pela Globo para enfrentar os calouros de Raul Gil na Record), o sucesso se mediu nas lojas de CDs. Aline, Fantine, Karin, Luciana e Patrícia (que hoje assina como Li), o quinteto escolhido entre mais de 30 mil candidatas, venderam mais de 500 mil cópias naquele ano com o primeiro CD do grupo Rouge. O Brasil foi “possuído pelo ritmo Ragatanga”. Elas sim tiveram fama!

A “feia” e os “desesperados”

Até as emissoras que costumam zerar no Ibope, alcançaram dois dígitos de audiência com atrações lembradas até hoje. Em 2002, a RedeTV! tirou Betty, a Feia da Globo (sim, a emissora carioca havia comprado a novela colombiana para impedir que o SBT a levasse). Após um início fraco, a trama dobrou seus índices no fim daquele ano e, em 2003, terminou com dez pontos, repetindo o sucesso que fez em dezenas de países.

“Lanterna” entre os principais canais abertos de São Paulo, a Gazeta também atingiu dez pontos com uma versão assumidamente “trash” do BBB e da Casa dos Artistas. Sérgio Mallandro trancou em uma quitinete (equipada com apenas um banheiro e uma piscina de plástico) personagens como um travesti, um obeso, uma garota de programa, um “bad boy” homofóbico e até um sósia de Tim Maia. O prêmio? R$ 1 mil e uma cesta básica. A Casa dos Desesperados ficou em segundo lugar no Ibope e se eternizou entre os melhores “piores” reality shows do Brasil.

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