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Músico, ícone da moda, ativista e futuro protagonista da Marvel, Bad Bunny concorre em dez categorias do Grammy
Por Maria Lacerda | Culturadora
O maior artista do mundo é latino e se nega a cantar em outra língua que não o espanhol. Benito Antonio Martinez Ocasio, mais conhecido como Bad Bunny, domina a era dos streams quebrando recordes a cada lançamento. Curiosamente, o artista continua sendo um estranho para alguns brasileiros – mas não por muito tempo.
Bad Bunny foi o artista mais ouvido do mundo no Spotify em 2020, 2021 e, até o momento, será em 2022. Faltando cinco meses para terminar o ano, o porto-riquenho já ultrapassou 10,3 bilhões de reproduções na plataforma, quebrando o recorde estabelecido por ele mesmo no ano anterior. Além disso tudo, o artista indicações ao Grammy Latino deste ano. Concorre em dez categorias, incluindo “Álbum do Ano” e “Gravação do Ano”.
Foguete
Tendo o reggaeton como carro chefe, o porto-riquenho de 28 anos conquistou o estrelato quase por acaso. Em seis anos de carreira, Benito já lançou seis álbuns, todos excepcionalmente bem sucedidos. Seu lançamento mais recente, “Un Verano Sin Ti”, de maio deste ano, já passou seis semanas no topo da Billboard 200 e é o mais escutado do Spotify em 2022.
Desde 2016, quando fez o primeiro lançamento amador, já são dois Grammys e quatro Grammys Latinos para a conta do menino de San Juan. De quebra, ele coleciona colaborações com grandes nomes, incluindo Cardi B, Drake, J Balvin e Daddy Yankee
Ah, e o currículo de Benito também inclui uma carreira promissora como ator, título de ícone da moda e ativismo. O artista vai ser o primeiro protagonista latino da Marvel nos cinemas e vira e mexe aparece estrelando campanhas e exibindo combinações que definem perfeitamente a moda agênera. Um astro, para dizer o mínimo.
De onde surgiu Bad Bunny?
Nascido em 10 de março de 1994, Benito cresceu com a influência de um dos ritmos mais potentes da América Latina – o reggaeton. O começo como artista aconteceu ainda bem jovem, quando o porto-riquenho entrou para o coro da igreja que a família frequentava, mas não ficou por muito tempo.
Em 2014, Benito começou a estudar comunicação na Universidade de Porto Rico e trabalhava em um supermercado para bancar os estudos. Apesar disso, nunca deixou a música de lado.
No meio tempo, mesmo sem formação musical ou dinheiro para equipamentos, ele começou a fazer música dentro da própria casa, sem nenhuma pretensão. Influenciado por amigos, o artista passou a publicar canções autorais na plataforma Soundcloud com o nome Bad Bunny, “El Conejo Malo”. O apelido que acompanhou a fama veio de uma foto da infância de Benito, vestido de coelho e com cara de bravo – um Coelho Mal.
Influências latinas e sucesso na internet
O músico começou produzindo trap, mas não se rotulava por isso. Uma das razões do crescimento do cantor foi a criatividade e originalidade em misturar traços de ritmos modernos com clássicos regionais, como o reggaeton, mambo e bachata, ainda introduzindo influências do pop e rock.
O boom veio em 2016, com a publicação da música “Diles” na plataforma SoundCloud. Quase da noite para o dia, sem investir um mísero dólar, a canção estourou na internet. Em uma semana, o single foi tocado 1 milhão de vezes, organicamente.
Bad Bunny foi crescendo em Porto Rico e acabou chamando atenção do produtor musical DJ Luian, da gravadora Hear This Music. Logo contratado, o cantor começou a lançar vários singles e fazer duetos com nomes grandes do reggaeton, mas queria mais: lançar um álbum de estúdio.
A relação com a primeira gravadora, que estaria mais focada em lançamentos únicos, acabou azedando em 2018. Pouco tempo depois, Benito assinou com a Rimas Music, que o representa até hoje, e lançou o primeiro álbum X 100PRE (“Por siempre” ou “para sempre” em português).
Produção atrás de produção
O primeiro lançamento completo de Bad Bunny já é considerado pela Rolling Stone como um dos melhores álbuns de todos os tempos – mas ele não parou por aí. Em 2019, o cantor lançou OASIS, uma produção colaborativa com J Balvin, outro expoente do reggaeton, que foi a receita certa para o sucesso.
Já em 2020, foram três lançamentos. No início do ano, YHLQMDLG (sigla de “Yo Hago Lo Que Me Da La Gana” ou “Eu faço o que eu quiser” em português). Durante a pandemia, o cantor lançou o compilado Las Que No Iban a Salir (“Aquelas que não iam sair” em português), cheio de descartes com altíssima qualidade. Para encerrar, veio El Ultimo Tour del Mundo.
Com o último lançamento de 2020, Benito fez história por ter o primeiro álbum completamente em espanhol a estrear no topo da parada Billboard 200. O feito foi repetido com seu lançamento mais recente, Un Verano Sin Ti, que se nega a deixar o topo das paradas mundiais.
De cantor independente à protagonista da Marvel
Como se a carreira musical já não fosse impressionante, Benito também se aventura como ator. Ele estreia nesta semana ao lado dos gigantes Brad Pitt e Sandra Bullock no longa “Trem-Bala”, dirigido por David Leitch (Atômica e Deadpool 2), onde encarna o assassino profissional Lobo.
Não pense que é a primeira vez do artista nas telonas. Ele já fez uma aparição especial – bem tímida – em Velozes e Furiosos 9, de 2021. Apesar disso, estreia como ator aconteceu mesmo em Narcos: México, da Netflix, na pele do traficante Kitty Paéz.
Neste ano, Bad Bunny foi anunciado como a estrela principal de uma das novas produções do Universo Marvel. O porto-riquenho vai interpretar o anti-herói El Muerto, um homem que ganha super-força graças a uma máscara de luchador que é passada de geração em geração na família.
Fashionista
Além do sucesso nas paradas musicais e no cinema, Benito também se destaca no mundo da moda. O porto-riquenho dispensa normas de gênero na hora de se vestir, pintando as unhas, usando saias e até se vestindo de drag.
Além de desfilar por red carpets e explorar grifes e estilos diferentes nas apresentações ao redor do mundo, Benito foi escolhido como estrela da campanha “Le Splash” da francesa Jacquemus, onde aparece com um mini-vestido rosa e de salto alto. “Não tenho roupa de homem ou de mulher no meu closet, tenho roupas bacanas que você nunca vai conseguir comprar”, brincou Bad Bunny em um podcast.
Artista e ativista
Ao contrário de grandes nomes da música que preferem fugir de debates políticos, Bad Bunny não deixa de lutar pelas causas que acredita. Em 2019, durante protestos que terminaram com a deposição do governador porto-riquenho Ricardo Rosselló, Benito deixou a turnê que fazia pela Europa para participar de protestos contra corrupção em sua terra natal.
Mostrando que as escolhas na hora de se vestir vão muito além do pink money, Bad Bunny também se atenta para dar voz à comunidade LGBTQIA+. Benito apareceu de saia em uma apresentação, vestido com uma camisa que trazia a mensagem: “Mataron a Alexa, no a un hombre con falda” (em português, “Mataram Alexa, não um homem de saia”), uma homenagem à transexual Alexa Negrón Luciano, morta em um ataque homofóbico nas ruas de Porto Rico.
Mesmo inserido em um gênero comumente machista como o trap e o reggaeton, Benito dá um exemplo de como ser um bom aliado. Enquanto a música e o clipe de “Solo de Mi” são claros em condenar a violência doméstica, um dos maiores sucessos do cantor segue a mesma linha. “Yo Perreo Sola”, uma referência ao “perreo” porto-riquenho, fala sobre o direito das mulheres de dançarem sozinhas sem serem assediadas. No clipe da faixa de YHLQMDLG, o cantor se transformou em drag queen.
O céu é o limite
Em uma era de sucessos rápidos e extremamente comerciais, Bad Bunny se destaca por sua originalidade e por não deixar as raízes de lado. “Às vezes nos subestimam e não percebem o poder que temos como latinos. Quando nós, latinos, percebemos o poder que temos, falando nossa língua e representando a raça latina, vamos dominar o mundo”, afirmou o cantor em entrevista.
Resta dizer que é questão de tempo para que o Brasil se junte ao resto do mundo e se renda ao charme do coelhinho mal. E você, já deu uma chance para o artista?