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Dandara Rudsan é de Altamira, interior paraense, onde organiza a mobilização climática, pela terra e contra o tráfico
Resumo
Ela é cria das palafitas e reassentamentos na região da controversa Usina Hidrelétrica de Belo Monte, onde haverá em breve uma empresa canadense explorando ouro. Ativista ajuda a organizar o Fórum Popular de Lideranças do Médio Xingu por Justiça Climática e Ambiental. Não estão convidados para a COP 30, mas vão se fazer presentes.

Dandara Rudsan, advogada e articuladora pela preservação do meio ambiente no interior do Pará.
Foto: Arquivo pessoal
Enquanto Belém se prepara para sediar a COP 30, no interior do Pará, quem luta pelo meio ambiente arrisca a própria vida. É o caso da travesti preta Dandara Rudsan, 35 anos, que vive escondida e usa colete à prova de balas após receber ameaças de morte.
“Quem nasceu na Amazônia, a primeira luta é para existir no território”, afirma Dandara, de família ribeirinha de Altamira, onde foi construída a controversa Usina Hidrelétrica de Belo Monte, inaugurada em 2016.

RUC Água Azul, um dos reassentamentos mais afastados do centro de Altamira, de onde vem Dandara Rudsan.
Foto: Reprodução
Os impactos da Usina na região da chamada Volta Grande do Xingu misturam crise climática, disputa por terra e a violência do tráfico, que usa os rios como rotas. Após a COP 30, a mineradora canadense Belo Sun planeja iniciar a exploração de ouro na área.
“Em Belo Monte, queriam água. Agora são mais de 600 toneladas de ouro. Os direitos das comunidades precisam ser garantidos”, cobra Dandara. Há um ano, ela denunciou compra ilegal de terras e foi ameaçada de morte. “Tento cuidar da saúde mental em meio a tudo isso.”

Caminhão-pipa abastece o RUC Laranjeiras, em Altamira, com fornecimento irregular de água.
Foto: Soll/Sumaúma
Reassentamentos precários estão na periferia de Altamira
Dandara Rudsan cresceu nas palafitas de Altamira. A família, atingida pela construção da Usina de Belo Monte, foi deslocada para um Reassentamento Urbano Coletivo (RUC). Na época, ela voltava a morar em casa, aos 21 anos, vinda de Tocantins, onde havia se formado em Direito e transicionado.
“As casas de placas de concreto eram horríveis, quentes, pequenas, racham, as paredes não aguentam redes, uma característica da vida ribeirinha. Olha o paradoxo: estamos ao lado do rio Xingu e a água é o maior problema. O Laranjeiras chega a ficar quinze dias sem água. São abastecidos por caminhão pipa, a frequência varia.”
Há reassentamentos a 20 quilômetros do rio Xingu. O maior, RUC Jatobá, tem 15 mil famílias. Laranjeiras e Água Azul estão na periferia da cidade – neste último mora a família de Dandara. Quando ela voltou da faculdade, não ficou por muito tempo: seu pai a expulsou de casa por causa da orientação sexual.

Mulheres do RUC Jatobá, onde moram 15 mil famílias deslocadas de bairros de Altamira para o reassentamento.
Foto: Reprodução
Morando na rua, ativista adquiriu “bagagem”
Durante dois anos em situação de rua, Dandara tem um “encontro genuíno” com a comunidade LGBT. “Aprendi que o álcool segura a fome, o frio, conheci a política de redução de drogas, entendi a importância do acolhimento. Adquiri bagagem”, resume.
Ia em reuniões de movimentos sociais para comer. Em uma delas, se ofereceu para fazer a inscrição de um edital. Afinal, era formada em Direito. Conseguiu captar R$ 100 mil para um projeto de prevenção ao genocídio de jovens negros.
Descobre-se captadora de recursos. “Volto para a agenda da terra cruzando o tema com LGBT, racismo, moradores de rua, usuários de drogas”. Vida retomada, neste momento Dandara articula comunidades ribeirinhas para a COP 30. “Não acreditamos que teremos espaço na programação, estamos organizando espaços alternativos.”

Líder comunitária, de coletivo de mulheres negras e de reassentamento no lançamento do Foclimax, em maio.
Foto: Divulgação
Ativistas do interior preparam mobilização paralela à COP 30
Com a aproximação da COP 30, comunidades periféricas e interioranas do Pará se mobilizam por visibilidade. Em Belém, acontecem a COP das Baixadas e a Cúpula dos Povos. Em Altamira, Dandara e outras ativistas organizam o Fórum Popular de Lideranças do Médio Xingu por Justiça Climática e Ambiental (Foclimax).
“As dificuldades para entrar nos espaços oficiais são enormes. Nossa estratégia será atuar com projetos paralelos e manifestações de rua.” A meta é mobilizar 300 comunidades, entre lideranças ribeirinhas, indígenas, negras, ambientalistas.
Em novembro, percorrerão quase mil quilômetros até Belém, de ônibus. Por enquanto, Dandara continua morando em local secreto, sob proteção de uma rede de apoio, e deve levar seu colete à prova de balas na bagagem quando embarcar para a COP 30.