Acusados pela morte de ex-vereadora de Piracicaba vão a júri popular em novembro

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O assassinato ocorreu em 7 de abril de 2021. A Polícia Militar informou que o corpo foi encontrado por volta de 12h30 na casa da vítima, no bairro Vila Sônia, com ferimentos no rosto.

Segundo o boletim de ocorrência, um vizinho localizou o corpo no sofá da sala. Ele relatou aos policiais que tinha a chave do imóvel, já que sempre frequentava a casa dela, mas, ao chegar no local, encontrou o portão da frente somente encostado. Foi ele quem acionou a polícia.

Na época da localização do corpo, a EPTV, afiliada da TV Globo, teve autorização da família para entrar na casa. No local, um quadro com uma foto da Madalena da época em que era vereadora foi encontrado todo quebrado, além de papéis espalhados pelo chão.

 Polícia Civil de Piracicaba prendeu três homens suspeitos de matar ex-vereadora, em abril de 2021

ARQUIVO: Polícia Civil de Piracicaba prendeu três homens suspeitos de matar ex-vereadora, em abril de 2021

Desentendimento sobre liderança comunitária

Nove dias após o crime, policiais da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba divulgaram o esclarecimento do assassinato. Segundo testemunhas, um dos acusados estaria se desentendendo com Madalena porque queria ocupar o lugar dela na liderança comunitária do bairro.

De acordo com a Deic, os dois crimes ocorreram no bairro Boa Esperança. No dia 10 de abril, o trio foi preso com 92 porções de cocaína e R$ 430 em espécie. No mesmo dia, segundo a polícia, dois deles confessaram que são os autores do homicídio de Marquinhos, e alegaram que agiram em legítima defesa.

Durante a prisão, as equipes também localizaram com dois suspeitos um paletó, uma gravata, um molho de chaves e um lenço, todos pertencentes a Madalena, que foram reconhecidos por seus familiares, informou a Deic.

Trio apontado como autores do homicídio contra Madalena já havia sido preso pelo assassinato de outro homem, no mesmo bairro — Foto: Polícia Civil

No dia do crime, segundo a apuração policial, um dos acusados chamou Madalena, que abriu o portão e foi segurada pelo pescoço por outro réu, enquanto o terceiro passou a revistar a casa procurando por dinheiro e demais objetos de valor.

Em certo momento, Madalena teria conseguido se soltar, mas um dos homens desferiu vários golpes de facão na cabeça da vítima, que morreu.

Na época, a Deic investigava uma denúncia informal de que Marquinhos teria sido executado porque estava comentando pelo bairro que dois dos presos seriam os autores do assassinato de Madalena. Não foram divulgadas atualizações sobre a apuração.

Também não foram divulgadas as identidades dos três acusados.

Sala da casa onde a ex-vereadora Madalena foi encontrada assassinada em Piracicaba — Foto: Felipe Boldrini/EPTV

Familiares de Madalena encomendaram camisetas com a foto dela e com uma mensagem para cobrar justiça no caso.

A intenção é usar essas camisetas no dia do júri popular, que está marcado para as 9h do dia 19 de novembro, no Fórum de Piracicaba.

A data do júri foi confirmada ao g1 pelo promotor Aluísio Antônio Maciel Neto.

Quadro com foto da ex-vereadora Madalena encontrado quebrado na casa dela, em Piracicaba, após assassinato — Foto: Felipe Boldrini/EPTV

Primeira vereadora travesti

Madalena foi eleita vereadora nas eleições de 2012, quando recebeu 3.035 votos e teve o segundo melhor desempenho do PSDB nas eleições. À época, ela já somava 25 anos como líder comunitária e era considerada um ícone na cidade.

Madalena trabalhou desde a adolescência como cozinheira e faxineira em casas de família e repartições públicas. Como líder social, foi presidente do centro comunitário do bairro Boa Esperança e foi candidata a vereadora quatro vezes (1988, 2004 e 2008 e 2012), obtendo os votos suficientes para se eleger no último.

"Quando me olho no espelho eu vejo um homem corajoso", disse Madalena ao experimentar o terno para posse na Câmara em Piracicaba — Foto: Thomaz Fernandes/G1/Arquivo

Madalena ficou famosa em Piracicaba pela irreverência e pelo visual: negra, com quase 1,80 metro de altura, nasceu em um corpo masculino, mas já usava roupas femininas desde adolescente. Quando questionada sobre ser chamada de travesti, gay, homossexual, ele ou ela, disse que sempre quis ser conhecida por seu trabalho comunitário, e resolveu usar terno na posse de vereadora.

"Para mim tanto faz a maneira como me chamam. Quando eu me olho no espelho, vejo um homem de muita coragem. Vou usar terno e gravata na posse e quando precisar durante as reuniões. Ainda não sei se vou usar meus lenços ou fazer tranças no cabelo, mas vou continuar a ser a mesma Madalena de sempre", disse à época, enquanto escolhia o modelo para a posse.

Ela passou a ser chamada por Madalena quando tinha 15 anos, já assumida como homossexual. "Eu trabalhava de faxineira com a minha mãe em uma república chamada 'Canecão' e os moradores fizeram um concurso para escolher um nome de mulher para mim. Aí ganhou Madalena. Eu gostei e ficou o nome", contou.

ARQUIVO: Madalena experimenta terno antes da posse como vereadora de Piracicaba — Foto: Thomaz Fernandes/G1

Nas eleições seguintes, ainda em 2016, ela desistiu da candidatura à reeleição. A decisão foi informada por meio de carta, enviada à presidência do partido tucano. Ao g1, a parlamentar apontou problemas de saúde e agressões racistas e homofóbicas sofridas nas redes sociais durante a gestão no Legislativo como alguns dos motivos para não continuar na carreira política.

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